Paulo Martins Versão para impressão
Sexta, 10 Outubro 2014

paulo martinsNo dia 3 de outubro de 2014 morreu Paulo Matins, líder histórico da esquerda, da UDP, do Bloco e da Esquerda na Madeira. Mais do que uma recolha de notas biográficas em tom de merecida homenagem, importa descobrir da vida do nosso camarada as razões e a força que nos põem sempre na frente desta longa batalha pela democracia e pelo socialismo.

 

Artigo de Joana Mortágua

 

Foi enquanto jovem estudante de medicina em Lisboa que Paulo Martins tomou contacto com os movimentos contra a ditadura e a guerra colonial, antes de regressar à Madeira para uma intensa vida política em defesa do povo da sua terra no pós-revolução.

Em junho de 1974 foi co-fundador da União do Povo da Madeira (UPM), formada a partir do jornal Comércio do Funchal e de elementos do Centro de Cultura Operária. Em 1975 foi candidato à Assembleia Constituinte pela FEC-ML, movimento que junto com a UPM viria a dar origem à UDP na Madeira.

Em março abril de 1976, Paulo Martins assumiu a sua adesão à UDP no seu 2.º Congresso, realizado no Coliseu dos Recreios em Lisboa, numa intervenção notável que ombreou com a do padre Max, candidato da UDP pelo círculo de Vila Real que, poucos dias depois, seria assassinado à bomba, em 2 de Abril de 1976.

A partir daí, sempre batalhando pela aliança entre comunistas, católicos e outros setores populares nas listas da UDP Madeira, o Paulo liderou as candidaturas que durante muitos anos o elegeram a ele e a outros camaradas para a Assembleia Legislativa da Madeira.

Enquanto deputado, será sempre recordado por ter apresentado importantes iniciativas em defesa da autonomia, com contributos inestimáveis sobre o estatuto autonómico, mas também sobre o projeto de incompatibilidades que pretendia impedir os deputados do PSD de acumular as suas funções com os negócios privados, lei que viria a ser aprovada na Assembleia de República por iniciativa do Bloco de Esquerda e que o Tribunal Constitucional vetou.

Ficou também conhecido pelo longo trabalho desenvolvido, juntamente com a companheira de vida, Guida Vieira, sobre o trabalho das bordadeiras de casa, com propostas que venceram na ALM e acabaram por vencer na Assembleia da Republica. Pela primeira vez as bordadeiras tiveram um regime de trabalho e essa lei tem a sua assinatura.

Paulo Martins destacou-se pela ousadia da luta permanente contra Alberto João Jardim, o que lhe valeu um enorme número de processos judiciais. No combate à mono informação do regime jardinista fez um extraordinário trabalho de colunismo jornalístico, escrevendo todas as semanas ao longo de décadas.

A luta pela democracia na Madeira confunde-se com Paulo Martins. Foi essa luta e a constante denuúcia do jardinismo que lhe valeram a Comenda da Liberdade, pelas mãos de Jorge Sampaio.

Enquanto homem, Paulo é lembrado por ter uma mente irrequieta, cultural, sedenta de informação, e por ser dono de uma enorme curiosidade intelectual que o levava a acompanhar todos os temas da modernidade, da cultura à política e à ciência.

Foi um artífice de todas as lutas da oposição ao jardinismo mas cuidou sempre do campo popular e revolucionário, e nisso foi coerente com uma longa vida militante. Operou a transição da UDP Madeira para o Bloco de Esquerda, sugerindo numa fase concreta uma bem sucedida aliança eleitoral entre a UDP e o BE que elegeu dois deputados nas eleições regionais de 2000.

Entre tantas estórias que ouvi e que mereciam ser contadas sobre Paulo Martins, destaca-o o episódio em que foi convidado ao Congresso do ANC após libertação de Nelson Mandela, na fase de transição da África do Sul para a democracia anti-apartheid. Dirigindo-se à enorme colónia madeirense, Paulo Martins fez a sua intervenção em defesa da democracia e da sociedade plurirracial e pela integração dos madeirenses numa nova sociedade sul-africana em democracia.

A coragem política, pessoal e física de Paulo Martins permanece como uma referência para quem o acompanhou em tantas lutas pela liberdade e pela democracia. Para as novas gerações de lutadores, que ouvirão falar dele com respeito e admiração, fica o exemplo de quem foi capaz de fazer a luta onde ela era mais necesessária e mais difícil.

Joana Mortágua

 

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