Brasil, 25 de novembro: espaço para convergir agendas |
Terça, 25 Novembro 2014 | |||
A cada doze segundos uma mulher é violentada no Brasil. É o tempo de ler esta frase.
Artigo de Carolina Peters, membro do Diretório Nacional do PSoL (Brasil)
Uma desconhecida, uma amiga, eu ou você. Mais uma de nós. Em um ranking de 84 países, apresentamos a sétima maior taxa de femicídios: o assassinato de mulheres por razões de gênero, muitas vezes levados a cabo por seus próprios companheiros. Por aqui, ainda se fala em "crimes passionais", uma triste alusão às noções de afeto e histórias de "amor" ainda hegemônicas em nossa sociedade, e que formam meninas para a dependência emocional e econômica, a submissão, o medo. Engana-se quem pensa que agressores de mulheres sejam monstros ou seres de outro planeta. Passam despercebidos nas ruas, alguns jogam futebol aos domingos e, eventualmente, é até aquele seu amigo muito afável, que nunca imaginaria que bate na mulher. Mas bate. Parece uma contradição gigantesca que um quase consenso na sociedade seja tão próximo e corriqueiro. Não é preciso ser de esquerda para se incomodar e repudiar a violência física contra as mulheres. Até o Banco Mundial endossa campanhas publicitárias de grande alcance sobre o tema. Aliás, é notório que a violência doméstica seja um dos principais motivos de afastamento das mulheres de seu ambiente de trabalho. Mas o significado do 25 de novembro é maior do que a reivindicação estrita de nossa integridade física e emocional. Lutar por uma vida sem violência é lutar pelo nosso direito de existir enquanto seres autônomos. Por isso, ao redor do globo, saímos às ruas para afirmar que somos donas de nosso próprio destino e capazes de escrever nossas histórias. A afirmação de que "o pessoal é político" é possivelmente o grande trunfo do feminismo, e contribuição fundamental dos movimentos de mulheres latino-americanos à crítica do modelo de democracia liberal. Pautar a violência doméstica e o controle sobre a vida e a sexualidade das mulheres como problemas coletivos e não individuais, de ordem política, é demonstrar como o contrato social que permite as liberdades públicas para uns necessita da submissão de outras no espaço privado. Dentro de um sistema onde o exercício da cidadania depende da autonomia individual, quem é privada (ou privado) dos espaços de poder e direitos sociais está sempre alguns passos atrás. Como pensar em democracia política sem inclusão social? Sem ampliação de direitos? E indo um pouco mais além, como pensar em ativismo político sem que metade da classe trabalhadora se reconheça enquanto indivíduo e sujeito político? Chegando ao fim do primeiro mandato da primeira mulher presidenta do Brasil; passados 50 anos do golpe que instaurou a ditadura civil-militar no Brasil, ainda damos passos tímidos rumo à democracia e à igualdade entre os gêneros. Que o 25 de novembro seja também uma data para que as esquerdas reflitam sobre o lugar da pauta das mulheres na agenda política e sobre a impossibilidade de avanço de qualquer luta sem o engajamento militante das mulheres. Carolina Peters membro do Diretório Nacional do PSoL (Brasil) Violência de Género no Reino Unido: o caso Júlia Violência de Género: não ao fatalismo! Não à anestesia! imagem: Ato unificado dia Internacional das Mulheres SP. Ninja Midia.
|
A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação" | ISSUU | PDF | Revistas anteriores
Karl Marx