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Domingo, 29 Março 2009
A democracia liberal tem sido utilizada, ao longo das últimas décadas como um troféu do capital, perante a propalada falta de democracia do modelo de partido único existente no socialismo real. Ao cinzentismo do socialismo real era contraposto a paleta de cores do capitalismo, dourado pelos direitos individuais e a tão propagada democracia. Uma pessoa, um voto: o poder repartido com igualdade por toda uma sociedade. Um pretenso desprendimento que valoriza o exercício individual de poder.

Os valores inerentes à opção pela democracia, contudo, estão bem longe de quaisquer ideias humanistas ou igualitárias. A democracia apresentou-se como a alternativa à ditadura, apresentando melhores resultados na difusão do modelo capitalista, mas, nada mais. Apenas esta prática calculista que visa a contínua acumulação e hegemonização do capital.

Dizem-nos livres, iguais, independentes para escolher, numa sociedade em que os meios de comunicação social são detidos pela classe dominante, em que o pensamento único procura privar-nos de pensamento, onde a participação que desejam para nós se esgota no acto de colocar o voto na urna, onde um programa eleitoral é apenas promessa de namoro que se rasga após o casamento.

A visita de José Eduardo dos Santos demonstra bem como, na verdade, a democracia é completamente acessória para o capital. O que interessa são as possibilidades de negócios, a acumulação fácil, acima de quaisquer outros valores. As palavras de Marx sobre a forma como a perspectiva do lucro inebria e a tudo se sobrepõe são conhecidas e sempre actuais.

A imagem da recepção de Eduardo dos Santos na Assembleia da República demonstra bem a consideração que este poder político tem pela democracia, apesar de legitimado por ela. A casa da democracia recebeu, com pompa e circunstância, um líder imposto pela força, cujas práticas são sobejamente conhecidas e, em nenhum manual, por muito permissivo que seja, podem ser consideradas democráticas. Principalmente, porque nunca foi eleito. Mas isso, obviamente, é completamente acessório, só relevante para uso retórico, num qualquer chorrilho demagógico.

O trabalho da esquerda terá de ser elevar a democracia: de representativa, terá de passar a participativa, tornando-se pulmão da construção socialista.
Texto de Pedro Filipe Soares 
 

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