Crescer por crescer, é o objectivo da célula cancerosa |
Terça, 09 Novembro 2010 | |||
É praticamente unânime junto dos economistas que o crescimento económico é a única força capaz de tirar os pobres da pobreza, de alimentar a crescente população mundial, de gerar emprego, enfrentar os custos dos gastos públicos e de estimular o desenvolvimento tecnológico; isso sem mencionar o financiamento de estilos de vida cada vez mais caros. É assim que nos últimos 250 anos isto aconteceu:Fonte:New Scientist (18 October 2008, p 40)
Não é preciso ser cientista para ver que será impossível continuar assim, ou simplesmente, muito perigoso. Apesar do crescimento fenomenal que temos tido nesses últimos 250 anos, a pobreza e a desigualdade social atingem proporções aberrantes. No fundo, todo este crescimento beneficia uma pequeníssima parte da população em detrimento da sua maior parte, a qual é a primeira também a sofrer e a morrer devido aos problemas ambientais que se vão multiplicando.
Entrámos num período de crise, entre as múltiplas e cíclicas crises provocadas pelo capitalismo, e neste momento o que é anunciado como imprescindível é mais crescimento. Igualmente, depois de algum “tempo de antena” que a questão ambiental teve nas agendas, estas parecem ter perdido algum fulgor perante a grave crise económica e social que vivemos. Teremos perdido espaço para colocar de forma determinada esta dimensão sobre a mesa? Será que basta dizer “No Cuts, More Growth”? É fundamental precisar que crescimento é esse que a esquerda defende. Perante uma crise sistémica que vivemos, é importante apontar caminhos integrados que coloquem, em simultâneo, as dimensões ambientais, sociais e económicas. A nossa principal medida de “progresso”, o PIB, não mede nem a destruição ambiental nem a desigualdade. Não contabiliza a redução do capital natural do planeta, contabiliza como positiva a poluição que exige grandes programas de recuperação, e na realidade apresenta-nos apenas a média nacional de intensidade de uso da máquina produtiva. O motor principal dos investimentos privados, o lucro, age contra ambos: tem tudo a ganhar com a extração máxima de recursos naturais, a externalização de custos e a exploração. Por isso, o conceito actual de crescimento só serve o capitalismo. O capitalismo produziu uma crise sistémica e responder a esta tem também de ser no âmbito sistemico e estrutural. Não há espaço para um capitalismo verde, de cara lavada, porque o código genético do capitalismo é a procura indefinida do lucro, num curto espaço de tempo, à custa da perda de recursos e da exploração. O conceito de Decrescimento é um conceito que nos últimos anos tem ganho adeptos. No entanto, este tem dificuldades em criar um projecto de sociedade. Mais defendido por grupos ecologistas, e em países como a França, mas também nos Estados Unidos com os grupos da “simplicidade voluntária” que podem correr o risco de serem interpretados como algo reaccionário, anti-progresso e alienante. Há sectores da economia que têm necessariamente de decrescer, mas outros devem crescer. Precisamos de decrescer, efectivamente, em determinadas áreas e indústrias, por exemplo: no consumo de energia, na produção de automóveis, na produção de coisas inúteis, e mudar padrões de produção e consumo, reformular o funcionamento e as prioridades da economia no sentido de inverter a marcha da destruição do planeta e consequentemente, da vida das pessoas e reduzir a desigualdade acumulada: ou seja, mudar tanto as relações de produção, como as condições de produção. Para reorganizar a economia precisamos de uma mudança nas prioridades, reorientando o investimento para uma produtividade sistémica – económica, social e ambiental - medindo a qualidade do que se produz, para quem e com que custos sociais e ambientais. É importante reforçar e democratizar o Estado e a gestão pública, pois que o redireccionamento do investimento depende de uma vontade política pública, e nunca surge expontaneamente do mercado. Mas é necessário também reforçar fortemente os processos de participação e descentralização, promover politicas sociais de redistribuição aumentando a capacidade económica da parte mais pobre da população já que em termos económicos dinamiza a micro e pequena produção; assegurar o direito a ganhar a vida e promover uma redistribuição social da carga de trabalho e redução da jornada de trabalho, o que significa mais tempo livre para todos (o que poderá vir a ser, certamente, um dos critérios de um índice que contabilize o progresso). Senão inserirmos definitivamente e de forma integrada as questões ambientais agora, vamos fazê-lo quando? Os movimentos ecologistas têm ganho adeptos em várias partes do mundo. A crise ambiental é um drama muito concreto na vida das pessoas e tem um forte potencial para colocar em xeque o capitalismo. Rita Silva O título do artigo é um banner colocado por alunos de uma universidade,em São Paulo, à entrada de uma conferência de economia.
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação" | ISSUU | PDF | Revistas anteriores
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