A táctica da estratégia ou vice-versa Versão para impressão
Segunda, 06 Setembro 2010

O PS defronta-se hoje com um magno problema: ter que apoiar uma candidatura que se levanta contra o mercadejar do bloco central e, simultaneamente, ver essa candidatura  protagonizada por um homem saído das suas fileiras, um fundador, uma referência do campo democrata não revolucionário, o mesmo campo a que o PS já pertenceu o que torna ainda mais violento o cotejo.

Artigo de Mário Tomé

 

Ainda mais quando esse candidato, depois de ter perdido no interior do partido o confronto com Sócrates para secretário-geral tenha, pouco tempo depois, confrontado o candidato oficial do PS, Mário Soares,  provocando um verdadeiro terramoto no eleitorado socialista ao obter  20,74 % contra os 14,31% de Mário Soares:  o pai legítimo do PS, sua referência sentimental e política, cobertura de esquerda institucional, serôdia e trapalhona  e legitimador solene das políticas dos governos PS que lhe sucederam.

   A situação é, reconheça-se, pouco simpática; ainda mais quando, depois de muito meditarem durante quatro meses, Sócrates e seus acólitos foram apoiar Alegre já manchado pelo apoio espúrio do BE, aliás decidido atempadamente, mal Alegre comunicou a sua decisão de se candidatar.

   As virgens do costume ficaram tremebundas: o BE ia comprometer a candidatura de Alegre com o seu apoio franco, sincero e coerente depois de três anos de convergência na linha da unidade das esquerdas desinibidas e livres.

   Outros, com ideias de esquerda bem assentes, acham, pelo contrário, ser  Alegre quem  compromete a  posição de partido de referência de esquerda socialista que o BE conquistou.

   Ao apoiar um candidato que, via-se, o PS estava obrigado a apoiar –  por não ter ninguém para enfrentar Alegre nem  poder confessar a preferência pelo tutor do bloco central -  o Bloco entregar-se-ia nas mãos do governo, incapaz de prosseguir a, agora sim, gloriosa, luta que tem travado.

   Outros ainda, como Medeiros Ferreira, estratego do flop PRD, apoiante de Alegre contra Sócrates nas eleições internas e de Sócrates/Soares contra Alegre nas últimas presidenciais, perdidos na confusão, atribuem ao BE o calculismo do reles apoio táctico contra o que seria a posição natural,  estratégica!, do PS ao apoiar quem não quer.

    Salve-se então tacticamente a imagem, já que estrategicamento o chão lhes foge debaixo dos  pés.

Marcando o calendário analítico e a temperatura política em Celsius e Fahrenheit a classe dos politólogos (que seremos nós, pobres de Job, que apenas nos limitamos a militar numa força política capaz de gerar apoios, entusiasmos, propor programas políticos alternativos baseados na análise das condições materiais, objectivas e subjectivas, da cidadania em geral, com as armas da ética e da dialéctica da história?...) mostra como Cavaco ganhará se Alegre perder e Alegre perderá se Cavaco ganhar, tudo dependendo de tudo menos da política.

Flutuando na espuma dos dias surge ainda um grupo de estrategos abaixo-assinados: os que consideram que «num panorama político que nega as aspirações socialistas de 75 e os melhores momentos das mobilizações de rua dos últimos anos» é necessário «ir além do actual leque de escolhas, ou falsas escolhas, se se quiser que a realidade da luta encontre, também nestas eleições e depois delas, uma expressão política.» (sic) 
 
Um panorama político, sustentado  (só não mais graças à acção e resultados do BE, pois o PCP tem vindo a perder votos para a AR e as autarquias com algumas oscilações que não escondem a tendência geral desde 1983) pela expressão política da esmagadora maioria dos cidadãos, que no entanto não deixam de mobilizar-se e de lutar promovendo «os melhores momentos de mobilização de rua». 
Desde 1976 tem sido assim. Em 1980 a «afirmação política», seis anos e meio depois do 25 de Abril e quatro anos e meio depois de  Otelo ter tido16,4% levou a que o mesmo Otelo  tivesse 1,49 % ! 
A realidade da luta tem de encontrar uma expressão política, decerto.

    
Portanto é preciso dar garantias de que a expressão política da luta é capaz de «num panorama político que nega as aspirações socialistas de 1975 e os melhores momentos...» ganhar a cidadania para a resposta mais eficaz que garanta passos em frente e assegure a abertura para novas esperanças consolidadas tendo em conta o estado de consciência dessa mesma cidadania.

     A expressão política do Bloco, tendo já um apoio considerável, não é a expressão política actual da massa que há-de ser a base crítica para as grandes tansformações sociais que o Bloco, ao memso tempo que ganha espaço nas reformas, não deixa nunca de propor e de caracterizar.

   O movimento que vai crescer no apoio à candidatura de Alegre e seus sinais de futuro  apreensíveis pela grande maioria da esquerda social, responderá à necessidade sentida por uma vasta camada da cidadania de, para além de uma alternativa que entrevêem e reconhecem, encontrarem algo forte e com capacidade para a porem em prática.

   Apesar de estarmos numa época de pós-leninismo e pré-revolução,arrisco-me a dizer que  Lenin talvez não dissesse melhor; passe a farronca irónica e bem disposta, apenas para sublinhar o óbvio. 

 

 

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