Wikileaks: a estratégia de diversão política continua Versão para impressão
Terça, 21 Dezembro 2010
A revista norte-americana Times elege desde 1927 a “ Figura do Ano”. A decisão passa pela contagem dos votos submetidos pelos seus leitores. Este é um prémio que, ainda que tal como a revista afirma seja desprovido de algum tipo de estudo académico, acaba por influenciar em larga medida a opinião pública. É um prémio com bastante peso na Sociedade e a controvérsia em torno do mesmo não vem de agora visto que homens como Hitler e Estaline já foram galardoados com o mesmo. No entanto, na última década a transparência desta supostamente conceituada publicação tem vindo a decrescer. Ora, o precedente abriu-se quando a escolha dos eleitores não agradou a redacção e muito menos o Governo liderado por Bush – Bin Laden foi, em 2003, eleito pelos cibernautas como a “Figura do Ano”. À data, e devido ao “ferido orgulho americano”, a revista preferiu atribuir a menção honrosa a Rudolph Giuliani – o presidente da câmara de Nova Iorque que lutava de forma acérrima contra os terroristas e que lidou com os atentados de 11 de Setembro. Este ano a revista optou por, novamente, ignorar a votação dos seus leitores e atribuir o prémio a Mark Zuckerberg (o mais jovem bilionário do Mundo, e criador do Facebook), que apenas logrou ficar em décimo lugar na votação online em detrimento de Julian Assange que foi o preferido dos votantes com cerca de 382.026 votos.

A propaganda política e, consequentemente, a manipulação dos meios de comunicação de massas é, na política moderna uma das mais importantes armas na formatação da mentalidade das massas. O caso Wikileaks marca o ano que agora finda, e o seu fundador Julian Assange, é uma figura que desperta ora respeito ora ódio dependendo de que lado da barricada nos posicionamos.

Historiadores vieram a público exaltar a publicação de milhares de documentos ultra-secretos que serão valioso material de estudo. A opinião pública, ou pelo menos parte dela, regozija com a descoberta de alguns dos segredos da diplomacia norte-americana e da sua ligação com as mais importantes potências mundiais. Este é o lado que votou em Julian Assange para “Figura do Ano”.

Do outro lado, encontram-se os críticos que desde logo se insurgiram com a necessidade de certos assuntos se manterem no secretismo e no íntimo de cada embaixada e de cada diplomata. O medo instalou-se nas hostes norte-americanas e o criticismo daqueles com quem tantos faxes e emails foram trocados, surgiu aquando da publicação da primeira fornada de documentos ultra-secretos. Washington não é leigo e apercebe-se perfeitamente das consequências que este furo jornalístico, como o próprio Assange parece acreditar que o seja, poderá trazer nas relações inter-estatais e diplomáticas com os seus “aliados”. É nesta altura que entra em acção a propaganda, a manipulação, e o desvio de atenções. Primeiramente é criado um circo tentando abater a credibilidade de Assange com as acusações de violação por parte de duas suecas, dando-se a sua prisão. Agora, e quando a opinião pública falou e elegeu o australiano como “Figura do Ano”, a revista Times deprecia a importância do mesmo e ofusca-o exaltando por outro lado Zuckerberg – uma espécie de self-made man, filho-pródigo de uma América enterrada na sua própria crise.

Desengane-se quem possa pensar que meras tentativas de diversão poderão retirar o peso que Assange conquistou este ano. Concorde-se ou não com aquilo que este fez, a verdade é que um simples homem foi capaz de mexer com a ordem internacional e mexer no baú dos mais poderosos países do Mundo. A novela não parece ficar por aqui, enquanto o caso Wikileaks abre novos capítulos. Assange prometeu mais documentos. A Casa Branca não dorme. O que virá a seguir na novela de manipulação política da opinião pública?

Cláudia Ribeiro

 

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