Precários nos querem, rebeldes nos terão |
Sábado, 12 Março 2011 | |||
“E fico a pensar, que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar” é a premissa levantada pela mais recente música dos Deolinda. O frenesim causado por versos como este causou desde logo a natural e rápida propagação da mensagem veiculada e, facilmente, conseguiu recolocar na ribalta os problemas com os quais a geração mais instruída que Portugal já conheceu se debate aquando da incursão no Ensino Superior e/ou posteriormente, na entrada no mercado precário (e existe outra definição no actual momento?) de trabalho. O ano de 2010 foi um ano marcante e decisivo na “viragem” política para um modelo de cariz neoliberal que visava privatizar o Ensino em Portugal e que retirava os direitos tidos pelos estudantes como universais com as “conquistas de Abril”. O decreto-lei 70/2010 veio agravar a por si só complicada situação financeira daqueles que almejam obter qualificações no deturpado modelo de Ensino promovido pelo Processo de Bolonha. Os críticos da minha geração, da geração desemprecária, atribuem as culpas aos jovens. Os argumentos são vários – falta-nos espírito de aventura, empreendorismo, audácia, ou somos simplesmente comodistas. As assumpções que os liberais e os “altos quadros” da Sociedade Portuguesa fazem estão bem patentes em reportagens como aquela que foi transmitida pela SIC na passada semana. Para além dos argumentos que já referi, a minha geração era acusada de ser fútil, de não se contentar com um qualquer emprego abaixo das suas qualificações, por se importar cada vez mais com aqueles que foram os direitos que os nossos pais e avós conquistaram. E qual é o problema em exigir reconhecimento pelas capacidades obtidas após anos de estudos? Melhor ainda, é errado querer preservar as conquistas dos que lutaram antes de nós? Por último, utilizam as estatísticas. Felizmente que nos cabe a nós analisá-las e não apenas “engoli-las” como se dados adquiridos se tratassem, ora não fosse esta uma das mais importantes armas de arremesso propagandístico da era Sócrates. Dizem as estatísticas que os diplomados em Portugal não correm tantos riscos de ficar sem emprego como aqueles que não seguem o seu percurso académico e que, por este motivo, o verso popularizado pelos Deolinda é pura demagogia. Infelizmente, a teoria elaborada pelos mesmos incorre ela mesma na demagogia bacoca ao afirmar que o relevante é haver empregabilidade independentemente das condições laborais existentes. O erro é negligenciar e menosprezar os trabalhadores a recibos verdes, aqueles que estão vinculados a contractos temporários, os estágios não remunerados – basicamente a abnegação de quaisquer direito laboral e o surgimento de uma classe explorada (e quando digo explorada digo-o na verdadeira acepção da palavra) às mãos de uma classe burguesa que quer mão-de-obra barata e ao mesmo tempo instruída. A rede de interesses montada ao longo dos últimos anos pelos consecutivos governos PS/PSD incorreu recorrentemente no erro de exaltar a necessidade da formação académica atingir níveis como aqueles verificados no resto da União Europeia. A hipocrisia está patente aquando da obtenção de resultados favoráveis relativamente àquilo que afirmavam. É aqui que o jogo político muda e a preocupação dos nossos governantes se demonstra nula quando deparados com os problemas desta geração desemprecária. Os sucessivos PEC’s, as alterações no Código Laboral, a falta de incentivo e a não-intervenção no mercado de trabalho obsoleto são sinais claros da política seguida pelo PS – a busca incessante por lucro das altas patentes em detrimento dos direitos daqueles que sempre foram catalogados como o “futuro do País”. É por estes, e por tantos outros, motivos que a luta é necessária. Mais do que uma luta dos estudantes ou de uma luta dos desemprecários, chegou a hora da formação de uma frente unida, que cubra todos aqueles que têm vindo a ser lesados pelas políticas neoliberais do governo de Sócrates. Seja um protesto sob a égide da “Geração à Rasca” ou sob qualquer outra denominação como diria uma célebre música do Bloco de Esquerda, “Está na Hora de fazer a Luta toda!”. Isto porque “Precários nos querem, Rebeldes nos terão!”. Cláudia Ribeiro
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A Comuna 33 e 34
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