“Se um dia for preciso ultrapassar uma situação grave no país, nós estaremos cá para enfrentar esse problema. Daqui até lá é tempo do Governo governar, não é tempo de andarmos a falar de crise política”. É com esta afirmação, repetida nos últimos dias para dentro do partido, com que Passos Coelho tem tentado acalmar os ânimos de algumas hostes do PSD. E as coisas não estão muito fáceis. Depois de anunciada a moção de censura ao Governo do Bloco, a 11 de Fevereiro, o antigo candidato à liderança do PSD, Aguiar Branco foi o primeiro a defender que a única remodelação eficaz, e do interesse nacional, era a do Primeiro-ministro, e com isso a dizer que a moção tinha razão de ser. No mesmo dia o líder da bancada, Miguel Macedo, remetia para dali a um mês a decisão sobre o voto na moção, e sublinhava que o PSD ia avaliar esta situação com ponderação, frieza e responsabilidade, e “no momento próprio, quando a questão se pusesse", manifestar-se-ia. Mas a indefinição não servia ao PSD. Sobretudo depois das pressões do PS, e do PCP ter deixado em aberto o apoio a uma moção social-democrata. E quatro dias depois e estava desfeito o mistério: o PSD anunciava a sua abstenção. "Ainda é tempo do Governo governar", afirmou Passos Coelho, salvaguardando que "se o país chegar a um beco sem saída, o PSD arranjará saída para a situação". Miguel Macedo referia os “resultados” da acção do actual Governo que ainda devemos “esperar”, para logo o líder da bancada socialista, Francisco Assis tratar de desenganar os mais iludidos: “tanto o Executivo como o Partido Socialista prosseguirão no caminho que têm vindo a prosseguir”. Que surpresa. O PSD não esperou pelo texto, como tinha afirmado na primeira reacção, nem pelo tal “momento próprio”, nem mesmo lhes bastou que a posição de abstenção do CDS, tornada pública, funcionasse como escudo aos sociais-democratas já que tornava irrelevante o sentido de voto destes (para ser aprovada a moção precisa do voto favorável da maioria absoluta dos deputados, 116). Feito o trabalhinho pelo CDS, nem por isso Passos Coelho ficou satisfeito. Era preciso por isso deixar tudo claro: não haverá moção de censura ao Governo da direita parlamentar. A razão é simples: não convém neste momento, a questão é meramente táctica. Mais do que muleta, CDS e PSD, continuam dispostos a ser uma espécie de andarilho de apoio deste governo, que lhe amparam o caminho das políticas de austeridade e o suportam na condução do país para uma cada vez maior precariedade e miséria social e económica. É este governo tripartido que Passos Coelho se está a esforçar por manter. Ao ponto de deixar claro que se há dirigentes do seu partido a especular como é que uma moção de censura pode ter hipóteses (Guilherme Silva defendeu ontem PSD não deverá promover uma moção de censura sem negociar o seu conteúdo com os deputados comunistas) não estão mandatados para o fazer, e estão “a falar de mais”. “Todos caladinhos, ainda não chegou a nossa hora, mas esta para breve”, é esta no fundo a mensagem de Passos. É clara e vai directinha para interior do partido. Percebe-se agora com mais clareza o silêncio de Sócrates perante o desafio de Louçã, no último debate. A moção de confiança ao Governo não era necessária na altura, porque afinal ela já estava combinada, só que ainda vinha a caminho.
Catarina Oliveira
|