O Bloco Central explica o colapso do país |
Segunda, 28 Fevereiro 2011 | |||
1. Dificilmente considerações de conjuntura ou casuais podem obscurecer os dados fundamentais da situação portuguesa. Entre eles, reside a confirmação com mais de 30 anos de que o PS e o PSD são os veículos das políticas neoliberais que cavaram brutalmente, é o termo, o défice social, degradaram e eliminaram serviços públicos, destruíram emprego. O Bloco de Esquerda nasceu no combate ao rotativismo liberal desses partidos centrais. As conhecidas alternâncias dos seus governos acentuaram fortemente o continuísmo da gestão, qualquer que fosse a cor do executivo. O pendão da luta de classes tem sido claro:privatizar. A privatização foi a medida de todas as coisas e o eixo de ataque aos trabalhadores. Até na obediência, sem disputa, à ortodoxia europeia, rosas e laranjas rivalizam no amém. 2. As moções de censura que interpusemos aos governos, exceptuando o motivo da agressão americana ao Iraque com o miserável apoio de Barroso, são censuras às consequências do modelo liberal e privatístico. Naturalmente,a censura parlamentar institui-se sobre o governo de turno, mas não imuniza todos os parceiros dessa política, o que agora se chama o "comboio do PEC".O nível de contestação social, de protesto popular, a excepcional gravidade de medidas do governo, a violação de compromissos públicos, tudo isso fermenta o momento, a intensidade e o alcance de uma censura parlamentar. 3. O facto de distinguirmos, à vista desarmada, que uma boa parte dos eleitores do PS se situam à esquerda contra a agenda liberal, esse facto não absolve os governos do PS de toda a luta contra si. Aliás,o que nos tem merecido o apoio crescente de muitos desses eleitores, pela elementaríssima razão de que não há meias-alternativas, nem revisitações da UEDS dos idos de 80. 4. O eventual derrube do governo pressiona,em regra, para eleições antecipadas,em geral preferíveis a arranjos mediados pelo PR, pior ainda com Cavaco Silva. Devolver a palavra ao povo é o bom princípio democrático. E é um argumento, sem apelo, face a uma situação de crise e pântano político. Nunca há vencedores antecipados, muito menos por agora, quando há indicações de substancial fragmentação das intenções de voto popular. Qualquer defensismo na censura a um dos piores governos da história democrática recente, em nome de um seguro sem apólice contra o mal menor, é alienar a voz dos que representamos e diminuir as suas condições de resistência. Sem ampliar as forças populares contra o centrismo liberal não se vislumbra caminho para defender e recuperar direitos sociais,e para a geração mais nova é mesmo a única forma de estrearem conquistas de solidariedade. 5. A clarificação do quadro político, mercê do anúncio da moção de censura do Bloco de Esquerda a Sócrates, não só não se fez esperar como desmentiu a ideia propalada à exaustão de que a direita teria um plano de substituição do governo, com eleições a correr, lançado no tapete rolante do triunfo de Cavaco Silva. Só faltava o piparote no primeiro-ministro. A constatação da inexistência desse plano, coisa tão previsível e tão elementar, embora tão tergiversado, denuncia que há muitos analistas políticos que sabem tudo menos pôr um ovo em pé. A estabilidade dos mandatos institucionais depende, por óbvias razões políticas, e até por posse dos instrumentos constitucionais bastantes, da âncora que fundeou em Belém. 6. Ir à luta por uma deslocação à esquerda,é a tarefa das tarefas. Até pelo insucesso em arrancar uma segunda volta nas eleições presidenciais, pese a audácia de que Alegre deu prova. Até pelo insucesso da quebra de votos, ou confusas expressões, de outras esquerdas. Porfiar para impedir as receitas do FMI, que Sócrates antecipa sob o aplauso de Passos, é a dimensão de cidadania e de proximidade da política às pessoas. O ódio a alguns políticos não pode ser misturado com a rejeição de participação política,o direito de as pessoas decidirem. 7. É sempre simpático que a imprensa se ocupe da vida do Bloco de Esquerda. Agora que se iniciou o processo da convenção nacional talvez não fosse desejar muito esperar notícia das moções que se apresentem, da qualidade do argumentário, da representatividade de que dispõem. Quem quer debate geral no partido recolhe 20 assinaturas e vem a jogo. É óptima a discussão aberta entre opiniões contrárias de bloquistas, mesmo quando tem lugar na tv ou nos jornais. No entanto, quando os instalados "comentadores" falam do Bloco de Esquerda como um todo, e até alegam crises internas (diabo!) convém perceber, é o mínimo, o peso das coisas e das pessoas. Os media não dão cartão de eleitor no Bloco, como se viu bem pelo "caso" Joana Amaral Dias. Felizmente há luar, mesmo quando passam cometas. Quem disse que o Bloco não é um partido diferente? Luís Fazenda Publicado no esquerda.net em 19 Fev.
|
A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação" | ISSUU | PDF | Revistas anteriores
Karl Marx