Do pueril desnorte ao fundo da cova Versão para impressão
Terça, 01 Março 2011

 

Os dias subsequentes ao anúncio da moção de censura do BE foram os dias da maior e mais ampla escalada de ataques, até hoje realizada, à linha política do BE – linha aprovada democraticamente em Convenção.

A ferocidade que os representantes da burguesia, presidentes de empresas e confederações patronais, dirigentes do PS e PSD, comentadores de verbo e contradição fácil dedicaram ao BE foi de uma escalada absolutamente impressionante. A manipulação de frases e afirmações somou-se à dissidência mediática e alguns conseguiram o seu minuto de glória num rodapé de um telejornal.

Mas não foi preciso passar muitos dias para o povo perceber que se o governo de Sócrates é o pré-governo de Passos este se afirmou como o seu mais fiel amigo. E Paulo Portas foi o primeiro a querer ficar na fotografia dos que defendem, intransigentemente, a estabilidade do regime.

Se há lição que se retira facilmente destes dias atribulados é que muitos políticos, comentadores e activistas de esquerda não percebem o centro táctico do Bloco: a defesa do Estado Social.

A defesa do Estado Social marca toda a diferença contra os traficantes da “social-democracia” ou do chamado modelo social europeu. Por cá, o PS começou por nos “retirar o pequeno-almoço em nome da defesa do almoço e agora quer tirar-nos o almoço em nome da defesa do jantar”. O PS está socavando brutalmente o Estado Social com a retirada dos apoios e direitos sociais aos trabalhadores desempregados e aos pobres, com a redução dos salários, com as parcerias público-privadas na saúde e obras públicas que garantem juros de 14 e 15% aos sanguessugas do orçamento, com o aumento das propinas e a retirada de apoios sociais aos estudantes, com a criminalização do desempregado e do pobre, com as privatizações… É o próprio PS que está cavando a sua própria sepultura! E, claro que PSD e CDS querem sempre mais, sempre que o PS dá uma cavadela PSD e CDS exigem a cova ainda mais funda.

Nós não perdoamos à política do atraso e aos seus protagonistas; mas também rejeitamos a política do suicídio político que seria morrer com quem cava a sua própria sepultura. Nós não queremos ser a versão portuguesa da Refundação Comunista de Itália nem dos Verdes irlandeses.

Quando a Ministra do Trabalho anuncia a diminuição das indemnizações por despedimento e quando Merkel anuncia - perante a alegria de Sócrates - a pretensão de impor à escala europeia o aumento da idade de reforma para os 67 anos a coerência da linha exige-nos a censura desta políticas.

Aquilo a que Elísio Estanque1, em crítica à moção de censura, chamou dogmatismo interno é coerência de oposição, combate à destruição dos serviços públicos e defesa dos direitos dos trabalhadores. Se há “autocolante” que não assenta ao BE é o do sectarismo, ao contrário do que invocou Estanque. O BE é aberto à cidadania e à pluralidade, constrói alianças para avanços e conquistas como mostrámos na luta pela despenalização do aborto e pelo fim das discriminações por orientação sexual, mas só pode ser firme quando se quer voltar atrás mais de 100 anos nas relações entre as pessoas e as classes sociais.

Ao contrário do que diz Elísio Estanque as dificuldades do BE não estão nos jogos mirabolantes que comentadores e políticos frustrados imaginam e contra-imaginam, dizem hoje e desdizem amanhã. As dificuldades do BE são as dificuldades da vida das pessoas comuns, porque nós somos essa gente. Essa gente é a maioria da população e tem um lado. Em nome dessa maioria temos de censurar a política que só serve a minoria burguesa, especuladora e financeira, depredadora dos recursos públicos e sempre ansiosa da destruição das conquistas do trabalho. Dizem-nos que somos anti-poder - sim somos contra este poder, somos anti-capitalistas -, mas queremos ser poder, queremos governar, para fazer políticas para a nossa gente; por isso disputamos o apoio da maioria social.

Portanto, é preciso manter o centro do debate e da luta política, no objectivo, no norte para onde nos dirigimos. Mas alguns, puerilmente, caem em desnorte e julgam que disputar a maioria social é disputar a maioria da Comissão Política Nacional do PS. Quando o BE se formou adoptou a consigna de que “já não esperava nada do PS e não ficava à espera do PCP”. 12 anos depois essa consigna mantém validade plena.

Victor Franco

1) Jornal Público de 19-02-2011

 

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