O reconhecimento do Feminismo enquanto luta social Versão para impressão
Domingo, 13 Março 2011

 

A proletarização da sociedade e as contradições de classe são, à esquerda, um fenómeno amplamente reconhecido. Mas se há quem tenha percebido essas forças em movimento, poucos pareciam querer reconhecer outras forças da sociedade em movimento. Hoje é vital à esquerda reconhecer a pluralidade de contradições que se jogam no mundo das lutas sociais, desde a imigração, ao reconhecimento social e legal da diversidade sexual, ao combate à xenofobia, às novas formas de exploração laboral até à luta pela emancipação das mulheres. Não são novidades, a novidade será o reconhecimento dessas lutas não as estigmatizando como sendo um desvio “burguês” da principal luta da esquerda que seria a luta de classes. Nesse capítulo o Bloco de Esquerda não falhou à esquerda, sendo claramente um veículo para a dinamização dessas lutas em Portugal com alguns resultados já visíveis.

Aliás, o Bloco de Esquerda foi carimbado com o selo do partido das “causas fracturantes”. Bem arrependidos estarão aqueles que, ao colocar o selo, pensavam que encerravam aquela novidade à esquerda num embrulho bonito mas vazio. A ideia era eficaz, a luta da esquerda seria pura rebeldia juvenil incapaz de lidar com ponderação séria sobre “matéria de Estado”. Hoje o Bloco de Esquerda faz a sua quarta moção de censura e todos estremecem ao mesmo tempo que dizem que é uma moção a brincar. Mas se é a brincar, então porquê o nervosismo? Onde é que já vai o partido simpático das causas fracturantes...

Mas se as causas do Bloco fracturavam a sociedade isso não era a razão da sua escolha, como estava subentendido, mas antes a sua urgência e a sua justeza. Se a emancipação das mulheres era um tema que criava uma bipolarização na sociedade, isso era apenas um sinal do atraso português. Como é que a força do sexo feminino pode assustar uma população maioritariamente feminina? Só pela desinformação, só pela marca do atraso português ditado pela página negra Salazarista. Mas também a esquerda não pode cair nos clichés do sexo fraco, ou antes “não batam que se não elas choram”, isso seria uma ridicularização e distorção da força emancipatória das mulheres. Sempre que era criticada uma mulher com poder de Estado logo surgia uma pseudo-feminista pronta a dizer que as críticas eram só por esta ser mulher. Se hoje a esquerda é dura com Angela Merkel é precisamente por não lhe reconhecer nenhuma característica “delicodoce de índole feminina”, são precisamente os sectores mais conservadores que narram essas características meigas para subjugar a mulher ao seu papel maternal.

Para a esquerda a Mulher é tudo o que ela quiser ser, e essa diferença faz toda a diferença porque não ditamos nenhum papel social. A emancipação das mulheres dita que estas possam errar e acertar sem estar sempre no trilho errado e cerrado que a masculinidade amedrontada lhes traçou. Também não subscrevo a ideia de que a emancipação das mulheres terá obrigatoriamente de ser feita exclusivamente pelo próprio género, a emancipação será, a meu ver, feita pelos que subscrevem essa luta. E não subscrevo pela mesma razão que não subscrevo que a luta dos imigrantes, a luta de gays e lésbicas ou a luta dos precários seja solitária. É precisamente dos laços de solidariedade entre realidades sociais diferentes que nasce a força, todos aqueles que se querem acantonar sozinhos na sua luta perdem a força e a oportunidade de criar uma sociedade multidisciplinar, consciente de si mesma e das realidades que a rodeiam.

O sexo feminino é o sexo com mais qualificações literárias, contudo é o sexo mais mal pago e mais afectado pelo desemprego. Na luta de classes há espaço para o feminismo e fora dela também, não o reconhecer seria não perceber que a luta da esquerda morre se não acompanhar as diferentes dimensões que compoem a sociedade e que, aqui e ali, até se tocam.

João Dias

 

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