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Domingo, 13 Março 2011

 

As avenidas foram pequenas para tanta gente. O facto prova duas coisas: por um lado há muita gente à rasca; por outro, a revolta cresce e as pessoas com a vida à rasca estão dispostas a trazer essas vidas à rua com o objectivo de demitir todos os que nos massacram com mais miséria.

Muito se escreverá e falará sobre as manifestações do dia 12 de Março de 2011. Alguns tentarão - talvez para desviar o assunto do principal – fazer das manifestação um caso de estudo quasi-académico sobre as redes sociais como o facebook. Parece-me uma discussão ao lado. O facebook foi o veículo, não foi a causa ou a motivação.

A causa está no empobrecimento geral, na precarização, no desemprego, no facto de se trabalhar 40 horas por semana e não ter dinheiro para pagar a renda; a causa está na miséria, nos ataques constantes ao povo, na exploração dos jovens educados a trabalhar de borla – dos estágios não-remunerados aos falsos recibos verdes -; a causa está nos sacrifícios apregoados e forçados sem resultados. Ao mesmo tempo que a banca e os mais ricos do país reforçam os seus lucros e não têm sacrifícios a fazer.

A causa é tudo isto e não o facebook. E a motivação? A frase é antiga e voltou a  ecoar pelas avenidas que foram efectivamente pequenas para tanta raiva e contestação: “os proletários nada têm a perder a não ser as suas cadeias. Têm um mundo a ganhar”. E assim foi, mulheres e homens, jovens e não só, desempregados, precários, estudantes, pessoas com salários de exploração, todos, todos... Todos os que já não têm nada a perder; todos aqueles que sabem que só podem voltar a ganhar derrubando o Governo, rejeitando as políticas PS-PSD, reclamando os seus direitos e as suas vidas de volta...

É que a desculpa pueril e quasi-inocente de que o “mundo mudou em quinze dias” não pega de semana a semana; e a frase de filme-catástrofe que nos diz que a “crise é mundial”  fica exposta à  mentira quando percebemos que a crise pode ser global mas não é para todos; quando percebemos que a austeridade é uma ferramenta de opressão a favor dos patrões e das fortunas. Permite-lhes reduzir salários, permite-lhes despedir quase sem indemnizar... A austeridade é uma metralhadora contra o povo. Acontece que no Sábado, 12 de Março, a população pegou na metralhadora e virou-a contra o poder.

E agora? As pessoas não saem à rua por agenda. Saem com exigências. Saem reivindicando mudanças. E a pressão é imensa. Este governo bateu contra a parede. Tem que sair. Tem que cair. A mudança tem que acontecer. E a pressão tem que crescer. É hora de protesto geral!

Novas manifestações estão já agendadas para o mês de Março, por parte da CGTP, por parte dos estudantes... Se nada se alterar no poder terá que ser a rua a demitir o governo, a recusar a austeridade, a fazer recuar essa gula imprestável da burguesia que produz a miséria para quem trabalha. Será então hora de greve geral. Porque o que há mais para perder? Só as nossas cadeias. As cadeias do salário que não dá para o mês; as cadeias do trabalho sem remuneração; as cadeias do desemprego; as cadeias dos empréstimos para fazer um curso universitário; as cadeias da precariedade; da instabilidade na nossa vida...

O Bloco apresentou a sua moção de censura porque há muito que dizemos que a austeridade só trará mais austeridade; que a solução está na criação de emprego e na melhoria dos salários e não na massifcação do desemprego e da precariedade. Mas o governo PS foi amparado no Parlamento pelos seus parceiros da desgraça alheia – PSD e CDS-PP. Chegou a vez da censura da rua. E é bem clara a mensagem: “Vai-te! E se não forem – Sócrates, os ministros e a austeridade do bloco central – encarregar-nos-emos de vos mandar embora”. Os próximos tempos não serão os tempos do Portugal de brandos costumes. A voz popular já disse: “Austeridade? Que seja para as fortunas!”.

Moisés Ferreira

 

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