A desvirtualização da social-democracia Versão para impressão
Terça, 13 Setembro 2011

cabea_vazia

Existe, sim, uma social-democracia rendida ao neoliberalismo económico (que tem reprecursões no social) e ao conservadorismo na sociedade e nas ideias!

Na sua génese, a social-democracia surgiu como uma corrente marxista que acreditava que a transição para a sociedade socialista poderia ser alcançada sem uma revolução, mas através de uma evolução democrática; o objectivo seria reformar o sistema capitalista através de reformas legislativas. Esta corrente sofreu duras críticas de vários pensadores marxistas, ao longo do tempo, sendo considerada revisionista por outros.

No entanto, ao longo dos anos a social-democracia e os seus princípios ideológicos foram alterando-se, primeiro de forma moderada. As ideias marxistas consideradas mais radicais como a luta de classes foram abandonadas e a via reformista foi abraçada. Por esta altura, esta posição moderada da social-democracia ainda se poderia adivinhar algo próxima (mas não muito, na verdade!) com o socialismo.

Mas quando a social-democracia adopta conceitos capitalistas enquanto visão da sociedade, tentando aliá-los a conceitos socialista, pode-se dizer que o afastamento face ao socialismo estava completo e seria definitivo. Já não se falaria mais em abolir o sistema capitalista e o objectivo era tentar amenizar as injustiças sociais e económicas da sociedade.

Pela Europa fora os governos sociais-democratas foram ganhando mais força, e a Internacional Socialista pode ser considerada hoje, ideologicamente, uma Internacional Social-Democrata. Ora, a transformação da social-democracia não se ficou pelo abandono do socialismo, mas da total aceitação de um modelo capitalista selvagem, neoliberal e conservador. Por exemplo, o PSD, em Portugal, consegue ser mais troikista que a troika, levando longe demais políticas marcadamente ideológicas no espectro da direita, que reforçam as injustição sociais, que privatizam os serviçoes públicos (directa ou indirectamente, tratando as pessoas como meros números ou cifras), que, aos poucos (ou nem tanto assim) conseguem hegemonizar pensamentos conservadores na sociedade, na escola, na faculdade, na saúde, no local de trabalho.

Mas o caso mais berrante da evolução do pensamento social-democrata é o Partido Socialista. Se na sua base teórica até pode ter nascido com um cunho verdadeiramente socialista, todos estes anos de prática foram revelando que a tendência era contrária. Os últimos anos foram a prova final disso mesmo, tendo aberto, em definitivo, uma época de desigualdade, de retrocesso em muitos aspectos sociais, de medo, de conservadorismo. E fez um trabalho digno de um partido social-democrata de origem!

Em Portugal, como na Europa, será que a social-democracia ainda pode ser “resgatada” e ser parte da solução do problema? Penso que é uma questão complexa, mas não restam dúvidas sobre uma coisa: a social-democracia de hoje é sinónimo de neoliberalismo, portanto nunca pode ser a solução, e também não pode ser resgatada. Quem escolheu um caminho não foi forçado a ele! E a escolha foi feita e está hoje mais clara do que nunca.

O papel da esquerda deve ser, neste momento, juntar forças, reforçar o combate ideológico e político no seio da sociedade, apresentar-se como a alternativa. Também será importante um profundo debate ideológico de reconstrução de conceitos e soluções verdadeiramente socialistas, justas e igualitárias. Sem nunca se deixar ultrapassar pela História o socialismo pode, de facto, conseguir triunfar, mas o combate é longo e duro; mas não há combate que não o seja a Esquerda sabe-o, e por isso não pode fugir dele!

Isabel Pires

 

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