A lucidez e a cegueira Versão para impressão
Terça, 13 Setembro 2011

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O Congresso do Partido Socialista trouxe mais do mesmo, Seguro foi pífio à esquerda mesmo recrutando Manuel Alegre e Mário Soares - nada que não se esperasse do partido que nos últimos 15 anos mais governou Portugal. Seguro foi firme em se manter na rota da submissão ao pacto I, II, III, IV, pacto troikano, e assim continuará.

A bem ver, pactos com o retrocesso são mesmo com Seguro. Retrocessos nas políticas sociais, nos direitos do trabalho, nas privatizações onde o PS foi campeão (…), são mesmo com Seguro. Seguro, além de membro de vários governos e deputado europeu, foi deputado na AR durante quase 19 anos. Seguro foi um dos protagonistas do caminho que meteu o PS na boca do lobo. 19 anos deveriam ser o suficiente para esgotar o intervalo dos que esperavam que uma ínfima brisa de esquerda soprasse neste congresso. O intervalo não se deu, o compasso também não e o disparate continua no PS.

Mas centenas de premissas fartamente demonstradas não chegam a ser suficientes para que Daniel Oliveira consiga concluir onde ficam as fronteiras na esquerda. Daniel confessa-se “pessimista” e o caso não é para menos. Novas premissas sairão ao terreiro da vida que é como diz ao confronto da luta de classes: privatização da EDP, da REN, dos seguros da CGD, redução da taxa social única (apesar da discordância alastrar na própria direita), alteração das leis laborais, continuação da participação nos cenários de guerra apesar da crise e porque mesmo em crise a guerra está sempre primeiro (…) em todas elas o PS confirmará que estas premissas não fazem caminho para nenhum paradoxo lógico.

Qualquer alternativa que tenha na criação de emprego, no crescimento económico e na defesa do Estado Social os seus principais objetivos terá de acontecer à esquerda. E acontecendo à esquerda terá, pelo menos no cenário político previsível para os próximos anos, de contar com Partido Socialista. Querer fazer, à esquerda do PS, a fronteira dessa alternativa pode parecer lógico para muitos que, legitimamente, se cansaram de tantas vezes se sentirem desiludidos pelas guinadas ideológicas dos socialistas quando estão no poder e na oposição, mas é uma opção derrotada à partida. Pelo contrário, só a exigência que o PS cumpra aquele que deveria ser o seu papel histórico é uma atitude lúcida”. Daniel Oliveira, no arrastão.

Em verdade durante as últimas duas décadas o PS acentuou precisamente a destruição dos objectivos da esquerda e foi pioneiro a trazer a narrativa que substituiu o direito pelo mérito, que criminalizou o desempregado e o pobre e glorificou o burguês, que transformou o direito ao emprego no direito a procurar trabalho, que elevou a competitividade ao valor supremo da existência humana, que transformou os serviços públicos em serviços de interesse geral sujeitos ao mercado, que fez da Europa a negação da democracia e da democracia um valor metido na gaveta ao recusar o referendo ao Tratado Europeu…

O problema não é, pois, um problema de cansaço é um problema de impossibilidade perene. A opção derrotada à partida é da Internacional Socialista rastejando servilmente aos pés da financeirização brutal da economia e da exploração desenfreada retrocedendo ao século XIX – este sim é o papel histórico dos PSs.

Não, não desesperamos a aparente passividade popular e julgamos que a nossa energia e proposta pode ser dinamizadora da cidadania. Não, não estamos cansados e desde já desafiamos a junção de forças para a luta contra a privatização das Águas de Portugal e para que as fortunas paguem impostos…

Não, não nos vamos meter na boca do lobo. Sim, estamos lúcidos. As fronteiras da esquerda estão bem claras!

Victor Franco

 

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