Austeridade em tempos de cólera |
Sexta, 28 Outubro 2011 | |||
Nada, nem mesmo as pequenas desavenças, demovem o fanatismo da austeridade. Quando confrontado com o fracasso das opções económicas e políticas da zona euro, Sarkozy responde que as orientações são as correctas, afinal de contas “Portugal está no bom caminho”. O bom caminho é que não nos leva seguramente a bom porto, o caminho traçado e escolhido por ideologias ultra-liberais e fanáticas nada profetiza de positivo numa Europa perdida em experiências perversas e irresponsáveis. O bom caminho apontado por Sarkozy e pela Sr.ª Merkel levaram a Grécia a um cenário de bancarrota e de completa insustentabilidade económica. Os documentos revelados pelo Financial Times indicam o desastre das opções políticas, a divida pública Grega é agora de 160% do PIB. O declínio da economia Grega resulta das violentas medidas que diminuíram consideravelmente o consumo interno, das políticas de privatizações falhadas, dos juros agiotas cobrados pelos credores. No entanto, os líderes europeus insistem em somar mais austeridade à já insuportável austeridade. Oferecem uma nova tranche de “ajuda” e reclamam mais repressão sobre o povo. A imperatriz Merkel passou novamente a receita de “cura de austeridade” e já deu provas que continuará impiedosa com os “infractores”, punir é a sua palavra de ordem. O fracasso das medidas de Merkel-Sarkozy está mais do que comprovado. Dado o colapso das medidas adoptadas por líderes em devaneio, resta agora a experimentação. A reestruturação da divida grega, designada pelos obstinados neoliberais como “perdão”, foi tardia. Mesmo com a reestruturação de 50% da dívida, antes de 2020 a Grécia não conseguirá sustentabilidade e já foram aniquilados os direitos do povo grego. A banca que já usurpou lucros colossais através dos juros agiotas, terá que ceder agora em cerca de metade da dívida. No entanto, será recapitalizada em cerca de 108mil milhões de euros. A vingança da elite financeira assenta no pormenor que serão os contribuintes a contribuir para a recapitalização dos bancos. É à força do trabalho que todos os esforços são exigidos. A reestruturação e a auditoria à divida eram as saídas justas mesmo antes do pedido de “ajuda” externa. Os esforços económicos quer dos estados, quer da união deveriam ter sido orientados para a criação de emprego e para a sustentabilidade económica. No entanto, o fanatismo ideológico obrigou a que as escolhas fossem outras: perseguição aos trabalhadores, aos pensionistas, destruição do estado social, a vingança de uma classe que nunca suportou as conquistas sociais tão arduamente conseguidas. Apesar do exemplo grego, o governo português insiste em descartar a hipótese de reestruturação da divida. A saída da reestruturação é a saída inevitável, o governo PSD/CDS sabe-o bem, o anterior governo PS sabia, os líderes europeus sabem-no bem. Mas antes disso há um longo caminho que os fanáticos ideológicos querem que seja percorrido. O “bom caminho” referido por Sarkozy, a escolha política de Passos Coelho, Vítor Gaspar e Paulo Portas. Austeridade em marcha, Portugal já abriu caminho de alta velocidade para aniquilar de vez as conquistas das lutas sociais. Chegou a hora de ajustar contas com o estado social, este governo criará um estado mínimo, que funcionará como simples mediador do investimento privado, um estado onde não haverá lugar para a escola pública, onde será derrubado o SNS, a segurança social. Inventam-se soluções que não o são, simplesmente para subjugar os trabalhadores. Trabalhar mais meia hora por dia, facilitar os despedimentos são apenas exemplos de uma escolha ideológica que propaga o medo e a humilhação a quem depende do seu trabalho. Este governo quer um país onde a pobreza é um rótulo, um país com um retrocesso civilizacional imenso, onde a mulher perde o direito à sua emancipação, onde não há lugar para a família, onde os jovens não têm futuro e onde não há lugar para os menos jovens. Nunca foi tão fácil mostrar que sistema económico e financeiro não funciona, é notório que este é o caminho errado, o caminho para o abismo social. No entanto, a elite envolve-nos num jogo perigoso de ameaça e o medo desvia muitos de nós do sentido da luta. Não esqueçamos, no entanto, que “A história de toda a sociedade, até aqui é a história de lutas de classes”, neste percurso tivemos muitas frustrações mas também muitas conquistas. Agora é o momento de fazermos história! Odete Costa
|
A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação" | ISSUU | PDF | Revistas anteriores
Karl Marx