Incêndios: O Inferno de Dantes |
Quarta, 01 Agosto 2012 | |||
Fica bem em qualquer reportagem ou artigo sobre fogos florestais, descrever o teatro das operações como “cenário dantesco”. O toque literário vem da “Divina Comédia”, um dos maiores poemas universais, obra do primeiro grande escritor do Renascimento italiano e fundador da língua italiana, Dante Alighieri. No prólogo de “O Inferno”, uma das três partes em que se divide o poema (os outros são “O Purgatório” e “O Paraíso”), o poeta descreve-se perdido numa floresta, acossado por três feras: uma pantera, um leão e uma loba, simbolizando, respectivamente, a luxúria, o orgulho e a avareza. Inspirado pela “Eneida” de Virgílio, Dante coloca a sombra daquele poeta latino a vir em seu auxílio (alegando ter sido enviado por Beatriz, a amada do florentino) guiando-o através do Inferno, a única fuga possível, onde encontra os maiores pecadores e, no fosso mais profundo, o próprio Satanás. Em Portugal, o Inferno de Dante virou tragicomédia levada à cena todos os anos, invariavelmente, com mais ou menos público, conforme o tempo, só mudando os actores e os figurantes. Este ano, a “avareza” é representada pelo ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, primeiro responsável político pela falta de meios e de coordenação no combate aos fogos na Madeira e no Algarve (que demorou 5 dias a extinguir), de que se têm queixado os bombeiros, autarcas e populações; o “orgulho” é representado pelo ministro Miguel Relvas, que coordena a comissão interministerial para gerir o apoio às vítimas dos fogos, e que tenta fugir à sua responsabilidade, permitindo que a maioria do PSD e do CDS chumbasse um requerimento do Bloco de Esquerda para que o ministro fosse ao Parlamento dar explicações aos deputados (representantes do povo); “a luxúria” só pode ser interpretada pela ministra Cristas, do CDS, que deve achar que o vermelho dá um tom mais sensual ao país e, vai daí, deita gasolina no fogo ao propor a eucaliptização da floresta, em benefício das empresas de celulose. Tudo como dantes! Mas o governo do PSD/CDS não é o único responsável pelos fogos florestais deste ano. Alberto João Jardim ao defender a redução do número de bombeiros e ao não exigir meios aéreos na Madeira, para defesa da Floresta de Laurissilva, relíquia da natureza pré-histórica, preservada desde o Terciário, uma das poucas sobreviventes das florestas primitivas europeias, Património Mundial da Unesco desde 1999, é co-responsável por colocar em risco este património de Portugal e da humanidade. A Câmara Municipal de Viseu já há alguns anos que desinvestiu, irresponsavelmente, no corpo de bombeiros municipais, apesar dos reiterados alertas das organizações de classe dos bombeiros profissionais. Conivente com esta incúria que põe em risco a vida e os bens dos viseenses está a maioria dos deputados e dos presidentes de junta do PSD que na última Assembleia Municipal, em 29 de Junho, chumbaram (contra 12 votos a favor, do BE e do PS, e 13 abstenções) a moção 'Pelo reforço dos meios humanos e materiais dos bombeiros municipais de Viseu' apresentada pelo Bloco de Esquerda. Esta moção referia alguma das carências mais preocupantes dos BMV: apenas 5 pares de calças e casacos de protecção ao fogo “NOMEX”; o número insuficiente de bombeiros por piquete que já resultou, recentemente, numa saída de uma viatura para um incêndio apenas com o motorista; ou a viatura de desencarceramento ter ido para um acidente apenas com 2 bombeiros, quando as normas recomendam uma equipa de seis elementos. A Câmara, em Janeiro de 2011, cancelou um concurso para admissão de 7 bombeiros, aberto em 2008, apesar de saber que nos próximos dois anos se irão aposentar 15. A ausência de promoções desde há mais de 10 anos faz com que os profissionais não sintam existir por parte da tutela o devido reconhecimento. Fernando Ruas chegou a dizer na Assembleia Municipal, em resposta à recomendação do BE, que preferia apoiar duas corporações de voluntários do que uma municipal, que, se não existisse, não seria ele a criá-la (!!!) Só compreendo esta falta de respeito pelo trabalho dedicado dos "soldados da paz" do município por saber que Fernando Ruas ainda não pagou as horas extraordinárias dos bombeiros profissionais referentes ao Verão de 2011. Para o nosso Alberto João das Beiras, à falta de trabalho escravo, nada melhor do que o trabalho voluntário. A vida e os bens dos viseenses não podem ser postos em causa pela incompetência do responsável máximo pela Protecção Civil municipal que ao não colmatar as lacunas em meios humanos dos BMV torna completamente desactualizado, não aplicado à realidade e na prática não existente o Plano Municipal de Emergência, obrigatório por lei. É o próprio comandante dos Bombeiros Municipais que, numa entrevista ao Diário de Viseu, admite que “39 bombeiros são muito poucos” para um concelho de mais de 100 mil habitantes, quando o desejável seria a corporação dispor de 100 bombeiros. No passado dia 18 de Julho, um incêndio florestal na freguesia de Fragosela colocou várias casas em risco, com as chamas a meia dúzia de metros das habitações. Os Bombeiros Municipais de Viseu (BMV), na altura do alarme, apenas puderam disponibilizar de imediato 1 viatura e 3 bombeiros, força notoriamente insuficiente para o ataque inicial de cuja eficácia, a par do trabalho prévio de prevenção ao longo do ano, depende o controlo do fogo. Só a intervenção dos Bombeiros Voluntários de Viseu, Castro Daire, Tondela, Mortágua e os GIPS da GNR é que evitou a tragédia iminente. Fernando Ruas está à frente da CMV há duas décadas e já ameaça voltar daqui a cinco anos, depois de um poisio obrigatório, tal é o seu apego ao poder. Mas nenhum voto lhe dá o direito de ofender e ameaçar de extinção uma corporação como os Bombeiros Municipais de Viseu que na semana passada comemorou 185 anos de vida ao serviço dos viseenses. A terceira corporação de bombeiros profissionais mais antiga do país. Carlos Vieira e Castro
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A Comuna 33 e 34
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