Da Alienação à Emancipação |
Sábado, 16 Fevereiro 2013 | |||
Alienação, fenómeno transversal e intrínseco a todas as sociedades humanas constituídas sob uma relação de poderes, destronador da essência humana, desvirtuando-a pelos caminhos tortuosos da ignorância. Pode a alienação ser voluntária ou forçada, ou ambas simultaneamente? É plausível a admissão de uma auto-alienação? A nossa perspetiva leva-nos a abdicar de uma posição idealista, assente num carácter individualista e reducionista, procurando uma resposta assente sob uma análise sistémica e societária, gerada por uma correlação de forças. A dialéctica heraclitiana e hegeliana, materializada em Marx, contêm em si os alicerces explicativos de tal fenómeno. No século XVI, Étienne La Boétie, autor menosprezado por diversas comunidades científicas, surge como um dos primeiros estudiosos do comportamento das massas, em que a servidão voluntarista dos súbditos determina o comportamento arbitrário dos tiranos. Para o autor, todas as civilizações humanas consubstanciadas por relações de poder evidenciam a submissão e a passividade das massas. Marx, nunca esquecendo as influências transatas, identificaria múltiplas formas de alienação, essencialmente a interação que o operário estabelece na estrutura de produção das sociedades capitalistas. Toda esta perspetivação e identificação do presente fenómeno apetrecha-nos de um manancial de ferramentas, no sentido de lidarmos com este cancro social e das vísceras que compõem o totalitarismo racionalista, fundamentado por uma lógica que tem vindo a dar mostras de irromper no espectro sócio-político, como é identificável no vocabulário de Zamiatine. A realidade distópica que brota deste liberalismo que visa preencher a nossas vidas e as nossas sociedades, abraça a alienação como a sua grande arma. Desde a massificação dos costumes, passando pela formatação ideológica ou padronização dos hábitos, culminando numa arregimentação das massas humanas constitui a oferta política da reação dos nossos dias. Apregoam por uma transparência democrática, mas na realidade esta Democracia de classe, burguesa, nada mais é do que uma cartelização da vida partidária que brota num controlo estatal e toda a vida pública. A comunicação social, controlada pelas forças do poder vigente, é uma máquina de processamento da alienação, afastando a essência do pluralismo, de que eles se vangloriam como sendo os arautos. Passividade, o homem passivo é aquele que garante o aprazimento dos interesses plutocratas e partidocratas (entenda-se a forças que constitui a cartelização partidária, Partido Cartel), sendo que essa passividade é cultivada pelas sementes do hábito, como defendia o francês La Boétie, na constituição da servidão pelas massas acríticas. O grande ponto de viragem consiste na reabilitação das nossas capacidades: Serão os nossos órgãos de informação veículos de debate, pluralismo, reflexão e garantes de uma igualdade de acesso de todos os cidadãos a esses devidos meios de comunicação? As nossas Universidades, detêm nos dias de hoje, uma função de cultivação da fruição intelectual, reflexão e aprendizagem ou por sua vez, perfazem-se no sistema mercantil, apresentando-se como estruturas organizadas para sustarem interesses classistas? Perante submissões ilegítimas, devemos afastar-nos do covil perpetrado pelas forças usurpadoras, tal como a raposa recusa aceder ao convite envenenado do leão para entrar no seu covil. A palavra de ordem, a emancipação das sociedades humanas perante esta tremenda "desnaturalização do homem", deve passar por uma Sociedade Civil fortalecida, incremento da Democracia Local, Democracia de Proximidade, valorização das comunidades locais e da sua participação nos afazeres da coisa pública, enfim, utilizar a arma do inimigo contra ele mesmo, o hábito. O instinto social e organizacional do ser humano é um princípio ordenador, já cultivado, baste reerguê-lo e completá-lo na sua plenitude, desfazendo este individualismo grosseiro, selvagem e ignóbil que pretendem impingir-nos. Tiago Ramalho
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
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