A propriedade comutativa e o elemento neutro na oposição Versão para impressão
Domingo, 17 Fevereiro 2013

Os trabalhadores estão sob o fogo do regime. Patrões pressionam, insistentemente, exigindo sempre mais uma nova retirada de direitos; "sindicatos" vendem a "alma ao diabo" em troca do "acordo possível", o farol Proença ilumina o caminho do desastre; governantes troikados fazem do valor do trabalho uma função sem limite que equaciona um integralismo zero no estado social.

Ao integralismo novo opõe-se o abstencionismo velho; abstencionismo de valor 1 que parece que conta mas não conta nada, arroga-se da totalidade - comporta-se na nulidade. Na sua "violência" está para a oposição como o seu valor para a multiplicação ou para a divisão. Dito de outra forma: o PS conta tanto para a multiplicação da luta contra o governo como o elemento neutro na multiplicação; no poder, histórica e materialmente, sempre construiu a sua propriedade comutativa em favor da burguesia, PSxPSDxCDS lá vai dando como PSDxPSxCDS e assim sucessivamente.

Já para divisor das forças governamentais o PS continua contando como 1: o governo permanece inteiro assente nos pilares do acordo trokiano por si também assinado. O resto é zero, como sabem as crianças do 1º ciclo do ensino básico. O dividendo é como sabem alguns mais crescidos, o Américo Amorim, a Isabel dos Santos, o Jorge Coelho...

Alguns desconhecedores da matemática insistem em tentar mudar as suas propriedades, à força querem salvar o 1 de ser um elemento neutro no regime. Antigo engano. Na sua ânsia elevam o 1 ao quadrado e multiplicam Seguro com Costa; na frustração da política segue a oca luta de personalidades. Frustra-se, ainda, a 29ª tentativa da "ala esquerda" deitar as garras de fora e a desilusão retorna à função primordial. A propósito de garras, o PS não é um leão adormecido, é um gato domesticado.

Na desesperança que as décadas podem carrear, após sucessivos e alargados apelos sem resposta, houve até quem recentemente viesse declarar: "abandonamos o 1, basta-nos qualquer coisa à direita do zero". Tem lógica, à direita já sabemos que tem sempre, só pedem que não seja tudo. A coisa é a esquerda, já sabemos que não tem quase nada.

É como aquele "navio que tem um rombo no casco", mete sempre água, só não querem que meta tudo e se afunde já, querem salvar o navio – mesmo metendo sempre água.

A dinâmica de fluidos é como a matemática. Já a matemática é como "a vida, é difícil". Já o rumo do navio só poderia contar se houvesse uma sublevação a bordo que decidisse rumar a um porto à esquerda para trocar de navio, é que o rombo não é defeito é feitio. O novo rumo teria de romper com a rota troikiana e mandar borda fora os capitães que destruíram a vida dos marinheiros de todos os navios. Aí contar-se-ia mais do que um zero à esquerda.

Vivemos tempos difíceis para progressões à esquerda, por ora, custa-nos até na aritmética. Mas os marxistas, percebendo a razão prenhe da luta de classes, querem multiplicar forças à esquerda na cidadania; é que ela pode ter progressão exponencial mesmo quando menos se espera.

"Vem, vamos embora/ que esperar não é saber/ quem sabe faz a hora/ não espera acontecer". A rua espera-nos!

Victor Franco

 

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