Feministas da Europa, uni-vos! Versão para impressão
Domingo, 24 Novembro 2013

[norma portuguesa/norma galega]

 

Um estudo revelava dias atrás que 60% das moças sofrem insultos e ameaças machistas de parceiros e amigos no telemóvel e que parte delas acha que algum "controle" é "normal" e sinal de preocupação e amor.

Assim é que estamos no quinto ano da crise global: com a violência que não pára - regridem as denúcias, progridem as agressões -, no seio dum sistema que tem a violência como penhor da sua continuidade: a violência dos despejos de prédios, a repressão dos movimentos sociais, a violência de receber 500 € mensalmente... para além duma omnipresente cultura audiovisual que apresenta modelos de mulher à medida dos estereotipos patriarcais. Terreno fértil para que unha moça de 14 anos pense que se um moço agir com alguma violência será porque a quer bem, primeiro passo para chegar a agressões e assassínios machistas entre adolescentes que nos espancaram este ano.

Não poderemos dar cabo do labéu social do terrorismo machista, que mata mais mulleres que qualquer outra causa, se não formos às raízes fundas onde é que este se gesta: um sistema económico que relega as mulleres a uma posição subordinada, uma cultura que nos torna posses e objetos.

Con motivo do 25 de novembro, Día Internacional pola Eliminação da Violência Contra as Mulheres, pedem-nos as camaradas de além Minho um artigo para a excelente revista A Comuna e nós vamos lhe enviar um S. O. S., uma mensagem de socorro pela situação de acossamento que vivemos as mulheres na Galiza e no Estado Espanhol, onde confluem diferentes ameaças a nos esmagarem: os cortes nos serviços sociais públicos, que lesam duplamente as mulheres – porque são elas que assumem maioritariamente os cuidados doutros membros da família -, a chapota das políticas de Igualdade e das ajudas às vítimas de violência, a comunicação duma regressiva lei do aborto, uma lei de Educação antidemocrática...

Decerto, e infelizmente, esta mesma guerra contra as mulleres estais a sofrê-la em Portugal, como em toda a Europa da troika, pois a crise – ou, falando certo, calote – serviu como pretexto para re-situar as mulheres con maior crudeza no papel que o sistema capitalista nos reserva: a reprodução da força de trabalho e o peso sobre nós da manutenção e cuidado das massas proletarias, suplindo com o nosso esforço os direitos que o estado social em retirada abandona. Asim é que recai sobre as mulheres o maior peso da atenção a pessoas dependentes, as mesmas que suplem os cortes nas cantinas escolares, as mesmas que assumem os cuidados a pessoas doentes a quem os imorais cortes sanitários deixam à rasca –  na Galiza está a se desmantelar a Sanidade pública –, o que se vem a unir às tarefas do fogar e ao cuidado de crianças, que seguem a ser ocupações maioritariamente femininas.

Por isso, às feministas europeias não nos fica outra opção senão unirmo-nos contra esta ofensiva patriarcal, que é global, mas que adota formas comuns e específicas no nosso continente. Por isso, a esquerda europeia – e com mais razão a dos estados do sul, a quem a arquitectura infernal do euro nos tem reservado o papel de periferia – devemos aproveitar as eleições ao Parlamento Europeu do ano vindouro para que, no mínimo, sirvam como alto-falante da situação que vivemos as mulheres  - e o coletivo LGTB –: um retrocesso brutal nas condições de vida, em direitos e liberdades por todo o continente.

Os comícios europeus de 2014 devem pôr na agenda política aquilo de que sempre se fala em segundo lugar, embora prejudique à metade da humanidade: as macro-redes de tráfico de pessoas e prostituição forçada, o terrorismo machista, a pobreza que atinge en maior grau a população feminina europeia (un 25% das mulheres da UE-28 acham-se sob risco de exclusão social), as redes de pederastia e Europa como ponto donde sai o turismo sexual, a inferior taxa de atividade, inferior remuneração laboral e maior temporalidade (32% de taxa de emprego parcial nas mulheres defronte ao 9% dos homens), o trabalho feminino precarizado e na economia submersa, a exclusão social das mulheres diminuídas e das mulleres anciãs na avelhentada Europa, os infernos da anorexia e a bulimia induzidos pola "cultura" dos grandes média, os atentados plásticos contra o corpo das mulleres ou o questionamento dos direitos sexuais e reprodutivos nos estados da UE. Este é o terreno onde campa a violência de género na Europa, a principal causa de morte feminina.

Assim, desde a Galiza, aguardamos que esta pequena mensagem de auxílio inconexa seja o início duma ponte de sororidade com as feministas do sul do Minho e que gritemos juntas no nosso idioma comum: nem submissas, nem escravas, mulheres livres e liberadas na Europa dos povos!

Paula Vázquez Verao, responsável de Organização de Anova

Artigo relacionado: Violência de género na Europa«No Tempo das Borboletas».

 

A Comuna 33 e 34

A Comuna 34 capa

A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil"EditorialISSUUPDF

 capa A Comuna 33 Feminismo em Acao

A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação"ISSUU | PDF | Revistas anteriores

 

Karl Marx

 

 
 

Pesquisa


Newsletter A Comuna