Testemunho 25 de Abril Versão para impressão
Sexta, 16 Maio 2014

Testemunho 25Abril. ilustração Maria João BarbosaHouve exames, não foram só "Passagens Administrativas" como alguns querem fazer crer. Só tive uma cadeira com PA, aquela em que o professor estava envolvido no movimento e não aparecia às aulas!

 

testemunho de Noémia Nunes

 

De manhã cedo, como habitualmente preparava-me para ir para a Faculdade de Ciências, andava no 4º ano do curso de Física, e estranhei a música que se ouvia no ar, dos rádios da vizinhança.

O meu pai tinha ido à padaria buscar pão para o pequeno almoço e chegou comentando que lhe tinham dito "parece que há para aí qualquer coisita", mas nada que impedisse a ida às aulas.
Depois foi o nervosismo e a excitação. Era o hino nacional, marchas militares e as canções de protesto, telefonemas avisando que poderia haver escutas...! "Aqui, posto de comando do Movimento das Forças Armadas"... e os comunicados escritos e lidos aos microfones do Rádio Clube Português.
Já não fui às aulas mas não me deixaram sair nesse dia e só a 26 de abril fui para a Faculdade. Era indiscritível! Na avenida das palmeiras e nos longos corredores era a alegria e a sensação de liberdade. Um professor andava eufórico com as chaves da Associação sem saber a quem as entregar...
De tarde, ao passar pelo Largo de Camões, percebemos porque não tínhamos aulas de "Métodos Matemáticos da Física" ... o professor estava a comandar operações!
Foi um tempo em que os medos podiam acabar, não haveria mais colegas a irem compulsivamente para a guerra! Não haveria mais funcionários/informadores da pide! Já não chumbaria por participar nas RGA! Havia LIBERDADE!
Reuniões Gerais de Alunos ao ar livre, no Jardim Botânico, com listas de professores para avaliar do seu saneamento. E alguns deram luta, porque a "onda" era sanear e quando os próprios alunos não concordavam deu luta para ficarem. Houve exames, não foram só "Passagens Administrativas" como alguns querem fazer crer. Só tive uma cadeira com PA, aquela em que o professor estava envolvido no movimento e não aparecia às aulas!
Foram sonhos de justiça, de igualdade, de liberdade! Ainda houve mortes de quem apenas queria defender estes ideais.
Anos mais tarde, como delegada e dirigente sindical da Função Pública foram as lutas, com derrotas e vitórias que não se apagam da memória e que agora tudo tem vindo a ser roubado sem pudor. Já quase que não existe "pedra sobre pedra" dessas conquistas!
Apesar de tudo ao que agora assistimos, não foi em vão e valeu a pena.
"Foi um sonho lindo que acabou ...", como diz Zé Mário Branco.

Noémia Nunes - A Comuna nr. 31 (Maio 2014) 23-24.

edição Especial 40 Anos do 25 de Abril.

ilustração: Maria João Barbosa/LunaKirscheIllustration para A Comuna

 

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