Quinta, 26 Fevereiro 2009 |
A crise não é orfã nem resultou de geração espontânea. Ela é criação de um modelo de desenvolvimento do capitalismo assente na proletarização geral conseguida através de baixos salários e precariedade crescente; na sobreprodução escoada através da generalização do crédito; na detruição do emprego, consequência da aposta na financeirização económica e na especulação em detrimento da aposta na economia real e produtiva.
Este é o modelo económico que, em Portugal, sem interrupções mas com muitas alternâncias (sem alternativa) o PS e o PSD têm vindo a praticar. Eles não foram meros espectadores a ver acontecer. Eles foram intervenientes a fazer acontecer. Agora que estoirou, procuram abrigar-se debaixo do cobertor que para tudo serve. Desemprego? É a crise! Encerramentos em catadupa? É a crise! Quebra do poder de compra? É a crise! Emergência de crise social? É a crise! Para tudo é a crise...
Mas o cobertor é curto demais e se cobre os pés destapa a cara... Então não foram eles que aplicaram taxativamente, como política a la carte, todas as políticas de liberalização do mercado, desregulamentação laboral e emagrecimento do Estado na intervenção no plano económico? Pois eles são responsáveis por terem promovido e criado um sistema sem background de soluções para erros críticos.
Se fica claro que o Capitalismo e os defensores do neoliberalismo foram sacudidos no abalo da Crise e que esta veio colocar em perspectiva a ideia de que só existia um modelo económico-social de desenvolvimento, fica também claro que os social-liberais da Terceira Via e da social-democracia moderna devem dedicar-se à análise crítica das suas premissas.
Para os teóricos da Terceira Via o socialismo não existe enquanto alternativa e o capitalismo é, enfim, o modelo único a que a Esquerda se deve adaptar numa perspectiva humanizante e regulatória. Se para muitos parece atractiva a ideia da “regulação”, aquilo que nos é traduzido por esta proposta é que à Esquerda a única aspiração é a da aceitação tácita do mercado (ainda que a pontue com uma ou outra pseudo-regulação); reformista para com o Estado-Providência (onde se substitui o seu papel redistributivo por um papel de justeza social); humanizante capitalista, ao recusar a vertente do conservadorismo neoliberal.
Pois perante a Crise o que o modelo originador da Crise nos diz é que não tem soluções. Com ou sem regulações. Fica claro do papel de unicidade e hegemonia ideológica do Capitalismo!
As saídas vêm pela voz do socialismo, na urgência da redistribuição, do investimento e reforço dos Serviços Públicos, do controlo sobre a Banca e sobre capitais financeiros que durante décadas se desenvolveram em roda livre. Para quem defendia que o socialismo já não existia como modelo de administração e que o capitalismo era cardápio único... não há melhor prova que a confrontação com a realidade!
Texto de Moisés Ferreira
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