Acantonados? Versão para impressão
Sexta, 26 Dezembro 2008

Como muitos estive, há duas semanas, no encerramento do Fórum Democracia e Serviços Públicos. Como muitos ouvi com particular atenção o discurso de Manuel Alegre, discurso onde me foram deixados reptos, opiniões e pedidos de definição... em relação ao posicionamento sobre o Poder, por exemplo.

“Há, por um lado, a esquerda do governo, que quando o é deixa de ser praticante. E a outra, que frequentemente se acantona no contra-poder”. Foi assim que Alegre definiu a situação: a primeira definição numa clara alusão ao PS; a segunda é um repto às forças à esquerda desse mesmo PS.

A Esquerda que se quer como alternativa não pode ser acantonada nem remeter-se para fora de jogo com a teoria do contra-poder, ao mesmo tempo que não pode ser a Esquerda do poder pelo poder e da disputa pelos lugares. Esse não é campeonato que nos interesse pois o desfecho está mostrado recentemente em Itália: a teoria quase entrista de puxar os sociais-liberais para o socialismo nunca daria resultado; por sua vez, o resultado da insistência nessa teoria foi o desaparecimento representativo da Esquerda, depois de uma passagem governativa onde se piorou as condições de vida das pessoas. Mas o contrário também não nos interessa... não interessa a quem quer alterar, mudar a realidade e a sociedade. O contra-poder não permite a capacitação instrumental para operar a transformação. Não me parece que devamos ter para com o poder o comportamento fóbico ou de perigo de contágio, mas devemos discutir antes o programa e a concretização.

Alternativa para quê? Governo porquê? Para uma agenda no campo do pleno emprego? Para o abandono da flexigurança, da precariedade e do actual Código do Trabalho? Combate à financeirização e à especulação? Maior intervenção estatal na economia? Desvinculação e saída da NATO? Aumento dos salários e pensões? Renacionalização de sectores estratégicos, como é o caso do energético, trazendo-o novamente para a esfera dos serviços e bens que devem ser públicos? Defesa e melhoria da Escola pública, do serviço nacional de saúde público, da segurança social pública? Todas estas medidas foram lançadas na Aula Magna... Podem não ser um programa revolucionário ou socialista, mas constituem mais um degrau... e um avanço significativo para a melhoria das condições de vida das pessoas e para uma melhor capacidade distributiva da riqueza. Seria para isto a alternativa de poder?

E como chegar lá? A arrumação social e eleitoral das forças à Esquerda do PS não permitem maiorias; e arranjos com o PS é o remake da longa metragem italiana: inútil para o povo, suicida para a Esquerda... Por isso a Esquerda que se quer alternativa tem que criar e alargar a sua própria influência social, fomentando o conflito na base eleitoral do PS. O conflito cavalgará por cima da anti-ideologia da Terceira Via, que tenta eliminar os conceitos de Esquerda e de Direita; agudizará o confronto, consciência e luta de classses, forçando ao reposicionamento social e ao alargamento da Esquerda alternativa. Efectivamente não pode haver neutros!

Moisés Ferreira

 

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