O tempo que o tempo tem |
Sexta, 19 Dezembro 2008 | |||
O tempo é o do neoliberalismo, no seu tempo de especulação máxima. A contradição entre classes, entre as capacidades sociais da produção e a apropriação privada dos meios de produção está no seu tempo de maior diferenciação. O tempo de hoje é o tempo da anulação dos serviços públicos, da destruição completa dos modelos social-democratas de "conciliação de classe", do retorno à precariedade geral. Texto de Victor Franco
"O tempo perguntou ao tempo / Quanto tempo o tempo tem / O tempo respondeu ao tempo / Que o tempo tem tanto tempo / Quanto o tempo que o tempo tem". O tempo é o do neoliberalismo, no seu tempo de especulação máxima. A contradição entre classes, entre as capacidades sociais da produção e a apropriação privada dos meios de produção está no seu tempo de maior diferenciação. O tempo de hoje é o tempo da anulação dos serviços públicos, da destruição completa dos modelos social-democratas de "conciliação de classe", do retorno à precariedade geral. Na electricidade como na vida, o aumento da tensão entre pólos não significa imediato movimento, imediata energia, imediata acção. O aumento da tensão entre pólos só garante que, quando essa tensão poder ser usada, ela desencadeará um "curto-circuito" ou um movimento mais ou menos (des)controlado. E a tensão política e social está a aumentar. Na electricidade o curto-circuito acontecerá se desaparecer, de repente ou não, a capacidade de isolamento que o aumento da tensão exige. Quanto mais tensão, mais isolamento mais capacidade de contenção é precisa. Tal como na electricidade, na política a acção das massas poderá ser contida, poderá ser muita contida [oprimida] mas não o poderá ser sempre. Na electricidade os materiais desgastam-se ou avariam-se provocando curto-circuitos, por vezes com consequências imediatas e globais - vejam-se os apagões que chegam a afectar vários países. No capitalismo as forças, as estruturas e as suas instituições também se desgastam - por vezes com curto-circuitos e movimentos mais ou menos (des)controlados como o que acontece na Grécia. E quanto maior a tensão maior a dificuldade em suportar esse desgaste. É assim na vida das pessoas. É este o tempo que o tempo tem. É por isso que assistimos a alterações e adaptações significativas nos aparelhos de Estado, ou a transmutações partidárias das quais a mais significativa é a passagem da "Internacional Socialista" para o campo da burguesia mais corrupta e reaccionária. Em consequência, o espaço da oposição ao neoliberalismo alargou-se. Não temos muito tempo para enfrentar o tempo que o tempo tem - a não ser que, façamos como o PCP - e recusemos o tempo novo. O que é física e humanamente impossível. Quem o pensar será simplesmente derrotado. Por isso o tempo é o de ocupar esse espaço, de procurar alianças sociais e políticas - aliás, o que tem sido todo o caminho de construção do Bloco. Os tempos novos podem assustar, é verdade, podem trazer incertezas ou inseguranças, é verdade, mas o nosso tempo é o futuro. E para isso, o tempo não tem muito tempo! Alianças não significam plenas concordâncias - significam acordos concretos em temas concretos para uma oposição concreta. Alianças sociais não significam desaparecimento de identidade nem esquecimento do passado. O Bloco tem uma linha de luta contra a guerra, pelos serviços públicos e pelos direitos do trabalho. As alianças reforçam as causas. As divisões no adversário também.
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação" | ISSUU | PDF | Revistas anteriores
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