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Quarta, 16 Dezembro 2009
A União Democrática Popular (UDP) nasceu há trinta e cinco anos.

Artigo de Carlos Santos

No dia 16 de Dezembro de 1974 fui ao Teatro Capitólio. Era um acontecimento importante: ia ser anunciada a constituição de uma nova força política que ia concorrer às eleições constituintes de 1975.

Eu tinha então 21 anos. Os últimos 8 meses tinham sido de um activismo intenso. Uma experiência absolutamente nova para os meus três anos de militância, em que se trocara as "vietnamitas"1 e os comunicados clandestinos, pela acção de massas.

Esses meses tinham-me confirmado a necessidade de uma esquerda diferente do PS e do PCP. O Partido Socialista cedo começara a caminhar para a aliança com PSD e CDS. O PCP mostrara o que significava o "partido único da esquerda": oposição às acções que não controlava; campanha sectária contra qualquer força à esquerda que não dirigisse. Quem não se submetia ao comando do PCP, sobretudo numa região como a Margem Sul onde eu vivia, era de imediato alcunhado como sendo da "CIA".

A nova força que se anunciou nesse dia era uma resposta a essa situação na esquerda. Concebida como frente eleitoral de grupos marxistas-leninistas adoptava um nome simples, que tinha a ver com a realidade que se vivia: União Democrática Popular.

Significava de facto unidade, junção de forças em torno de um projecto político, o que era algo novo num tempo de grupos e grupinhos. Os activistas de uma esquerda que queria mais e queria ser marxista num tempo novo.

Nasceu então esta força política que marcou o seu tempo e que sintetizou um lema: "servir o povo e nunca servir-se dele".

Ao longo dos anos o desacerto político foi muitas vezes a realidade, da tradição da esquerda repetiu-se por demais o sectarismo e os dogmas. Porém, foi capaz de ganhar raízes e o lema ficou. Por isso, o projecto político marcou e o projecto ideológico perdurou.

35 anos depois questiona-se: valeu a pena? Certamente! Não só porque respondeu a algo do seu tempo, como sobretudo porque abriu portas para o projecto político de uma esquerda nova, para a luta pela construção de uma alternativa política de poder realmente à esquerda.

Ficou também um projecto ideológico para desenvolver, o de uma esquerda marxista: que contribua para superar as várias tradições anquilosadas do modelo soviético e do chamado "movimento comunista internacional"; que ajude a responder à realidade do mundo contemporâneo sem pactuar com as barbaridades dos pretensos socialismos reais; que entenda a democracia como algo vital para a sua existência e para a renovação do pensamento dialéctico; que saiba ir para além de pequenas capelas e grandes slogans. E, acima de tudo, que seja capaz de dar uma nova dimensão à palavra "Revolução".

Carlos Santos

1 "vietnamita" - antiga e precária impressora de comunicados.

 

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