Andorra é já aqui! Versão para impressão
Domingo, 15 Novembro 2009

A derrocada de um túnel em Andorra dominou os noticiários do fim-de-semana passado, até pela circunstância de as vítimas – três mortos e vários feridos – serem todos portugueses.

Infelizmente, foi apenas do episódio mais recente duma tragédia humana que marca o quotidiano de milhares de operários portugueses da construção civil que buscam o ganha-pão por terras de Espanha e por essa Europa fora, numa tentativa quase sempre frustrada de fintar a crise.

Não é mera coincidência que todas as vítimas sejam portuguesas, justamente por ocuparem a linha da frente dum combate desigual contra as más condições de trabalho e segurança, a fúria da natureza e a precariedade.

 

Portugueses em Andorra, brasileiros ou ucranianos em Portugal…

Apesar de não remediar o mal, é de assinalar o gesto do governo de Andorra ao decretar um dia de luto. Se este gesto fosse imitado em Portugal e noutros países, de cada vez que morre um imigrante, a construção civil parava muitos dias, mesmo sem crise…

O choque provocado pelas mortes de Andorra deve fazer-nos reflectir sobre as condições de vida e de trabalho precárias de milhões de imigrantes por toda a Europa, sobretudo dos que se vêem perseguidos por políticas segregacionistas e xenófobas que só alimentam as redes de trabalho clandestino e as máfias que o exploram.

 

Livre circulação ou livre exploração

Não era o caso dos portugueses em Andorra, que gozam da livre circulação no espaço europeu. Mas nem estes estão livres da exploração desenfreada.

A última moda na agricultura, por exemplo, é recorrer a trabalhadores comunitários (búlgaros, romenos, polacos, checos, lituanos…) que podem permanecer legalmente até três meses, sem sequer terem de comunicar a sua presença às câmaras municipais. Fazem uma campanha de dois meses em Portugal, dois meses em Espanha, dois meses em França… sem contratos, nem horário de trabalho, nem salário mínimo, nem impostos, nem segurança social.

No Verão passado, foi denunciada a situação de semi-escravatura de onze trabalhadores romenos numa aldeia do Alentejo, sem receberem salário e sujeitos a agressões. Eram forçados a sair às duas ou três da manhã para a apanha do melão, regressando ao meio-dia à casa onde estavam sequestrados. Noutro caso, uma carrinha que transportava trabalhadores romenos embateu numa ponte, pois o motorista não resistiu ao sono. Um dos ocupantes teve morte imediata.

A indignação pelas mortes de portugueses em Andorra deve abrir-nos os olhos para o que se passa à nossa porta.

 

                                                                                                                       Alberto Matos

 

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