Café a 0,30€: Economia e civilização contra o Capitalismo Versão para impressão
Sábado, 14 Novembro 2009

Diante uma chávena de café, tropeço numa memória. Recordo o dia em que, no primeiro ano do meu curso, na aula de Introdução às Ciências Sociais, falámos numa tribo (cujo nome não me ocorre, mas julgo que era da África Subsaariana)… Essa tribo fazia todos os anos uma festa na qual destruía todo o excesso de produção. A ideia era simples e razoável: quando havia produção a mais, isto é, para além das necessidades da tribo, esse excesso era motivo de cobiça e interferia na organização social. Havia que eliminar a causa do mal-estar social

 Artigo de Bruno Góis

 

O que me fez tropeçar nesta memória foi o local onde estou a beber o café. Estou num bar perdido algures num departamento de uma autarquia (não digo onde é, é segredo). O que esse bar tem de interessante é o facto de não ser explorado por nenhuma empresa exterior à autarquia, nem pela autarquia, nem por nenhuma associação formal dos funcionários. O bar é gerido pelos funcionários do departamento, os quais se auto-organizam. A cada trimestre é gerido por uma divisão do departamento. Mas o mais importante não é isso: é que paguei 30 cêntimos pelo meu café. Melhor dizendo, os preços dos produtos são controlados de forma a garantir o pagamento dos custos totais do produto e do funcionamento do bar (incluindo equipamentos e sua amortização) sem a obsessão capitalista pelo lucro. Ainda assim, há lugar para algum lucro. O lucro reverte para festas sazonais: sardinhada no Verão, festa de São Martinho, Jantar de Natal…

O critério usado para aquelas duas “economias” é o do bem-estar colectivo. O bem da comunidade é posto acima do lucro (1) a tal ponto que, satisfeitas as necessidades de todos e todas, de cada um e cada uma, o lucro é destruído/consumido colectivamente.

Volto à ideia do café: eu quero pagar 30 cêntimos pelo café e comer uma sardinhada no Verão. É isso mesmo! mas não é so isso. Estes exemplos de gestão dos recursos ao serviço dos interesses colectivos servem apenas para ilustrar o juízo evidente de que bárbaras são as crises de sobreprodução do Capitalismo. Há um potencial de economia nova que está espartilhado pelos interesses da Burguesia. Existe já desenvolvimento tecnológico e existem os recursos necessários para um bem-estar e uma justiça social global. Será necessário muito trabalho para isso? Naturalmente. Tiremos os burgueses do caminho e arregacemos as mangas!

 

(1) Nota: No primeiro caso, não há lucro no sentido capitalista, há uma sobreprodução passível de ser acumulada.

 

A Comuna 33 e 34

A Comuna 34 capa

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