2ª Guerra Mundial – Um breve retrato |
Domingo, 18 Outubro 2009 | |||
Setenta anos passaram sobre o início da maior catástrofe sofrida pela humanidade, a segunda guerra mundial. E no passado dia 6 de Junho pudemos comemorar o sexagésimo quinto aniversário da invasão, pelas forças anglo-franco-polacas, da França ocupada pelos nazis. A abertura desta segunda frente iria ser decisiva para a derrota das forças nazis e fascistas do «Eixo». A primeira frente foi, durante três longos anos, sustentada pelas forças soviéticas que tiveram que enfrentar sozinhas no terreno, embora fortemente apoiadas logisticamente pelos EUA e a Grã-Bretanha, a ofensiva esmagadora dos exércitos nazis. A partir do inverno de 1942 lançaram a contra ofensiva que, com a abertura da segunda frente pelos aliados, só terminaria em Berlim. A grande depressão de 1929, com início nos EUA, teve um papel central no desencadeamento da II Guerra Mundial. Da sua propagação à Europa resultou a ascensão política e eleitoral de organizações, de início aparentemente híbridas, que se transformaram nos movimentos nazi e fascista. Elas cresceram a cavalo da derrota do movimento operário no período subsequente à I GM, de que são expoente máximo as derrotas da revolução húngara em 1918 e da revolução spartakista em 1919, na Alemanha, desencadeadas sob influência da revolução bolchevique de 1917. Hitler a partir de um programa de orgulho nacional, sustentado na humilhação imposta pelo Tratado de Versalhes e rapidamente transformado em orgulho racial; deitando mão de enormes fraudes financeiras ao nível do Estado, jogando com a dívida pública a curto prazo, apoiando sem limites os grandes capitalistas em pânico com a onda avassaladora gerada em Wall Street e que exigiam medidas draconianas, conseguiu acabar com o desemprego que massacrava o proletariado pela realização de obras estatais de grande envergadura nomeadamente uma poderosa indústria de guerra violando ostensivamente o Tratado de Versalhes. Assim conseguiu livrar-se, no imediato, da crise em que mergulhava o mundo capitalista. Rapidamente se colocou a necessidade da guerra de expansão como alternativa à ameaça potencial da revolução quando chegasse ao fim a capacidade nacional de aguentar e sustentar as medidas postas em execução. O objectivo declarado era conquistar novos territórios para alimentar a nação e instalar o excedente da produção, como já previa o programa do partido nacional socialista Hitler dizia no Mein Kampf: «Quando falamos hoje em novas terras no continente europeu, pensamos antes de mais na Rússia e países vizinhos dela dependentes.». E já antes, em 1937, declarava numa conferência:«Para nós não se trata de conquistar povos mas apenas conquistar terras para utilização agrícola». E Himmler acrescentava que não estavam interessados em germanizar os povos, mas sim «que no leste possa viver um povo de origem puramente alemã». Expansão e Extermínio O programa nazi de extermínio generalizado estava claro desde o início para quem o quisesse entender. Daí que todas as hesitações que estimularam a agressão nazi não possam ser desculpadas. Apenas poderão ser entendidas como uma abstenção, senão mesmo um apoio sonso, quanto à previsível agressão à União Soviética. A prática europeia de guetização dos judeus por prosaicas razões económicas e demográficas, sempre engalanadas de teologias e escatologias diversas, tornava-os o alvo mais frágil e mais favorável para desencadear a propaganda de polarização de massas que garantisse o maior apoio à política de guerra e genocídio. Os campos de concentração e de extermínio, balançavam entre o radicalismo das câmaras de gás e o produtivismo do trabalho escravo alimentado a 1200 calorias diárias (a quantidade mínima para trabalho sedentário é de 2000 c), até à morte por exaustão ao serviço dos grandes industriais da Krup, Bayer, Hoest, AGFA, BAS, os futuros restauradores sem mancha do futuro Estado democrático alemão. A guerra falsa, ou seja a contemporização da Inglaterra e da França com a ousadia de Hitler na anexação da Áustria e a cedência às suas exigências nos Sudetas, contempladas no Pacto de Munique, rapidamente deu lugar à invasão da Polónia e ao início da operação de perseguição aos judeus polacos a que se seguiu o seu internamento nos campos de concentração início da política de extermínio até à solução final. Quando a URSS, perante a iminência da guerra, se deparou com as hesitações das delegações da França e Grã-Bretanha que estavam em Moscovo para assinar um pacto de apoio mútuo, acabando por se retirarem com a alegação de que não estavam investidas da necessária delegação de competências, Stalin percebeu o que o esperava. E o Pacto germano-soviético* é assinado uma semana antes do início da guerra, a 1 de Setembro de 1939. As tropas da URSS, sob o comando de Jukov tinham acabado de derrotar os japoneses. Hitler, apesar de estar convencido da fragilidade das forças soviéticas para resistirem a uma invasão, não podia já contar com a frente nipónica o que ajudou a decidir-se pela ofensiva contra a França garantindo previamente que também ele não se veria confrontado com duas frentes. Stalin agarra a oportunidade com ambas as mãos e consegue assim atrasar a invasão que estava escrita no vento. As consequências político-ideológicas nos partidos comunistas são graves, gera-se desorientação e divisão que só depois da invasão da Rússia pela Wermacht em 1941 se invertem no sentido de apoio total ao esforço de guerra soviético. Podemos interrogar-nos o que teria acontecido se Hitler tem invadido a Rússia em 39. É um exercício académico que não leva a lado nenhum. Mas podemos afirmar que assim Moscovo pôde ser defendida, Leninegrado encontrou forças para resistir e a vitória de Stalingrado, sob o comando do marechal Vasili Chuikov, possibilitou o princípio do fim do nazismo, criando as condições para o êxito da operação Overlord, ou seja o desembarque na Normandia pelos aliados sob o comando do general Eisenhower no dia 6 de Junho de 1944. O desastre iminente dos nazis em Stalinegrado levou o Papa Pio XII a acudir com as suas armas mais refinadas na mensagem de Natal de 1942: «A hora não é de lamentações mas de actos... Possuídos pelo entusiasmo das cruzadas unam-se os melhores da cristandade...ao grito: 'É Deus que o quer'! Prontos a servir e a sacrificarem-se como os cruzados de antanho. Exortamo-vos e conjuramo-vos... a compreender intimamente a gravidade terrível das presentes circunstâncias. Quanto a vós, voluntários que participais nesta santa cruzada dos novos tempos, levantai o estandarte... declarai guerra às trevas de um mundo sem Deus». Pode parecer estranho este apoio católico àquele a quem se atribuiu o sacerdócio do paganismo, mistura de Nietzsche e Wagner, sendo que nenhum destes dois é culpado. Mas, de acordo com o Dr. Otto Dietrich que viveu no círculo íntimo de Hitler, este nunca deixou a Igreja católica tendo proibido mesmo que chamassem a Carlos Magno o carniceiro dos saxões, pois Carlos Magno cristianizou a Alemanha e Hitler, como ele, queria unir os alemães e criar o império. Havia sobretudo entre a Alemanha nazi e o Estado do Vaticano uma coincidência preciosa: as vítimas do holocausto eram também os inimigos da Igreja: comunistas, judeus, ortodoxos, ciganos, homossexuais... Guerra e Resistência Mas antes de Stalinegrado, muitas outras grandes batalhas contribuíram, no esforço comum levado a cabo pela Grã-Bretanha, Estados Unidos (mesmo antes de entrarem directamente na guerra Roosevelt deu grande apoio material à Grã-Bretanha e à URSS com o expediente apresentado ao povo norte-americano do empréstimo-aluguer), URSS e a resistência nos países ocupados, a Grécia, a Albânia, a Jugoslávia, a Itália e a França para a lenta, dura e dramática construção da grande vitória contra o nazismo e o fascismo. A resistência francesa começou logo em 1940 quando a derrota e a capitulação da França deixaram a maioria dos franceses esmagados e desorientados, na dúvida e no desespero, agravados pelo não entendimento ou aceitação do Pacto Germano-Soviético. Foram os comunistas quem, enfrentando incompreensões no próprio seio, lançaram as bases da resistência e, durante dois anos, até 1942, foram o núcleo, não apenas fundamental como seria até à libertação, mas único. Charles Tillon, Jean Moulin, Madeleine Marzin, Gabriel Péri, Claudine Chomat, Laurent Casanova, entre muitos e muitos outros, enfrentaram a repressão fascista de Vichy, a Gestapo, os fuzilamentos e as deportações para os campos de concentração e extermínio, lançando-se na luta armada mal se dá a abertura da frente russa, criando as condições para o alargamento da frente da resistência a outras forças democráticas nomeadamente aos partidários de De Gaulle. Os franco atiradores e os partisans (Le chant des Partisans era a segunda marselhesa na França libertada) passaram a fazer parte do imaginário antifascista, democrático e revolucionário. A eles se deve a tomada de Marselha e a insurreição de Paris. Mas desde logo o apoio inestimável prestado aos aliados na preparação da invasão e desde que puseram pé em solo francês a 6 de Junho de 1944. A invasão que estava planeada para dia 5, mas adiada para dia 6 devido às condições meteorológicas, foi comunicada à resistência pela leitura, através da rádio livre, do poema de Paul Verlaine, Chanson d'Automne: Os longos dos violões
pelo outono
E choro, quando
ouço, O Grande Esforço dos Ingleses A invasão da Europa estava na mente de Churchill desde 1940, e foi decidida em Casablanca em Janeiro de 1943 entre Churchill e Roosevelt com o apoio de Stalin que não pôde estar presente por causa das operações em território soviético, nomeadamente a exploração do sucesso depois da liquidação do exército de Friedserich von Paulus em Stalinegrado. A ideia era atravessar o Canal da Mancha - chegou a pensar-se na invasão a partir do norte de África ou mesmo a partir da Turquia, o que seria um sério disparate por causa do enorme alongamento das linhas de abastecimentos - em Setembro de 1943, com Stalin a pressionar para que se realizasse durante a primavera desse mesmo ano ao mesmo tempo que censurava o abaixamento da actividade aliada na Tunísia que teria permitido aliviar as forças alemãs e o envio de tropas para reforço da frente europeia com a URSS. Mas, de facto, o que se passara fora a derrota sem apelo de Rommel em Al-Alamein e a evacuação das tropas alemãs que restavam para a Europa. O norte de África pôde então tornar-se a base de ataque para a invasão da Sicília. Hitler, que jurava ter aprendido com a I Guerra Mundial e nunca combateria em mais que uma frente, foi obrigado a combater em três frentes: na Rússia, na Itália e, depois de Junho de 1944, na Europa Ocidental. Mas a operação Overlord dificilmente poderia ter-se realizado se os ingleses num espantoso esforço sobre-humano, de calma , disciplina e bom senso dos soldados sob a metralha dos Stucka, e dedicação e sacrifício populares não tivessem conseguido evacuar o seu corpo expedicionário num total de 200 mil homens mais 125 mil franceses que iriam poder voltar à luta contra Hitler, apesar dos 2 milhões de perdas entre os quais 90 mil mortos. Nem se o povo inglês e a sua Royal Air Force não tivessem vencido heroicamente a batalha de Inglaterra (Jul/Out 40), auxiliados pela extraordinária eficácia do sistema de radares que cobria os céus de Inglaterra e se tornou num ex-libris da batalha de Inglaterra, ao lado dos Spitfire e dos Hurricanes. Nem se, nas águas geladas do Atlântico Norte (Maio 41), não tivessem persistido até afundarem o mais bem preparado e armado couraçado alemão o Bismark. Ao conseguir o seu afundamento ao fim de uma perseguição de oito dias em que os Catilina, hidroaviões de reconhecimento, tiveram um importante papel a detectar as posições do couraçado, os ingleses desmoralizaram a ainda muito inferior marinha alemã que já passara pela humilhação de ver o seu couraçado de bolso (cruzador pesado) Graf Spee ser afundado ignominiosamente pela própria tripulação, cercado no Rio da Prata, na Argentina, pelos cruzadores ingleses. O afundamento do Bismark permitiu à Grã-Bretanha confirmar o seu domínio naval e teve um efeito decisivo na batalha do Atlântico que havia assumido papel fundamental no abastecimento, a partir dos EUA e do Canadá, da Inglaterra e da URSS quer em géneros quer em armamento e munições. Entre 1 de Outubro de 41 e o fim de Junho de 43, os EUA despacharam para a Rússia 2.444 milhões de dólares em fornecimentos sob acordo de empréstimo, distribuíram pela Inglaterra e a Rússia 1.200 tanques por mês chegando mais tarde aos 2.000 e 2.500 e 3.600 aviões de combate. Esse esforço, também ele fantástico, teve que enfrentar os temíveis U-Boat, os submarinos que durante meses afundaram centenas de milhar de toneladas. Se o Bismark não tivesse sido afundado, os submarinos teriam podido atacar com poderoso apoio de superfície não apenas do Bismark mas de muitos outros navios que Hitler desistiu de construir desiludido da possibilidade de fazer frente à Home Fleet à superfície, tendo mesmo mandado desmantelar uma série de navios aproveitando os materiais para construir outro tipo de armamento. Nem se a estratégia** de Stalin e o esforço magnífico dos moscovitas não tivesse permitido vencer o cerco de Moscovo,(Out/Dez41) opondo aos alemães a determinação dos soldados russos dispostos a tudo para defender a sua pátria. A Batalha de Malta,(Dez 41/Jul42) essa pequena ilha, improvável e inexpugnável fortaleza, permitiu garantir o domínio aéreo no Mediterrâneo o que contribuiu decisivamente para a derrota de Rommel no deserto e para a segurança da invasão da Sicília que se lhe seguiu. Durante o cerco a Malta por ar e mar, a sua heróica população chegou a atingir um estado de quase inanição. Vêm Aí os Americanos Stalingrado entre Novembro de 1942 e Janeiro de 1943 destroçou o Sexto Exército alemão e ditou o fim da invasão da Rússia pondo o resto das forças em debandada até o grande estratega alemão Erich von Manstein, responsável pelos planos de invasão da França, conseguir estabilizar a frente. A batalha mais fantástica de carros de combate da história deu-se nos meses de Julho e Agosto de 43 em Kursk onde Hitler pensou poder destroçar as forças soviéticas que avançavam na exploração do sucesso de Stalinegrado. Mas subestimaram não só a capacidade humana e militar como o poderio material do inimigo. Com perdas avaliadas em 100 mil homens e 600 tanques, a batalha de Kursk foi um desastre para Hitler, reforçou extraordinariamente a derrota alemã iniciada em Stalingrado e abriu o caminho para em Novembro serem recuperadas as cidades de Kharkov, Smolensk e Kiev. Os alemães recuaram mais de 350 quilómetros tendo a URSS reposto a fronteira de 41 e de nada serviu a famosa Parede Leste, uma imitação precária da Linha Maginot já de si sem utilidade nesta guerra, e que seria suposto travar a contra-ofensiva soviética. Em 7 de Dez de 1941 teve lugar um dos factos mais decisivos para o desenrolar e para o desfecho da guerra. Refiro-me ao ataque de surpresa do Japão à base naval norte-americana em Pearl Harbour. Foi esse ataque que permitiu a Roosevelt convencer o povo americano a sair do seu isolamento e neutralidade e entrar decididamente na guerra. Por outro lado, os navios afundados durante o ataque não puseram em causa a capacidade naval norte-americana no pacífico porque as principais unidades, e que eram e são decisivas nas batalhas navais, os porta-aviões, estavam a navegar de regresso à base mais a sua escolta de poderosos cruzadores e contratropedeiros. O ataque a Pearl Harbour era esperado e terá mesmo sido provocado pela recusa - que não era indispensável - dos EUA em aceitar as condições mínimas propostas pelo Japoneses quanto à "convivência" de ambos no Pacífico. Por isso quando Dick Cheney depois dos ataques às Twinn Towers disse que tal equivalia a Pearl Harbour, permitindo avançar para a guerra no Afeganistão, muita gente considerou legítimo levar até às últimas consequências a semelhança, ou seja que o ataque às torres gémeas tinha sido provocado pela própria administração Bush ou, pelo menos, pelos seus elementos mais dedicados: o grupo Cheney, Wolfowitz e Rumsfeld. Pearl Harbour e a declaração de guerra que se lhe seguiu desencadearam a batalha do Pacífico. Midway, Guadalcanal, Iwojima, batalhas dramáticas e mortíferas foram reduzindo o poderio de guerra japonês, enfraquecendo o eixo e dando cada vez mais poderio e prestígio aos EUA. A sua extraordinária máquina de guerra, trabalhando incessantemente ao abrigo de qualquer ataque, no continente americano, alimentava a frente do pacífico, e as frentes africana, atlântica e russa. Dia D, Operação Overlord Desde 41 que Stalin pedia a abertura de uma segunda frente que chegou a ser pensada para a primavera de 43 por Stalin e Setembro do mesmo ano pelos anglo-americanos. Mas os meios necessários não estavam em condições de ser reunidos para tal. E só em Dezembro de 43 foi nomeado o comandante da operação, o General Eisenhower Toda a preparação minuciosa da operação, quer por reconhecimentos ofensivos ou secretos à costa escolhida para o desembarque, quer através dos meios de empastelamento e decifração das comunicações alemãs, a utilização de engodos artimanhas e estratagemas garantiu as condições necessárias de surpresa face a um inimigo que aguardava desde sempre a invasão da costa norte de França e se preparava para ela. Rommel, que estava encarregado de comandar a defesa, reforçava minuciosamente a protecção das casamatas da artilharia de costa convencido que estava que a guerra seria ganha ou perdida nas praias, ao contrário do seu superior, o marechal von Rundstedt, que considerava que a vitória se conseguiria isolando e destruindo as forças inimigas depois de entrarem no continente. A defesa da costa, desde a Holanda a Espanha e ao longo da costa sul de França, estava entregue a 38 divisões de infantaria, e 10 divisões panzer como reserva estratégica móvel, 7 em Pas de Callais e 3 na Normandia. Uma das divisões estava sob o comando de Rommel e as outras às ordens do Führer. A Luftwafe contava apenas com 160 aviões operacionais, 70 caças e 90 bombardeiros o que faz perceber que rapidamente o domínio do ar ficou assegurado pelos aliados. A força conjunta dos aliados contava com 39 divisões - 20 norte-americanas, 14 inglesas, 3 canadianas, 1 da França livre e 1 polaca; 11 mil aviões de combate, 5 mil dos quais eram caças, 2300 aviões de transporte, 2600 planadores e 6 mil navios de guerra, cargueiros e lanchas desembarque. O abastecimento de combustível foi assegurado pelo PLUTO (pipe line under ocean) e, devido à dificuldade em tomar o porto de Cherburgo na primeira fase, o abastecimento de géneros, armamento e munições, foi assegurado através dos portos artificiais, chamados Mulberry Os alemães estiveram sempre convencidos que o desembarque teria lugar no Pas-de-Callais e mesmo quando já se combatia nas praias e a testa de ponte estava estabelecida, Hitler ainda pensava tratar-se de uma manobra de diversão para esconder as verdadeiras intenções dos aliados. A invasão começou pelo lançamento de planadores e para-quedistas atrás das linhas inimigas que antecederam o desembarque nas praias com nomes de código, de ocidente para oriente, de Utah e Omaha atribuídas ao Primeiro Exército norte-americano, e as praias Gold, Juno e Sword ao Primeiro Exército Britânico, sendo canadianas as tropas encarregadas de Juno. As maiores dificuldades foram sentidas pelos norte-americanos em Omaha, tendo o General Bradley chegado a pensar na retirada com 2500 baixas. No final do dia 6 de Junho 250 mil homens estavam desembarcados e controlavam 207 km2. Para uma tal operação as baixas eram relativamente reduzidas: 6 mil norte-americanos e 3.600 ingleses e canadianos. Ernest Hemingway acompanhou e posteriormente relatou, como jornalista, a invasão no sector Fox Green da praia Omaha. Enquanto decorriam as operações, Hitler que ainda estava convencido que a verdadeira invasão não acontecera, lançou a campanha de terror e destruição contra Londres e a 13 de Junho a primeira de 2000 bombas voadoras, BV1, caía sobre Londres. Mas essa campanha não teve qualquer efeito nas operações nem baixou o moral da população civil. Se o ataque fosse dirigido contra os portos donde saíam os abastecimentos para a Normandia, Southampton e Portsmouth, as consequências teriam sido outras. No desembarque foram empregues variados tipos de tanques, chamados os brinquedos de Hobart, saídos da imaginação e da perícia do general Percy Hobart, comandante da 79ª Divisão de Cavalaria, que fora encarregado de conceber máquinas capazes de quebrar a muralha atlântica. Esses carros blindados que os norte-americanos rejeitaram apenas ficando com o Sherman anfíbio, ajudaram a salvar muitas vidas aos ingleses. E tinham nomes e funções esquisitos: tanques de bobina, balde de lixo voador, caranguejo, crocodilo, tanque de sapadores. Com a lenta mas inexorável progressão aliada na Itália, ultrapassando as enormes dificuldades de Anzio e Monte Cassino, em Agosto de 44 a operação Anvil levou as tropas norte-americanas a desembarcar nas costas da Provença contra a vontade de Churchill que queria à força desembarcar na Bretanha o que seria muito complicado dada o poderio de que ainda dispunham as forças alemãs que ainda detinham Brest, Loirent, Saint-Nazaire e Bordéus. O desembarque na Florença contou com o Corpo de Exército francês comandado pelo General De Lattre de Tassigny. Sofreram muito poucas baixas e tomaram Toulon e Marselha e poucas semanas depois estavam nos Vosges e no Jura como previsto. A Derrota Final do Nazismo A batalha das Ardenas foi a última tentativa de Hitler para conseguir uma vitória que devolvesse algum ânimo às suas tropas. Talvez lembrado do êxito que foi a surpresa dos franceses e do Corpo Expedicionário Britânico quando os seus exércitos irromperam pelas Ardenas destroçando as tropas francesas e encurralando os aliados em Dunquerque. E, de facto, a ofensiva das Ardenas surpreendeu de novo tudo e todos. A 16 de Dezembro de 1944 Montgomery escrevia, na véspera, que os alemães estavam totalmente remetidos à defensiva incapazes de qualquer movimento ofensivo. A ofensiva alemã atingiu rapidamente os seus objectivos aproveitando o mau tempo que impedia que a superioridade aérea esmagadora dos aliados se fizesse sentir. Mas rapidamente os reforços aliados inverteram, em nove dias, a relação de forças. Terminava assim a última hipótese, programada e planeada directamente por Hitler, de um volt face no curso da guerra na frente oeste. Do outro lado, a ofensiva soviética iniciada a 13 de Janeiro desmoronou em poucos dias as forças nazis. As vitórias norte-americanas no Pacífico levaram à exaustão do império Japonês. Os soviéticos empenhados totalmente na aniquilação do III Reich, na conquista de Berlim e na desarticulação das frágeis alianças dos alemães no Leste, retardavam a prometida ofensiva contra o Japão o que Truman aproveitou para se decidir pelo apocalipse nuclear, acrescentando aos 100 mil mortos resultantes do arrasador bombardeamento de Tóquio, 140 mil vítimas em 5 de Agosto de 1945 em Hiroshima e 60 mil em Nagasaki três dias depois a 9. Seis dias depois o Japão anunciou a sua rendição incondicional. Se Patton não teve sucesso com a sua ridícula tentativa de prosseguir a guerra, então já contra os soviéticos, Truman arrasou duas cidades para dizer-lhes que quem mandava era ele. Assim lançou o mundo na corrida nuclear e a guerra fria resultante da disputa inter-imperialista. Em minha opinião, independentemente de outro tipo de considerações, se nos ativermos a uma perspectiva geoestratégica e geopolítica, a morte prematura de Franklin Roosevelt em Abril de 1945 marcou muito negativamente a evolução do mundo. As relações criadas entre os dois ao longo do dramático conflito, como podemos constatar na sua correspondência com Stalin, eram de molde a justificar a esperança num desenvolvimento diferente, para melhor, das relações internacionais, apesar do confronto político e ideológico subjacente. * Em próxima revista abordaremos, ainda que sucintamente, duas questões cruciais e muito polémicas da II GM: o «Pacto de Não Agressão» entre a URSS e a Alemanha e o «Protocolo Adicional», assim como a insurreição de Varsóvia e a sua relação com a contra-ofensiva do Exército Vermelho. Mário Tomé
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