Votar sob a ameaça de rockets |
Quarta, 26 Agosto 2009 | |||
Pergunto-me como é possível conclusões deste tipo ao mais alto nível dos EUA, da NATO e da UE? Acreditam mesmo que é possível considerar um sucesso eleições que ocorrem num clima de violência, sob a ameaça de rockets e com uma forte presença de um exército estrangeiro? Que tipo de escolha é possível num país onde não há liberdade?
Artigo de Ana Cansado
No dia 20 de Agosto realizaram-se eleições no Afeganistão onde apesar das ameaças dos taliban, muitos afegãos votaram nas segundas eleições presidenciais e provinciais. Apesar de mais de cem ataques, que resultaram na morte de cerca de nove civis e de 17 membros das forças de segurança afegãs, a votação raramente foi interrompida pela violência e algumas urnas fecharam uma hora depois do previsto para permitir o voto dos eleitores que aguardavam nas filas. Os resultados só serão conhecidos a partir de 3 de Setembro mas os dois principais candidatos às eleições presidenciais, o presidente cessante, Hamid Karzai e o seu antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Abdullah Abdullah já reclamaram vitória. A missão de observação da UE no Afeganistão classificou estas eleições como um progresso e uma vitória para o povo embora reconheça que a participação tenha sido mais fácil no Norte do país que no Sul e que, na verdade, as eleições foram marcadas por uma série de ataques e explosões que visaram urnas de voto e edifícios do Governo em todo o país. O responsável da UE, Philippe Morillon, numa conferência de imprensa na capital, Cabul referiu-se à violência como um meio de dissuasão que não resultou pois os eleitores afegãos foram votar. O chefe da missão da ONU, Kai Eide, realçou o facto de que na generalidade do país houve condições para a população participar nas eleições. Também os aliados Ocidentais do Governo de Cabul, em particular os Estados Unidos, que mantêm cerca de 100 mil soldados americanos no Afeganistão, consideraram positivas estas eleições. Barack Obama definiu estas eleições como uma etapa fundamental da nova estratégia para a estabilização do país e o seu enviado especial para a região, Richard Holbrooke, que acompanhou as eleições em Cabul, disse que ao contrário do que alguns previam as eleições não foram um desastre e que o verdadeiro teste será a contagem de votos. O secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, disse que do ponto de vista da segurança as eleições no Afeganistão foram um sucesso. Pergunto-me como é possível conclusões deste tipo ao mais alto nível dos EUA, da NATO e da UE? Acreditam mesmo que é possível considerar um sucesso eleições que ocorrem num clima de violência, sob a ameaça de rockets e com uma forte presença de um exército estrangeiro? Que tipo de escolha é possível num país onde não há liberdade? No Afeganistão cumpriu-se um ritual da democracia mas sem paz nem liberdade não é possível escolher. A guerra vai continuar, as mulheres vão continuar a ser vítimas de leis inaceitáveis em qualquer democracia e o futuro do Afeganistão será tudo menos estável. Seria bom que a comunidade internacional fosse, pelo menos, mais realista na análise do que se passa no Afeganistão. Artigo de Ana Cansado
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