Do Bem Comum Versão para impressão
Quarta, 26 Agosto 2009
 Agora que começará a campanha autárquica tornar-se-á cada vez mais evidente o discurso que nos diz que as eleições autárquicas e legislativas são muito diferentes. Que nas autárquicas interessam menos os partidos e contam mais as caras; que nas autárquicas deve haver mais conciliação porque se trata de trabalhar para o bem comum.

Este discurso-chantagem é alimentado pelos partidos e por quem está no poder autárquico como forma de diminuir a oposição. Ao darem a entender que os diferentes projectos partidários para a autarquia são virtualmente indiferenciáveis abrem caminho à perpetuação de quem está no poder.

Já todos ouvimos o discurso numa reunião de Câmara, numa Assembleia Municipal, numa Assembleia de Freguesia, num debate ou em qualquer outro local... Há sempre alguém que faz a apologia à não diferença, ao projecto comum entre todos os partidos. A razão: o bem comum.

Arundhati Roy descreve muito bem como funciona a chantagem do discurso no livro que tem exactamente como título Pelo Bem Comum, e como este discurso tende a colocar em prática medidas que favorece tendencialmente oligarquias e interesses, sacrificando e espezinhando sempre os mais pobres e desfavorecidos.

O discurso do bem comum tem como fundo uma perspectiva de conciliação – ou mesmo de inexistência – de classes. Tenta muitas vezes distinguir a política nacional da política autárquica e direcciona-se aos partidos da oposição como forma de os silenciar e responsabilizar pelos projectos do poder.

Naturalmente toda esta chantagem está impregnada de mentira porque se existem diferenças de fundo entre partidos a nível nacional, elas existirão também a nível local.

Aceitar encarreirar pelo discurso do Bem Comum é aceitar que não existem diferenças nacionais e partidárias; encarreirar neste discurso é admitir uma política sem classes e de conciliação que servirá apenas o poder.

De partida para mais uma campanha autárquica há que pensar se existe diferença entre aquilo que o PS e o PSD fazem nas autarquias e aquilo que propõem para o país. Não privatizam os espaços públicos nas autarquias?, Não corrompem o pensamento urbanistico pelas concessões aos imobiliários e aos especuladores?, Não se silenciam face ao aumento do desemprego e da pobreza?

Existem todas as diferenças nas autarquias e é função do Bloco torná-las evidentes. O BE representa uma nova era de política autárquica: mais social e menos imobiliária, com municipalizações e remunicipalizações, com menos privados e Empresas Municipais. Estas e outras medidas evidenciam políticas de classe que só se entendem na luta de classes e não no reformismo da conciliação. O primeiro passo para uma nova era de política autárquica é não cair no engodo do discurso do Bem Comum.

Artigo de Moisés Ferreira
 

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