Dez e dez não são vinte. E são quantos? Versão para impressão
Domingo, 02 Agosto 2009

Com o aproximar das eleições legislativas e autárquicas vários articulistas têm vindo a tornar claro alinhamentos que decorrem de uma preocupação fundamental: a possibilidade de governos de direita no poder central e na autarquia lisboeta . É uma preocupação que merece ser tida em conta.

Artigo de Victor Franco

Cipriano Justo, em artigo no Público de 1 de Agosto, invoca que “o impulso para o voto útil no centro-esquerda, não sendo uma fatalidade, é um apelo dificilmente ultrapassável”. Esta afirmação merece indagação, até porque como também afirma Cipriano Justo “equacionar com quem e em que condições está indicado partilhar a responsabilidade da governação é um exercício que os comunistas devem sempre equacionar”.

Assim importa colocar algumas perguntas fundamentais:

A constituição portuguesa permite um governo de esquerda?

Que premissas consubstanciam a conclusão do que é um governo de esquerda?

Como a esquerda disputa a maioria para ser ela própria governo?

Algumas notas:

A constituição portuguesa assume a importância da propriedade colectiva, das nacionalizações, do papel social e económico do Estado, dos direitos sociais e dos trabalhadores, assume-se pela defesa da paz e em nada nos obriga a permanecer na NATO ou partilhar guerras com o imperialismo. Mesmo no quadro desta União Europeia nada nos obriga a ter políticas de recessão social – em primeiro lugar porque não respeitamos critérios anti-democráticos impostos por bancos centrais que não foram eleitos democraticamente. Em traços muito breves poderemos dizer que é possível assumir uma governação sem a necessidade de uma prévia reivindicação da alteração da constituição.

As premissas estão, elas próprias, indexadas à primeira resposta. As premissas devem incorporar, assim, uma alternativa e uma oposição ao neoliberalismo e começar a suster o seu avanço – agora “castigado” por uma fortíssima derrota ideológica.

Boaventura Sousa Santos, em recente artigo na Visão diz a dado momento que “a esquerda corre o risco de ser mais burra que a direita”. Assim é, quando ela se substitui à própria direita na aplicação do neoliberalismo, na gestão do capitalismo. Quando a esquerda pretende o governo para se confundir com a direita assina a sua própria derrota. Recordemos Fausto Bertinotti nas suas célebre quinze teses: “O facto de que possa construir-se uma transição procurando uma aliança de governo com os reformistas, facto fixado por uma identidade histórica herdada do passado, sofre um golpe mortal na situação actual”. E “sabíamos que a refundação era necessária para reconstruir uma perspectiva revolucionária. Agora damo-nos conta que ela é necessária mesmo para existir”. Bertinotti não parecia burro.

O impulso que dá força à esquerda é o impulso das políticas alternativas – é isso que dá utilidade ao voto para uma maioria social de esquerda. Ao contrário do que diz Cipriano Justo “a resposta ao voto útil” não “teria sido a negociação de um sistema de alianças que garantisse a execução de um programa de governo que invertesse a tendência dos últimos anos”. Precisamente porque quem garantiu a política de direita nos últimos anos não quer garantir uma política de esquerda e porque há quem na esquerda (PCP) se engane quanto ao destino dos seus “tiros”.

A esquerda disputa a maioria social e política, disputa o governo colocando o centro nevrálgico na política – não no absolutismo de uma “unidade orgânica de esquerda”. Boaventura Sousa Santos diz que “as esquerdas têm de mostrar aos portugueses que o coração da esperança continua a bater mais fortemente que o coração do desespero. Não é tarefa fácil, mas não é impossível”. Pois claro, mas a esquerda não se faz só de coração faz-se de razão!

Razão implica alternativa, construção, luta pelo apoio de milhões de pessoas. É isso que o BE faz na política e fará nas eleições vindouras. Mesmo que fiquem algumas pessoas irritadas.

Afinal, a esquerda só é burra quando não sabe o seu lugar.
 

A Comuna 33 e 34

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