"Nós enfrentamos um 11 de Setembro todos os dias no Afeganistão" |
Sábado, 25 Julho 2009 | |||
Quem o afirmou foi Malalai Joya (www.malalaijoya.com), a mais jovem deputada eleita para o parlamento afegão. Ficou conhecida internacionalmente quando em 2003 fez uma intervenção na assembleia afegã que aprovou a nova constituição, denunciando a presença dos senhores da guerra e dos fundamentalistas anti-mulheres nessa assembleia. Em 2005 foi eleita deputada ao parlamento pela província de Farah. Por continuar a fazer semelhantes denúncias em 2006 foi agredida física e verbalmente por outros deputados, e em 2007 teve que passar à clandestinidade depois de ter sido expulsa do parlamento afegão. Artigo de Pedro PombeiroJoya tem denunciado, ao longo da ocupação militar do seu país, que os inimigos da paz naquela região são tanto os Taliban, como a Aliança do Norte e as tropas ocupantes/NATO que os apoiam. Diz que o governo americano traiu a possibilidade de construir uma democracia na região ao trazer para o governo os fundamentalistas da Aliança do Norte. Afirma que o maior problema do povo afegão neste momento é a segurança. Se as tropas da NATO não saírem do Afeganistão, torna-se impossível para o povo afegão lutar contra os inimigos internos da Aliança do Norte e dos Taliban. A morte de civis e a morte de cidadãos opositores aos Taliban está também a contribuir para desviar apoios ao movimento pela paz que emerge e que se tem insurgido em manifestações públicas contra a ocupação militar, por direitos civis e pelos direitos das mulheres. Mandar mais tropas para o Afeganistão é contribuir para promover mais guerra e conflitos. Num país em que os senhores do comércio ilegal do ópio e da guerra fazem parte do governo, as mulheres e as crianças são as principais vítimas. Desde a ocupação que o Afeganistão se tornou o primeiro produtor mundial de ópio, estima-se que seja responsável por cerca de 93% da produção mundial e em que uma grande parte dessa produção é vendida para alimentar o mercado interno dos EUA. Actualmente 87% das mulheres são vítimas de violência doméstica, milhões são vítimas de violações que em alguns casos começam aos 4 anos de idade e em cerca de 80% dos casos os casamentos são forçados. Nas regiões controladas pelos Taliban, as meninas que vão às escolas são frequentemente agredidas, violadas e as escolas incendiadas. A esperança média de vida de uma mulher afegã é de 44 anos. Segundo a Woman Worldwide, o número de casos de violência contra as mulheres tem vindo a aumentar e os números de suicídios de mulheres por imolação também. Já depois da ocupação, inúmeras leis que atentam contra os direitos civis e das mulheres foram aprovadas pelo actual parlamento. Uma lei recente legalizou a violação dentro do matrimónio. E isto não é imputável aos Taliban, o que acontece é que os senhores da guerra que estão de dentro e fora do parlamento são contra as mulheres. Também recentemente um jovem Parvez Kambakhsh, foi condenado a 20 anos de prisão por distribuir um comunicado dissidente na universidade. Outra lei mais antiga contra a qual Joya se insurgiu e que lhe valeu a expulsão do parlamento, foi a lei que deu imunidade aos senhores da guerra e criminosos que fazem hoje parte do parlamento afegão. A 11 de Maio deste 2009, já na era de Obama, Joya denunciou em conferência de imprensa a morte 164 vítimas civis de um massacre resultante de um raid de bombardeiros. Nessa mesma conferência, um jovem testemunhou a morte de 20 familiares. Desde a ocupação, que os Estados Unidos já mataram mais civis inocentes do que a Aliança do Norte ou os Taliban. Joya desmascarou ainda que fazem parte da Aliança do Norte (supostamente apoiada pelos ocupantes/NATO para vencer os Taliban) os principais vendedores de armas aos Taliban. No fundo compõem um ciclo que serve os interesses dos senhores da guerra, um ciclo que se completa e não entra em contradição. Um ciclo que serve de pretexto para a ocupação militar, para disputa de poder geopolítico e económico, materializado por exemplo na questão da disputa energética com a Rússia e na questão do tráfico internacional de ópio. O governo Português tomou a decisão no passado dia 16 de Julho de investir mais 13,745 milhões na guerra de ocupação do Afeganistão, através do envio de uma nova missão composta por 150 comandos. O Bloco de Esquerda criticou e muito bem o envio de mais uma participação militar no Afeganistão. Criticou ainda o facto de decisões de tal natureza serem tomadas sem o pronunciamento no parlamento da Assembleia da República, ficando restringidos às informações pontuais da Comissão de Defesa Nacional. Em vez de serem subservientes aos interesses imperiais dos EUA/NATO, o governo português, José Sócrates e Cavaco Silva deviam ter respeito ao povo afegão, à democracia e aos eleitores que não os elegeram para participar numa guerra. Como já fora citado em tantas outras ocasiões, vale a pena a este propósito relembrar o que respondeu Gandhi quando lhe perguntaram o que pensava da civilização ocidental: "Penso que seria uma boa ideia". Pedro Pombeiro
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A Comuna 33 e 34
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