“Governo Fascista é a morte do Artista” – Estudantes e Figuras de Estilo Versão para impressão
Sábado, 23 Maio 2009

Os Estudantes da Escola Secundária António Arroio atiraram ao Primeiro-Ministro José Sócrates e à Ministra da Educação não ovos, como acontecera em Fafe, mas palavras: “Governo Fascista é a morte do Artista”.

Texto de Bruno Góis

Os estudantes da António Arroio ficaram indignados com o desrespeito do Governo pelo seu trabalho. Sim, desrespeito pelo seu trabalho. Na altura em que os estudantes prestam provas de aptidão artística, são realizadas obras na Escola. Podem arranjar mil desculpas mas nenhum governo autorizaria a realização de obras que incomodassem a realização de uma Cimeira, por exemplo. As provas de aptidão artística são muito importantes para os estudantes, são um momento importante das suas vidas. E não julgo desproporcionado compará-las a uma cimeira: especialmente desde que as cimeiras europeias são chás dançantes comemorativos do ‘bom governo’ de um piloto automático.

A Secção Educativa do Ministério da Propaganda [vulgo Ministério da Educação] não sabia no que se estava a meter quando escolheu a António Arroio para levar os governantes a fazer gala de melhoradores da Escola Pública. Querer fazer propaganda à custa de obras que incomodam o trabalho de Estudantes e Professores num momento delicado [obras essas que os estudantes consideram secundárias; querer fazer propaganda à custa disso] só pode ser encarado como provocação.(2)

Não faltou quem acusasse estes alunos de fazer uso de uma rima fácil e ignorante: “Governo Fascista é a morte do Artista”. Provavelmente, alguns desses críticos literários são os mesmos que consideram o fascismo uma categoria tão específica que lá não caberia o Estado Novo e a própria Itália de Mussolini passaria no teste de qualidade fascista por um triz. Muitos desses críticos achariam adequado o mote “Governo Socialista é a morte do Artista”, mas estes artistas não levaram o surrealismo ao ponto de ousarem chamar Socialista ao Governo de Sócrates. Seriam desonestos se o fizessem, alguém podia levar a sério uma tal ironia. Por isso preferiram a metáfora ou hipérbole, se quiserem, de chamar Fascista a um Governo que acha que pode assumir uma postura e alguns métodos autoritários só porque foi eleito democraticamente.

[Aqui temos de reconhecer que contrariamente a Hitler e Mussolini, Salazar não teve qualquer mácula de legitimidade democrática].

As jovens e os jovens estudantes, infelizmente para os Poderosos, não são idiotas como eles querem fazer crer. Esta juventude sente-se presa em ‘(j)aulas de substituição’ [e em contraproducentes aulas de produção intensiva] e já se manifestou contra isso. Foi aliás uma manifestação selvagem convocada por SMS, há cerca de três anos. Esta juventude vai tomando consciência que o futuro que lhes propagandeiam vender já lhes foi roubado. Acredito, sonhando acordado, que esta primeira geração destinada pelo neoliberalismo a viver pior do que os seus pais, esta geração a que pertenço, pode mudar o futuro. Dedico a todas e a todos este poema:

Não me deixes dormir

Nem me deixes acordar

Deixa-me só

              saber sonhar

 

Não o sonhar de quem foge

Não o sonhar de dormir

É o sonhar de querer hoje

Um mundo urgente a construir

 

Sonhando preparo

Preparando faço

O que há a fazer

 

Se não o plantarmos

Como o poderemos colher?

 

Nota 1: poema escrito a 10 de Novembro de 2007

Nota (2): De acordo com o Presidente do Conselho Directivo da Escola: "Todos os alunos poderão acabar os seus trabalhos e prepararem-se para as provas de aptidão artística até ao termo das actividades lectivas, que ocorrerá no próximo dia 5 de Junho conforme previsto, pois as obras só começarão depois dessa data". Esta informação que entretanto nos chegou, independentemente da sua veracidade,  não esvazia de sentido este artigo.
 

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