A “primavera obamista”. O que indicam os primeiros 100 dias? |
Sábado, 09 Maio 2009 | |||
Reconheçamos, Obama é um tipo inteligente. Mas a crise que nasceu no centro do imperialismo obrigou o seu poder a relaxar as contradições que impunha aos povos e aos trabalhadores. Artigo de Victor Franco O "conselho de administração" do império alargou-se, quando as entidades estão mais fracas é assim que acontece, o G8 passou a G20, correspondendo também ao entrelaçamento das potências, das economias e das multinacionais; a postura arrogante e dominadora foi substituída pela imagem do diálogo, era preciso mudar alguma coisa para que o essencial continuasse na mesma. As novas mensagens que nos chegam do chefe do império pretendem dar um toque de capitalismo modernizador: desbloqueamento da investigação em células estaminais, criação de uma comissão para estudar a legalização de muitos milhões de imigrantes, promessas de melhoria do sistema de saúde - ainda que negando o papel determinante do Estado e mantendo o lugar das companhias seguradoras, proposta de redução dos arsenais nucleares, promessa de encerramento de Guantánamo - apesar de ainda não terem sido reconhecidos direitos aos prisioneiros, retirada gradual do Iraque, alívio da pressão sobre Cuba - ainda que não seja anunciado o fim do famigerado bloqueio, fim da tortura - ainda que sem acusações aos torturadores, promessa de investimentos em tecnologias verdes e eficiência energética... Estas mensagens têm feito o delírio dos social-democratas órfãos de um líder e de uma proposta mobilizadora para a derrota ideológica em que se encontram. Até Manuel Alegre considera que a "eleição de Obama, foi uma reafirmação da vitalidade da democracia americana, e que constitui em si mesma uma grande esperança para os Estados Unidos e o mundo". Mas importa deitar um olhar a questões determinantes: a guerra e a Nato, as decisivas posições económicas, a relação com o trabalho, entre outras. A crise económica tem sido enfrentada com um enorme esforço de apoio aos bancos e aos especuladores financeiros. Se a financeirização da economia é um marcador vital deste imperialismo global Obama tudo tem feito para o segurar. Se o dólar é central no regime capitalista global Obama tudo tem feito para o proteger e a política dos estímulos (ou seja da injecção maciça da nota verde) atinge valores colossais. O Estado norte-americano dispõe-se até à compra generalizada de activos-lixo para assegurar lucros e a capacidade de recomeço dos movimentos especulativo-inflacionistas que garantem o sucesso das bolsas. O fim do sigilo bancário continua longe; os paraísos fiscais continuam intocáveis, apenas levemente prenunciados numa lista cinzenta não vinculativa, as elites chinesas corruptas e as máfias (chinesas e outras) que operam nos off shores de Hong-Kong e Macau continuam descansadas com a ajuda obamista. O Partido Comunista Chinês agradeceu. As medidas de reestruturação, anunciam muitas dezenas de milhares de despedimentos, o proteccionismo (ao latifúndio e não só) segue em frente, a regulação (peneira para tapar o sol) fica adiada para dias melhores, desconhecem-se medidas de aumentos salariais, apoio significativo aos desempregados e chamada lei Employee Free Choise Act continua sem real aplicação prática. A crise acentua-se em cima dos trabalhadores. A NATO segue o seu papel central, apesar da tentativa de distensão com a Rússia e o Irão, e aplica-o de forma reforçada no Afeganistão e já no Paquistão. Apesar de retirado do centro da luta ideológica o "terrorismo" continua o seu papel chave; o último relatório ainda inclui Cuba e a Venezuela nos países que o apoiam. O apoio à ultra-reaccionária burguesia sionista, provocadora e invasora, continua essencial na política externa. O cerco a Gaza continua a não estar na agenda imperialista. A "primavera obamista" pode despertar paixões, mas elas poderão não durar muito. É que se a capacidade de luta global dos povos e dos trabalhadores não está famosa também é verdade que a crise ainda está no seu início. Victor Franco
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A Comuna 33 e 34
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