Com pezinhos de lã os conservadorismos de direita vão tomando posições públicas, organizam acções pró-vida e vão manifestar-se, segundo se crê, no dia 16 de Maio. De 10 a 17 de Maio realiza-se por iniciativa da Igreja Católica a Semana da Vida, que tem como principal base ideológica: “a família como santuário de vida”. Contra as “novas inquisições”, ergamos as nossas vozes, denunciemos a ideologia que subjaz às tentativas de retrocesso dos nossos direitos.
Texto de Manuela Tavares
Na sua viagem ao continente africano, a posição do Papa Bento XVI sobre o preservativo no combate ao VHI/SIDA não passou despercebida na comunicação social e suscitou indignação geral. Contudo, existem outros acontecimentos sobre os quais raramente nos pronunciamos e que devem merecer reflexão e posicionamento.
No dia 14 de Março deste ano o movimento “Portugal pró-vida” organizou em Guimarães a sua primeira convenção. Pegando na situação de crise económica, afirma que esta se tem vindo a agravar pelo “abandono de valores fundamentais, que, no passado, deram a necessária consistência à nossa vida individual, familiar e colectiva – desde logo, e em primeiro lugar, o valor inviolável da vida”. Acrescentam ainda, que “o desenvolvimento social e económico e a superação do «Inverno demográfico» podem ser catalizados por uma «política de valores» e especificamente com uma reorientação do Estado pró Vida e pró Família.” A própria sustentabilidade do Estado Social, segundo este movimento, dependerá desta reorientação.
Os resultados desta convenção foram entregues à Conferência Episcopal para o próximo simpósio sobre a crise social e para servir de base ao programa do movimento “Portugal pró-vida”que se pretende constituir como partido.
Esta Convenção pronunciou-se também contra as aulas de educação sexual nas escolas por as considerar perigosas, pois “podem dar origem a uma geração de portugueses para quem nada é proibido nem moral, nem eticamente”. Além do mais “os manuais escolares”, segundo Luís Botelho Ribeiro, presidente do Portugal Pró-vida, “só falam de sexo e não têm referências ao amor, ao casamento e aos filhos”. Este é ainda o movimento que pretende fazer, nos dias 25 de cada mês, vigílias em frente aos hospitais e clínicas que aplicam a lei de interrupção da gravidez aprovada em 2007, uma lei referendada e que permitiu finalmente às mulheres deste país interromperem a sua gravidez com condições de saúde e segurança.
Nesta reflexão sobre as posições conservadoras de direita não podemos passar ao lado da posição da Conferência Episcopal sobre o casamento entre homossexuais como “uma tentativa de desestruturar a sociedade portuguesa” e da campanha que irão fazer nos muitos comícios das missas dominicais contra as forças políticas que defendam este direito.
Que “valores” são verdadeiramente defendidos por estes movimentos de direita:
- o obscurantismo, quando defendem que os e as jovens não têm direito à informação e a fazerem as suas opções sexuais com base nessa informação;
- as “mulheres-natureza” cujo objectivo fundamental será o de manter a família como “santuário da vida”; contra este determinismo biológico lutaram várias gerações de feministas; e, por isso, podemos dizer que para esse “peditório já demos”, como diria o José Mário Branco, e não queremos mais.
- a condenação da liberdade de pensamento e de opções de vida, procurando impor novas inquisições às e aos “prevaricadores”.
Foi esta mentalidade retrógrada, inimiga das liberdades, de formatação a uma ideologia de submissão, que imperou durante longos períodos da História, que sustentou as práticas de inquisidores, responsáveis pelos “autos de fé”, que destruíram vidas, saberes e limitaram durante séculos a evolução do conhecimento.
Contra as “novas inquisições”, ergamos as nossas vozes, denunciemos a ideologia que subjaz às tentativas de retrocesso dos nossos direitos.
Texto de Manuela Tavares
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