Barack Obama, que esperança? Versão para impressão
Sexta, 24 Abril 2009
O entusiasmo de Mário Soares sobre Barack Obama foi assumidamente demonstrado quando o presidente dos EUA ainda disputava com Hillary Clinton o lugar de candidato oficial dos democratas. Agora, Soares, não é só um mero entusiasta, é um fervoroso promotor da imagem do presidente da potência americana, como o salvador da órfã social-democracia.

Texto de José Lopes

O entusiasmo de Mário Soares sobre Barack Obama, na verdade, foi assumidamente demonstrado quando o presidente dos EUA ainda disputava com Hillary Clinton o lugar de candidato oficial dos democratas. Mas agora, Soares, não é só um mero entusiasta, é um fervoroso promotor da imagem do presidente da potência americana, como o salvador da órfã social-democracia.

Texto de José Lopes

Na véspera das cimeiras do G20 e da NATO bem como da reunião informal euro-americana, Mário Soares, escrevia na revista Visão (02/04/09), "Bem - Vindo, Barack Obama, à Europa! Espero que ajude os dirigentes europeus a renunciarem ao neoliberalismo" e concluía, "É uma nova era que começa. Para bem de todos e da nossa Aliança Atlântica". No entanto, neste ensaio, em que o fundador do PS português apresenta Obama como símbolo de mudança, afirmando mesmo, que, "tem vindo a mudar muito, em pouco tempo, quer a América quer, psicologicamente, o resto do mundo, excedendo as expectativas dos mais optimistas", não escreve uma única palavra sobre a politica neoliberal pura e dura do seu camarada de partido, José Sócrates, que apoia como secretário geral do PS e como primeiro ministro. Ou será que para si, a governação do seu partido, não se insere na lógica do neoliberalismo, a mesma que deseja, que Obama contribua para os dirigentes europeus a renunciarem? Ou quererá dizer, que Sócrates, não é propriamente um dirigente europeu a ter em conta, ainda que pareça querer dar lições ao mundo e sobretudo á Europa, como aconteceu com a Cimeira de Lisboa.

Rendido então à era Obama, o antigo governante Mário Soares, traça o perfil do presidente dos Estados Unidos, tanto no plano interno como externo, apresentando-o como portador da mudança, ao ponto de defender, que: "Voltou-se, assim aos grandes valores do humanismo universalista". E se no plano interno, Soares, só vislumbra sucesso com um "plano" que considera, "consequente de ataque à crise" e mesmo, "em matéria de saúde, educação, segurança social, protecção aos mais pobres e aos descriminados" áreas em que a governação de Sócrates é demolidora, fazendo as famílias portuguesas sofrerem com a descaracterização dos serviços públicos. Já no plano externo o entusiasmo do ex-presidente português, é verdadeiramente enternecedor, realçando que Obama, prometeu retirar do Iraque e, "está a procurar uma solução para terminar a guerra" no Afeganistão, disponibilizando-se a falar com os talibans, ao mesmo tempo que "Estendeu a mão" ao Irão ou "manifestou vontade de falar com o Hamas e tem uma politica de paz entre os dois Estados: Palestina e Israel".

Segundo a visão deste velho e experiente politico, "Com Obama não haverá mais países do «eixo do mal» e a luta contra o terrorismo, que continua, será prosseguida" mas, como faz questão de deixar claro, "com inteligência e ouvindo os Aliados. Não de forma unilateral". Esta seria aliás a divergência de alguns sectores sociais-democratas, como o próprio Soares, aquando da declaração de guerra ás armas de destruição maciça do Iraque na presidência de Bush. Daí o alívio com a ideia de se voltar ao multilateralismo, o que considera ser "um novo prestigio às Nações Unidas".

Mas Soares quer ainda apresentar-nos Obama, como não querendo "ser o Presidente de um país que se considerava o «dono» e o «polícia» do mundo. Mas sim de um país que ama a paz e as negociações em igualdade de condições com todos os outros". Um novo tipo de relacionamento, que para alguns analistas ficou bem patente na recente visita à Europa, na viagem entre Londres e Istambul, em que consideram ter havido um "degelo politico" e "humano", que de certa forma contribuiu para desviar as atenções dos resultados das recentes cimeiras que ficaram aquém dos desafios que estão colocados ao nível, financeiro, económico ou ecológico.

Que esperança podemos ter então? Se para Soares, Obama, ainda que reconheça, "não é um santo", o identifica ideologicamente como convertido ao "humanismo universalista" mas claro, sem descurar, "os interesses vitais do seu país, em todos os domínios". Que mensagem de mudança quer fazer passar Mário Soares, sobre Obama? Quando, como histórico social-democrata, procura escamotear o verdadeiro carácter do Imperialismo Global e suas consequências para os povos, como se o imperialismo americano, com a presidência de Obama, deixasse de ter papel e interesses, entre as potências imperialistas que se uniram com todas as contradições que isso encerra.

Em nome do compreensível entusiasmo em torno da figura de Obama, porque procura Soares, branquear e adocicar de forma social-democrata, o imperialismo americano, recorrendo à ridícula tese de colocar nas mãos do presidente dos EUA a tarefa (que só cabe à luta dos povos) de ajudar os dirigentes europeus a renunciarem ao neoliberalismo. A mesma potência que integra o Imperialismo Global e a pressão sobre os povos do mundo e a sua proletarização geral, assim como a guerra contra os países e os povos que não se submetem ao pensamento único do neoliberalismo. A estas inquietações, a que se junta a guerra imposta por organismos e instituições transnacionais e supra-estatais, como: FMI, BCE, Banco Mundial, OMC entre outras, que mantêm uma permanente ofensiva contra os povos por diferentes meios, desde logo o saque financeiro, Soares, recolocando-se geo-estrategicamente, acaba por lembrar justamente a retoma da "melhor tradição americana", referindo-se ao "humanitarismo e ao pioneirismo" que acredita ser prosseguido pelo novo inquilino da Casa Branca. Nesta linha de confiança exacerbada com que Soares quer anestesiar as massas sobre um novo carácter do imperialismo americano, destaca também o interesse de Obama para se encontrar com a América Latina, "com a ajuda de Lula" e a abertura a Cuba. Uma mudança por si fiel e empenhadamente anunciada, que só nos pode deixar poucas esperanças e uma só certeza no tempo do Imperialismo Global de que Obama faz parte integrante. "A transnacionalização das empresas e dos capitais rompeu com as fronteiras nacionais e tornou o capital apátrida. Já não vive mais fundido com um só Estado (mas precisa dos Estados para impor a força institucional e militar que permite a sua dominação de classe) que, se guerreiam por monopólios que, entretanto, também se transnacionalizaram. A globalização alterou o quadro..."(Tese à 4.º Conferencia Nacional da UDP-AP, "Pós-Lenine é Pré-Revolução")

José Carlos Lopes (Ovar)

 

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