A EDP de hoje Versão para impressão
Sábado, 10 Abril 2010

Sendo uma empresa prestadora de inegável serviço público essencial à vida dos cidadãos, foi construída nessa base para trabalhar com os cidadãos e em prol das suas necessidades, contribuindo de forma decisiva e significativa para o desenvolvimento do país. Os trabalhadores envolveram-se na electrificação do País, lutaram pela tarifa única e construíram com os seus representantes um Acordo de Empresa considerado progressista para ambas as partes, que estabilizava as relações laborais Não estou a referir algo parecido com os propósitos da Santa Casa da Misericórdia mas que a solidariedade institucional existia, disso ninguém pode negar.

Com todo o potencial de conhecimento técnico, valorizando o saber ser nas atitudes, estimulava-se uma cultura de empresa que contribuía para que todos, trabalhadores e consumidores sentissem de facto que o modelo empresarial era de sucesso, pese embora uma pseudo-dívida que era utilizada por alguns sectores para denegrir o modelo.

Mas os ataques a este e a outros modelos, alguns de menor sucesso ou até de insucesso, iam-se sucedendo porque o capital não desarma enquanto não consegue os seus, deles, objectivos.

A “maravilhosa”(?) onda cavaquista dos anos 90 com o poder absoluto nas mãos, arregaça as mangas e directos à questão, desatam numa onda privatizadora em que a EDP é o Grande alvo a abater ou melhor dito, é o melhor bolo a recortar com vista à obtenção de chorudos lucros que não mais iriam beneficiar os contribuintes Portugueses.

Convém aqui referir que, quem até aí enunciava a cartilha de que a Empresa Pública era uma fonte de dívidas, de dúvidas e outros problemas, no ano seguinte, SEM MUDAR ABSOLUTAMENTE NADA, alterando apenas processos financeiros, coloca a Empresa a dar lucros “desmedidos” sem que só aparentemente se entendesse porquê.

Mas a onda bem traficada vai mais longe. Os Trabalhadores, hoje colaboradores, são induzidos a “colaborarem” nessa tal onda, veja-se só, com o dinheiro emprestado a preços substancialmente inferiores do que os bancos emprestavam para a compra de bens absolutamente essenciais como as habitações próprias permanentes.

A REN que até aí ocupava o mesmo espaço do Universo EDP, é então separada e autonomizada criando-se ali mais um Grande espaço para a ascensão de alguns “Boys”.

A criação de Empresas dentro do grupo EDP para as desfazer logo a seguir criando outras, provoca a inevitável dança de gestores em função das suas competências Partidárias.

As Grandes reestruturações aparecem com a absoluta (?) necessidade de tornar a Empresa competitiva (como se ela não o fosse já). Mas, reestruturar era o caminho que hoje, muitos trabalhadores sabem, infelizmente, qual é o seu significado.

É bom lembrar que a EDP tinha na altura destas reestruturações cerca de 24 mil trabalhadores com direitos consignados no Acordo de Empresa e alguns (poucos) milhares de assalariados sazonais (alguns ainda que ilegalmente autorizados pelas autoridades, em trabalho permanente).

Constrói-se a Central do Pego para a entregar aos Espanhóis, Franceses e Ingleses.

Fecha-se a Central da Tapada do Outeiro num processo complicado de gestão de recursos humanos, depois de se perder posições na Turbogás instalada nos terrenos da EDP - desinveste-se no Capital Humano contrariamente ao que era dito.

A Empresa segundo a onda, vai de vento em popa e os Lucros que alguns consideram extraordinários servem para investimentos fora de Portugal a começar pelo Brasil em Empresas falidas e de interesse duvidoso.

Enquanto isso, o que é dito no interior da empresa não é suportado para o exterior e vice-versa. O que não há dentro da Empresa para distribuir pelos trabalhadores, sobra para o exterior, para os accionistas, publicidade, mecenato e Administrações contratadas. Já que de contratações se fala é necessário dizer que a “produtividade” subiu estrondosamente, principalmente pela saída de muitos milhares de trabalhadores para as reformas antecipadas e pré-reformas e cujos custos destes actos recaem sempre para os mesmos.

Poderá questionar-se se estes trabalhadores estariam ou não a mais porque a empresa continua trabalhar normalmente sem interrupções do serviço.

De facto a Empresa labora normalmente sem o diferencial de trabalhadores referido. No entanto, são contratados milhares de trabalhadores a empreiteiros bem identificados que por sua vez subcontratam a empresas de trabalho temporário para a prestação de serviços até mesmo os essenciais, substituindo quase na íntegra os trabalhadores do quadro permanente. O negócio floresce com a precarização do trabalho, como é óbvio.

Para acalmar alguma intenção reivindicativa, através do já instalado, muito contestado e também cansado processo de avaliação do desempenho, vão saltando algumas migalhas em prémios para uns e para outros nem por isso. Dá-se o corte definitivo com a solidariedade entre Gerações EDP. Há os que recebem as actualizações salariais compostas por salário mais prémios e há os outros, os reformados e pré-reformados que apenas vêem a cor do salário. Intitula-se então a gestão desta como uma Entidade familiarmente responsável! Nota-se!

Enquanto isto, aquela vai-se resguardando com a ajuda dos Amigos do Costume, as estruturas por ela Criadas para conter revindicações e acordar tabelas salariais que quer queiramos quer não, principalmente as últimas, não condizem em nada, antes pelo contrário, com o clima dito financeiro.

A EDP respira Saúde financeira, não está em crise económica, é Ponto assente! São as afirmações superiores.

Se assim é, e parece que se confirma, a julgar pelos ganhos obtidos pelos membros dos vários Conselhos de Administração e incluindo prémios aos executivos, porquê reprimir salários? Porquê promover a precariedade em múltiplos locais de trabalho onde já se torna evidente que tudo é da EDP menos quem lá trabalha? Porque não se tratam os trabalhadores como pessoas nos processos de encerramento das Centrais do Barreiro e do Carregado?

Há no meio disto tudo, alguém que pode considerar-se o principal responsável por este estado de coisas que teve o descaramento de recentemente declarar que os salários dos gestores da EDP são escandalosos.

Não contradizendo o que foi dito, parecem no entanto um pouco patéticos esses comentários principalmente por virem de que vêem. Do homem que foi ministro da Indústria do “reino “ Cavaquista e que abriu todas as “portas” para este estado de coisas. Há realmente muita lata!

Há em curso na empresa um programa chamado sou Mais EDP que se destina aos vulgarmente chamados Colaboradores mas que eu prefiro chamar de Trabalhadores e que visa dar mais conhecimentos sobre o universo EDP.

Há coisas que realmente são absurdas. Ser mais EDP quando cada vez mais há menos EDP é uma incongruência e das Grandes!

Nada tenho, antes pelo contrário, contra os Sectores Lucrativos e economicamente saudáveis. O que incomoda é a saúde financeira de uns, à custa do trabalho mal pago de muitos.

Ser Mais EDP talvez sejam muito poucos porque a maioria é já menos EDP.

Serão mais EDP hoje os trabalhadores que aos milhares prestam serviços à EDP, contratados por ETT’s?

Serão mais EDP os trabalhadores, do quadro permanente em geral a braços com o contínuo desrespeito pelos direitos acordados em ACT?

Há a confiança apesar de tudo na estrutura Sindical e de Trabalhadores, que tudo vão fazendo, por vezes quase até à exaustão, para lutar contra todos os ataques e manobras que põem em causa a dignidade de quem trabalha seriamente.

Egídio Fernandes, Dirigente do SIESI

 

 

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