O pecado da gula Versão para impressão
Domingo, 21 Março 2010

Desta vez o apetite pelas privatizações é tão grande que o governo Sócrates pondera a privatização dos CTT. Para eles a lógica é simples: o governo precisa de dinheiro, a empresa dá lucro, logo haverá interessados e portanto vendam-se os Correios!

Artigo de Ana Cansado

 

Mas não está certo. É dever do Estado garantir a existência de serviços públicos. As assimetrias entre as regiões que compõem Portugal são uma realidade. A distância que separa o interior do litoral, as zonas rurais dos centros urbanos é muitas vezes encurtada pelos CTT que ligam familiares e amigos distantes como tão bem cantaram os Rio Grande:

 

Espero que não demorem a mandar

Novidade na volta do correio

A ribeira corre bem ou vai secar?

Como estão as oliveiras de "candeio"?

 

Já não tenho mais assunto pra escrever

Cumprimentos ao nosso pessoal

Um abraço deste que tanto vos quer

Sou capaz de ir aí pelo Natal

 

Os CTT são também empregadores locais e intermediários do Estado quando, por exemplo, são o local onde as pessoas levantam as reformas. Os CTT são muitas vezes a garantia que localidades pequenas e populações dispersas têm de não ficarem isoladas do resto mundo.

Um sistema postal privado não tem como prioridade o bem-estar das populações mas a eficiência da gestão pelo que não prestaria serviço em certas áreas onde a margem para o lucro não é atractiva. Áreas onde actualmente os CTT existem e têm relevância.

O Estado não é uma empresa e o governo tem responsabilidades para com todas as pessoas. O governo Sócrates não dá valor à solidariedade entre regiões nem à necessidade de coesão nacional. E os CTT são a prova de que é possível prestar serviços com qualidade, que sirvam toda a gente e ainda por cima dão lucro.

As empresas públicas são uma fonte de renda do Estado, geram rendimentos ao longo do tempo que permitem, não só a sustentabilidade dos serviços prestados, como também, geram lucros que são uma mais valia para o Estado. Não podemos deixar que o governo venda a riqueza e hipoteque o futuro do país. Não podemos aceitar uma política económica dependente das casas de penhores. É tempo de exigir uma economia decente!

 

Ana Cansado

 

A Comuna 33 e 34

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