História de uma revolução ao ritmo do chá-chá-chá |
Segunda, 15 Março 2010 | |||
Quando Colombo encontrou Cuba, em 1492, descobriu os ciboneyes, guanacahíbes e taínos e chamou-lhes índios, pensando que estava no continente asiático (erro detectado em 1500 por Leonardo da Vinci, 22 anos antes da viagem de circum-navegação de Magalhães). O chefe “índio” Hatuey comandou a resistência aos espanhóis, durante mais de dois meses, com a táctica da guerrilha, até ser condenado à fogueira, e só em 1511-1513 Diego Velásquez conquistou Cuba que se tornou uma plataforma logística para os conquistadores do México. Os povos indígenas seriam chacinados até à extinção pelas armas, pelas doenças levadas pelos europeus, pela fome e pelo trabalho escravo. Em 1517 Carlos I de Espanha ordenou a introdução de escravos negros nas Antilhas. Até à abolição definitiva da escravatura em 1886, milhares de negros foram arrancados à força de África, de costa à costa, mas principalmente dos locais permitidos por lei: Angola, Guiné, Cabo Verde e ilhas adjacentes. Em 1532 havia em Cuba 300 brancos e 500 negros. Em 1852 andavam à volta de 490 mil cada e em 1907 já havia mais de 1.400 mil brancos para 620 mil cubanos de cor. Graças ao trabalho escravo, Cuba em 1820 já era o maior produtor mundial de açúcar. Durante o século XVIII e XIX houve várias rebeliões de fazendeiros contra a administração espanhola que detinha o monopólio do comércio de tabaco e açúcar e aumentava os impostos. Inicialmente os fazendeiros receavam que Espanha abolisse a escravatura, mas a introdução das máquinas a vapor, o aumento do preço dos escravos, devido às leis abolicionistas, e a necessidade de seduzir os negros libertos a lutar ao seu lado contra o exército espanhol, levou o grande fazendeiro Carlos Manuel de Céspedes a proclamar a República e a libertar os escravos, iniciando a Guerra dos Dez Anos pela independência de Cuba. José Martí foi o maior pensador e revolucionário democrata, próximo dos materialistas e socialistas, fundador do Partido Revolucionário Cubano, em 1892, nos EUA, e do exército popular composto por operários, camponeses pobres e pequeno-burgueses. Já depois da sua morte em batalha, foi proclamada, em 1895, a Constituição que dava à luz a República Cubana. A Espanha nunca aceitou a derrota e os EUA, que nos fins do século XIX entraram na corrida imperialista pelas colónias e mercados, investiram capitais em Cuba e entraram em guerra com Espanha, a fim de “libertar” os povos de Cuba e das Filipinas. A 10 de Dezembro de 1898, em Paris, EUA e Espanha assinaram a paz, sem representantes dos povos das colónias, e a Casa Branca estabelece a ocupação militar de Cuba, impondo tratados como o que lhe entrega a base aeronaval de Guantánamo... Até hoje. Transformada em protectorado dos EUA, Cuba viu alternarem governos fantoches, mais ou menos liberais, com ditaduras como a de Machado e do sargento Fulgêncio Batista que reprimiu selvaticamente a resistência do proletariado, da pequena burguesia urbana e do movimento estudantil. Em Março de 1930 a Confederação Nacional dos Operários Cubanos, fundada em 1925, decreta uma greve geral para derrubar a ditadura. Em 1933, Machado cai depois de manifestações e greves que engrossaram a revolta contra a ditadura que tinha provocado meio milhão de desempregados. Depois de um governo progressista que decretou jornada de trabalho de oito horas, o movimento revolucionário radicalizou-se com a ocupação de fábricas e de latifúndios. Em Janeiro de 1934, Fulgêncio Batista dá um golpe de Estado, mas só em 1935, com o apoio dos EUA, põe termo à revolução democrático-burguesa de 1933-35, que haveria de levar à renúncia dos EUA à “emenda Platt” (que lhes concedia o direito de intervir militarmente em Cuba), à legalização do Partido Comunista e à amnistia dos presos políticos. Após o fracasso do assalto ao Quartel de Moncada, em 26 de Julho de 1952 que o levaria à prisão e ao exílio, quando ainda só tinha 27 anos, recém-licenciado em Direito, Fidel Castro desembarcou na ilha a bordo do iate Granma, em 1956, com 82 guerrilheiros. Na Sierra Maestra, Fidel, Camilo Cienfuego e Ernesto Guevara, el “Che”, organizaram a guerrilha, incorporando cada vez mais camponeses revoltados com a miséria e a exploração dos grandes fazendeiros. A 1 de Janeiro de 1959 os guerrilheiros entram em Havana. Batista foge. O governo revolucionário nacionaliza as companhias norte-americanas e começa a reforma agrária. Em 1961, os EUA organizam, com o apoio de mercenários cubanos exilados, uma invasão da ilha, mas mal desembarcam na Baía dos Porcos são derrotados. Em 1962 os EUA impuseram um bloqueio político e comercial à ilha que agravaram em 1992 com a Lei Torricelli que proíbe as empresas subsidiárias das norte-americanas em terceiros países de negociarem com Cuba. Em Outubro de 1962 Khrutchev envia mísseis nucleares para Cuba que são detectados por aviões-espiões dos EUA. O Mundo fica à beira de uma guerra nuclear. Depois de tensas negociações, a URSS retira os mísseis. O alinhamento de Fidel com a URSS, que o levou a silenciar-se aquando da invasão da Checoslováquia, duraria até à implosão do império soviético, que provocou dificuldades económicas, racionamento duro e alterações económicas, ao abrir Cuba ao investimento estrangeiro, em empresas mistas, sobretudo no Turismo e nas industrias de alta tecnologia, como a biotecnologia. Hoje, apesar da ausência de renovação e inovação ideológica da classe dirigente de Cuba, onde os direitos humanos e a liberdade de expressão nem sempre são respeitados, são inegáveis as vitórias da Revolução cubana na Saúde, na Educação, na erradicação do analfabetismo e na distribuição da riqueza. Carlos Vieira
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
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