O Príncipe de Angola e a política em Portugal |
Domingo, 31 Janeiro 2010 | |||
No dia 21 de Janeiro, a Assembleia Nacional de Angola aprovou a nova Constituição. Por esta, deixaram de haver eleições presidenciais e o Presidente da República será de futuro escolhido por ser o primeiro candidato da lista vencedora pelo círculo nacional às eleições legislativas. Não há eleições directas ou na Assembleia Nacional. E o Presidente pode ser eleito por dois mandatos seguidos de cinco anos cada. De uma penada, os poderes foram concentrados no Presidente da República, ele é o poder executivo e a figura máxima do Estado angolano. José Eduardo dos Santos é verdadeiramente o "Príncipe" de Angola, como diversas figuras da oposição angolana lhe chamam. É Presidente da República desde 1979, nunca foi eleito e poderá ser eleito à frente da lista do MPLA nas eleições de 2012 e, a partir daí por mais dez anos, até 2022. Se assim acontecer estará no cargo durante 43 anos... É um homem de sucesso juntamente com a sua família. E nos negócios então... Ainda nesta Sexta feira a sua digníssima filha, Isabel dos Santos, adquiriu mais uma importante participação numa grande empresa portuguesa: Tornou-se a segunda maior accionista da Zon Multimédia, com 10% do capital, por decisão unânime dos capitalistas presentes na assembleia geral daquela empresa. Em Portugal, o sucesso do príncipe de Angola é espantoso: consegue ter a apoiá-lo o PS, o PSD, o CDS e... o PCP. Não existe nada na política portuguesa, que consiga congregar tão ampla aliança. Que interesses levam a tal aliança? Belmiro de Azevedo, o segundo maior capitalista português, ainda há dias numa entrevista à Visão defendia a "democracia" angolana. Compreende-se, Angola tem petróleo, isso é vital para os negócios e estes é que definem a sua política. Com as direcções de PS, PSD e CDS acontece o mesmo: o petróleo, os diamantes, os negócios definem a política externa. E o PCP? Porque esteve no Congresso do MPLA que aprovou o projecto desta famigerada Constituição? O PCP gosta muito de se auto-denominar "partido de classe", é caso para perguntar: que interesses de classe unem o PCP aos grandes capitalistas portugueses e a PS, PSD e CDS na defesa do actual regime angolano? Os dos mais desfavorecidos de Angola é impossível. Os interesses dos trabalhadores portugueses estão em choque com essa aliança. Talvez uma visão distorcida do mundo, à moda "soviética", incapacite aquele partido de discernir entre os interesses dos trabalhadores e dos povos dos interesses do capital angolano.
Carlos Santos
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