Socialismo científico Versão para impressão
Domingo, 17 Janeiro 2010

A revolução faz-se… com cabeça.

 

Há um tempo, um momento, um ponto de viragem a partir do qual todo o potencial de protesto se transforma em movimento.

Esse momento não depende do voluntarismo messiânico de um qualquer D. Sebastião emergente do nevoeiro, seja ele Sebastião, seja Obama, Lula ou Chávez.

Dependerá do desequilíbrio entre Energias potencial e cinética aplicadas á sociedade como um corpo sujeito às leis da física?

Esta questão foi-nos posta a partir da crítica de imobilismo feita hoje em dia por sectores “mais-à-esquerda-que-a-Esquerda” aos que se denominam verdadeiros revolucionários.

Poderemos os dizer que o imobilismo encontra como antagonismo a precipitação?

Zizek no seu livro “Violência”¹ diz que o próprio Marx ao ver os movimentos revolucionários a eclodir na Europa escrevera a Engels uma carta pesarosa na qual ele a dado ponto perguntava retoricamente: “será que eles não podiam esperar mais dois anos para eu acabar de escrever O Capital?”

Numa crise sem precedentes do sistema Capitalista muitos se questionam: “Mas então, onde está a revolução? Porque não a fazem?”

Lembra-nos de certa maneira aquele criminoso crucificado com Jesus Cristo que sarcasticamente dizia: “Não és o filho de Deus? Salva-te a ti próprio e salva-nos a nós…”

Não era a altura.

Uma acção fora de tempo será uma “precipita-acção”?

Numa sociedade altamente virada para o indivíduo, como aquela em que vivemos é natural que o voluntarismo messiânico seja para muitos a ténue luz que resta, o seu ópio.

Opor ao Individualismo simplista o Comunismo ² é o exercício dialéctico que estes “desesperados” precisam fazer.

Há uma grande diferença entre um super-ego que lidera porque as massas precisam de algo em que acreditar (“Change, We can believe in” é um slogan bem conhecido) e um movimento espontâneo de massas, que tem como base a tomada de consciência da sua (miserável) situação.

Do dia 24 de Abril para o dia 25 de Abril, o potencial transformou-se em movimento é o pouco que sabemos.

É nesta alteração que vamos centrar a nossa análise.

De um modo simples vamos tentar introduzir alguns conceitos da Física:

Para haver movimento é preciso haver Energia.

A Energia de um corpo, como sabemos pode ser dividida em dois vectores:

Energia Potencial e Energia Cinética.

A soma destes dois vectores dá-nos a Energia Mecânica de um corpo.

Epotencial = m g h      Ecinética = 12 m v²

Sendo “m” a massa do corpo, “g” a constante de aceleração gravítica e “h” a altura a que se encontra o corpo e “v” a velocidade com que o corpo se desloca.

Se o somatório de todas as forças exteriores ao sistema em estudo for igual a zero, como propomos por hipótese temos:

Emecânica = Epotencial + Ecinética

Quando a Ecinética é zero temos então que a Epotencial é máxima consequentemente.

Se a Ecinética é máxima então temos a acção no seu auge, consequentemente, não há potencial que se possa juntar à acção.

Na nossa transposição, tentámos definir quais seriam então os “m”, “g”, “h” e “v” em termos sociais.

Assim sendo, temos:

  • m: número de pessoas que compõem a sociedade em questão
  • g: capacidade inerente a cada individuo de produzir acção, algo que é constante pois cada um apresenta mais ou menos a mesma capacidade.
  • h: poder social que o movimento tem para intervir (a sua implantação, a sua liberdade de expressão, …)
  • v: capacidade de propagar ideologia e conquistar apoiantes para a acção

Dentro deste sistema podemos sintetizar que não existe um EU na fórmula de equilíbrio entre potencial e cinético.

O potencial não depende de um do “m” ser mais iluminado ou pesar mais que os outros.

Depende sim de um “h” (não de um Homem com H).

Esse “h” é o que deve prender hoje o pensamento dos revolucionários.

Aumentar o poder de impacto de um movimento, o seu alcance e consequentemente a sua Energia, é hoje a tarefa prioritária de um verdadeiro revolucionário.

Tentar forçar o movimento, a passagem do potencial à acção tem sido um erro repetido vezes sem conta, compreensível devido ao tempo útil de vida que temos.

A paixão de viver a revolução em vida ultrapassa a razão.

Esquecemo-nos que um paradigma não se muda em 30, 70 ou 100 anos.

Muda-se num momento exacto, não no momento que queremos que seja o exacto.

Porquê? Não nos interessa para esta discussão.

Sabemos que um dia as pessoas acordam levantam-se e caminham não para o seu trabalho mas para alcançar o poder de decidir por si.

O que nos interessa aqui é o resultado inerente à precipitação.

Ora fazendo a prova dos nove o que sobra de uma revolução falhada normalmente é a prisão, a morte e mais 100 anos de gerações a acreditarem que um outro sistema não é possível.

Sobra autoritarismo, repressão, fascismo de Estado, conservadorismo ortodoxo.

A negação da revolução leva à evolução do sistema Capitalista, à sua radicalização.

Conclusão, quando o orgulho, a paixão ou mesmo o tédio do imobilismo acicatam o espírito revolucionário e o precipitam para a acção é altura de parar para pensar.

Parar distanciar-se e pensar antes de agir para não cair numa armadilha.

Cada acção tem uma reacção e se o timing não for calculado, os efeitos da reacção aniquilarão qualquer hipótese de a revolução vingar.

A revolução faz-se com cabeça, isto quer dizer que a revolução só acontecerá quando houver condições para uma alteração profunda que transforme todo o potencial em repouso num movimento capaz de trilhar o caminho para o comunismo.

...

¹ «Violência», pag.14, ed. Junho 2009, «Relógio DˋÁgua»

² “em que o livre desenvolvimento de cada um é condição para o livre desenvolvimento de todos” Marx e Engels, Manifesto do Partido Comunista

Francisco Silva

 

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