Menos
100 milhões de euros. Foi isto que nos disse o Ministro da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior… E disse que era um corte relativo só aos
salários.
Artigo de Diogo Barbosa
Este
orçamento vem mais uma vez colocar em causa a qualidade do Ensino Superior
em Portugal. Sabendo-se que os cortes não são só no que toca a salários, mas que irão afectar todo o financiamento das Universidades e Institutos Politécnicos.
Um primeiro sinal
dado pelos docentes e não docentes do Ensino Superior foi a adesão à
Greve Geral no passado dia 24 de Novembro de 2010. Aí a reivindicação
destes era a garantia de condições de funcionamento das instituições,
garantia de que os trabalhos de investigação pudessem ser efectuados com
condições dignas, cumprimento do regime transitório dos Estatutos de
Carreira, entre tantas outras coisas.
É
também nisto que este corte de 100 milhões de euros se vai fazer
sentir, não é uma questão de salários como diz o Governo. É uma questão
de qualidade no Ensino. E ao serem tirados
direitos aos docentes e não docentes, estão também a ser retirados
direitos aos estudantes que ficam sem professores suficientes e sem
funcionários para lhes prestarem auxílio.
Com
este Orçamento todos saem afectados, os professores, os funcionários e
os estudantes ficam sem condições para trabalhar. É de condições que
todos estes precisam, e são condições aquilo que o Orçamento de Estado e
os sucessivos PECˋs estão a tirar a todo o Ensino Superior. Não são
garantidas as condições elementares para o estudo e para a permanência no Ensino Superior.
Os
cortes vão desde bolsas, à insuficiência de residências, ao aumento
do prato social, aumento de propinas, e quando estas não sobem, sobem as
taxas de inscrição no início do ano. Este Ensino que se diz
tendencialmente gratuito está na verdade tendencialmente caro, e
quem sofre com isto são os estudantes que menos possibilidades têm de
pagar os seus estudos.
Estas
fantásticas medidas de austeridade com que o Governo nos presenteia
cada vez com mais desrespeito, mais à vontade e com menos preocupação
fazem com que neste ano lectivo cerca de 25 mil estudantes do
Ensino Superior percam os seus apoios sociais. E estas pessoas poderão sair do Ensino Superior porque lhes falta apoio do
Estado, Estado esse que deveria de ser Social, e que o PS diz tanto defender.
Este desrespeito vê-se em todas as acções tomadas pelo Governo, seja com o Decreto-Lei
70/2010, com as suas normas técnicas, os cortes
orçamentais e todas as outras medidas que a pouco e pouco fazem com que
os estudantes tenham de abandonar o Ensino Superior.
São
estas as razões que levam a ter a certeza que o Ensino Superior é um
ensino para as elites, um ensino que não chega a todos. E este Orçamento
de Estado que corta na qualidade do ensino, corta também na esperança de
todos aqueles que desejam tirar um curso superior, todos aqueles que decidem
ser eles a escolher o seu percurso e não o ver embargado por falta de apoios por parte do Governo.
Cada vez mais a frase “vamos dar enxadas aos pobres e
educação aos mais instruídos” volta a fazer sentido.
Não, não é este o ensino que queremos, não é este orçamento que queremos. Precisamos de mais para deixarmos de ser menos a abandonar os estudos.
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