A greve geral do próximo dia 24 é necessária no tempo e no lugar. Foi no tempo certo: anteriores greves voluntaristas e marcadas por agendas confusas enfraqueceram o movimento sindical, anteriores greves com objectivos concretos reforçaram o movimento popular. Agora é o tempo certo, e a greve foi convocada no dia seguinte a saber-se do corte dos salários e do aumentos dos impostos.
Mas é também certa pela unidade da CGTP e da UGT e de muitos sindicatos independentes. É verdade que muitos trabalhadores dizem da UGT o que se lembram dessa central, que apoiou os Códigos do Trabalho de Bagão Félix e depois o de Vieira da Silva. Factos são factos. Mas ter todos os sindicatos comprometidos com a greve quando a greve é necessária dá mais capacidade de resposta a uma crise que atinge todos os trabalhadores. A unidade entre tantas diferenças dá mais capacidade de ofensiva ao nosso lado.
É também uma greve que se está a fazer. Estão agora a ser discutidos os serviços mínimos, usados no passado para impôr trabalho máximo, e essa chantagem não pode ser aceite e não vai ser aceite. Estão a ser preparadas concentrações, concertos e acções de rua para juntarem o apoio popular da greve, mostrando que não é um feriado mas antes o dia da luta activa - o dia em que a rua deve falar mais alto. Em todos esses lugares, o Bloco de Esquerda empenha-se totalmente pela greve activa.
Uma greve activa, com piquetes mobilizados para falar a toda a população, com manifestações e demonstrações da força e da razão da luta, é a chave para a política portuguesa. E para continuar, para fazer crescer a mobilização, seja em manifestações nacionais e em greve no futuro próximo, seja na jornada europeia de dia 15 de Dezembro, só o sucesso desta jornada pode abrir novos caminhos de resposta e de alternativa.
É uma greve que pára a economia do país, diz Vieira da Silva, um ministro do governo que deu tolerância de ponto pela visita do Papa e agora pela cimeira da Nato. É uma greve política, repetem outros ministros. A resposta dos trabalhadores é clara: político é o congelamento das pensões, política é a redução dos salários, político é o desemprego, política é a resposta do trabalho: é a política da democracia.
Porque essa política é a luta pela maioria. Porque os trabalhadores são a maioria. Quem trabalha. Quem está desempregado. Quem é precário. Quem tem trabalho a prazo. Quem tem pensão pobre depois de uma vida de trabalho. Quem não tem oportunidades. Quem não recebe respeito. Quem é explorado. Somos a maioria. Se essa maioria mostrar que faz marchar ou faz parar o país, saberá da sua força. Saberá que é a sua força que alimenta o lucro e o abuso, a prepotência e a desigualdade. Saberá que é a sua força, então, que pode dar a todos o que é de todos. Saberá que essa maioria pode tomar conta do país.
Essa é a estratégia da esquerda socialista. Unidade para a luta. Convergência para alternativas. Reforçar os campos de combate contra o capital. Criar experiência de luta de massas. Dar corpo à acção da democracia em que a maioria passa a decidir. Impor justiça na economia. A greve é um dos instrumentos mais importantes para essa politica, porque é o lugar de todas e de todos.
Francisco Louçã
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