O Tigre já nem mia Versão para impressão
Sábado, 09 Outubro 2010

A actual crise económico-financeira irlandesa vem quebrar abruptamente o veloz crescimento económico que o país registava desde a década de 80.

Antes da década de 70, a par dos países Ibéricos (Portugal e Espanha) e da Grécia, a Irlanda era um dos países europeus mais atrasados quer ao nível tecnológico, quer ao nível económico e social, sendo a sua economia baseada na agricultura e numa indústria pouco desenvolvida. Até então, todas as potencialidades a explorar do sector terciário ainda não haviam sido exploradas. No entanto, tal como todos os países menos avançados tecnologicamente, a Irlanda pôde aproveitar o processo de catching-up, ou seja, do facto de ser menos avançado tecnologicamente para poder crescer mais depressa adoptando tecnologias estrangeiras a custo relativamente baixo. Complementando este processo de desenvolvimento tecnológico, a integração na CEE (1993) e no Sistema monetário Europeu (1978), numa época de intensa liberalização económica, possibilitou relançar a economia celta.

Porém, há que salientar que o componente mais determinante na reviravolta do crescimento económico irlandês a partir da década de 80, foi o forte investimento directo estrangeiro de Multinacionais que passaram a sediar-se em Dublin, não só pela Irlanda ser um país anglo-saxónico, mas principalmente por existir capital humano qualificado e com um nível salarial baixo. Tudo isto conjugado com uma política incentivadora de investimento externo, uma política fiscal credível e uma crescente rede de transportes e infra-estruturas por todo o país, tornou a Irlanda um destino privilegiado para as grandes Multinacionais e agências Financeiras.

O Tigre celta mostrava pujança na sua economia, tendo sido no período de 1986-96 o membro pertencente a OCDE com maior taxa de crescimento do Produto e registando no período de 1994-1998 um crescimento do PIB de 8.8% (Fonte Eurostat 1999).

Mas então o que originou a actual crise económico-financeira pela qual o país está a passar? Bom, a resposta é simples: especulação imobiliária. A par dos EUA, também a Irlanda assistiu a uma sobrevalorização extraordinária de imóveis que não correspondia ao valor real destes. Em 2002, um apartamento no centro histórico de Dublin chegava a ser mais caro que no centro histórico de Londres. O negócio imobiliário foi lucrativo para várias pessoas e empresas até ao momento em que os imóveis deixaram de ser vendidos e os empréstimos concedidos para este tipo de actividade (que não é económica pois não gera riqueza) de ser pagos, o que levou consequentemente à falta de liquidez por parte de empresas financeiras, nomeadamente dos Bancos. Para minimizar os prejuízos estas empresas financeiras foram obrigadas a vender na bolsa, acções desvalorizadas de outros negócios que pudessem ter.

É esta falta de liquidez que será resolvida quando se injectarem os 50 mil milhões de euros que vão salvar os chamados bancos tóxicos tais como o Allied Irish, o Irish Nationwide ou o Anglo Irish, banco preferido dos promotores imobiliários que levavam a cabo a especulação imobiliária que culminou na chamada "Bolha imobiliária". E como sempre serão os contribuintes a pagar a conta das irresponsabilidades dos Bancos. E esta conta é cara. São 50 mil milhões de euros que vão pesar no bolso das famílias e vão disparar o défice orçamental de 12% para 32% do PIB (o défice mais elevado no contexto da Europa a 27).

Quando um Estado Independente fica falido de uma forma tão suei gene ris, alguma lição deve apreender. Um delas é não ter excessiva confiança nos preços do imobiliário, pois logo que os imóveis desvalorizem, a receita cai. Quanto às consequências deste desastre financeiro, elas já estão à vista, não só à vista estão como foram oficialmente enumeradas pelo ministro irlandês das Finanças, Brian Lenihan.

As contas públicas devem ser postas em ordem, e como infelizmente a Irlanda não goza da mesma sorte que o seu vizinho Reino Unido, não pode desvalorizar a moeda, o que quer dizer que deve seguir as ordens do FMI: cortes radicais na despesa pública a par dos PIGS (Portugal, Ireland, Greece, Spain). Há alguns dias foi apresentado o PEC irlandês que tem como objectivo a qualquer custo, a diminuição dos actuais 32% de défice para 3% em 2014, crescimento económico sustentados nas exportações e mais cortes na despesa pública. Adivinham-se dias difíceis para os irlandeses, que tal como nós vão enfrentar o desemprego, cortes salariais, aumento de impostos, aumento da carga horária de trabalho, aumentos dos encargos com a saúde, transportes e educação, como uma realidade de um novo período, não de recuperação económica mas sim de retracção.

Mais uma vez por uns pagam outros, os responsáveis pelos irresponsáveis, os justos pelos injustos. Até quando? Parece que o tigre celta adormeceu.

Reinaldo Miranda 

 

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