Movimento estudantil: Desde o fio condutor à acção concreta Versão para impressão
Segunda, 20 Setembro 2010
Um grupo de alunos, no dia 14 deste mês, através de uma acção directa, interrompeu a sessão onde Sócrates e Mariano Gago marcavam presença, para intervir.

Artigo de Nuno Moniz

A sobrevivência dum movimento político prende-se em grande parte pela sua capacidade de disputar poder e força social, tanto no confronto directo com os detentores de maior poder como no confronto indirecto. A capacidade de um movimento fazer essa disputa define, em grande parte, as condições que esse escreve para si próprio no sentido do seu aumento, em número, em politização e subsequentemente, em acção.

 

Serão variadas as razões para o esmorecimento do movimento estudantil em Portugal, desde as grandes disputas sociais dos anos 90. Desde a crescente elitização do Ensino Superior, dando inevitavelmente numa crescente elitização e distanciamento entre os alunos e os seus ditos representantes junto do poder; até à perda de noção histórica do que está para trás, logo, perdendo um fio condutor de lutas e de história que compromete a perspectiva do que atrás (não muito) se passou, explicando em grande parte o presente.

 

Um dos grandes problemas em fazer emergir movimento estudantil é também o facto do Ensino Superior se ter alterado na sua base, tornando-se muito mais um fábrica e um poiso para uns supostos 400 mil receptáculos acríticos, do que um lugar de aprendizagem de pensamento e de questionamento. O facto de Bolonha alterar a configuração dos cursos e também o seu custo faz com que imensos estudantes apenas fiquem 3 anos no Ensino Superior.

 

A questão que se prende desde a implementação de Bolonha, e até antes embora de modo diferente, é uma questão de politização dos estudantes e, mais ainda, a capacidade de auto-politização do movimento e as várias formas de o fazer. Estando por terra a ideia pseudo-vanguardista de uma solução para um problema, abrem-se “todas” as opções para encetar uma grande disputa política para uma mudança radical no Ensino Superior. Se essa for a opção.

 

Um grupo de alunos, no dia 14 deste mês, através de uma acção directa interrompeu a sessão onde Sócrates e Mariano Gago marcavam presença, para intervir. A acção vale muito pelo simples facto de que foi respondida, porque do outro lado da barricada houve a necessidade de o fazer [1]. A nossa luta aumenta sempre que o poder responde, pelo simples facto que nós sabemos que o poder não quer mudar o estado do Ensino Superior. A radicalidade, ou não, aplicada na acção nunca pode perder de vista o objectivo desejado, previamente discutido. Esta ideia não-nova é alvo de pouca prática, ou talvez, de muita nebulosidade, quando analisados os últimos feitos do movimento estudantil.

 

A resposta do poder, quando enfrentado, neste caso de Mariano Gago, deixa-nos a todos e todas com muito mais alento e vontade para aumentar a base do movimento estudantil e ir perguntar-lhe directamente, “Sr. Ministro, acha mesmo que as propinas são hoje em dia inofensivas?”. Passo a passo, façamos isso então, se assim escolhermos.

 

Nota do editor: 

1 - Vídeo da notícia da acção referida no texto pode ser visto em http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/noticias-pais/2010/9/grupo-de-estudantes-do-porto-interrompeu-cerimonia-onde-estava-socrates14-09-2010-204626.htm

 

A Comuna 33 e 34

A Comuna 34 capa

A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil"EditorialISSUUPDF

 capa A Comuna 33 Feminismo em Acao

A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação"ISSUU | PDF | Revistas anteriores

 

Karl Marx

 

 
 

Pesquisa


Newsletter A Comuna