Porquê não nos mexemos bem? Versão para impressão
Terça, 21 Setembro 2010

O movimento estudantil tem marcado nos últimos tempos algumas épocas de convulsão em diferentes partes do dito “mundo civilizado ocidental” e até noutras paragens (Tiananmen 1989).

Artigo de Alex Gomes

Infelizmente, têm sido períodos efémeros sem grandes influências a nível de transformações sociais, onde arrisco a comparar o famoso Maio de 68 às lutas portuguesas contra as propinas de 1992.

Foram marcantes e, especialmente no caso do Maio de 68, influenciaram revoltas por quase todo o mundo, mas nunca revoluções (derrubar um governo não é a mesma coisa que constituir uma alternativa a ele) e acabaram por culminar num regresso ao amorfismo habitual.

Importa esclarecer que este amorfismo não é uma característica específica dos estudantes, mas sim da sociedade no seu todo. Se “os jovens não querem saber da política”, pergunto que classe etária se interessa pelo exercício da cidadania?

Em termos de falta de movimento social, também não parece que o movimento de trabalhadores, feminista, imigrante, etc... esteja em condições de exigir grande coisa ao poder político.

A falta de vitórias do movimento estudantil (seja ele associativo ou não) tem sido, também, o motivo do fracasso deste movimento. É preciso refletirmos sobre o que leva a estas derrotas.

Até porque, de fato, são justas as expetativas criadas aos estudantes, afinal de contas somos nós o futuro.

Em Portugal, tivemos picos de contestação das vezes que o neo-liberalismo atacou não só os bolsos das classes mais desfavorecidas como da classe média: Implantação das propinas em 1992 e seu consequente aumento em 2004. As derrotas dos movimentos que se insurgiram contra estas medidas sofreram pela subsequente elitização dos estudantes do Ensino Superior Público* (ESP*), tão anunciada e tão bem cumprida. Hoje os estudantes do ESP* têm que ter condições para o frequentar. Ou são sustentados pelos agregados, ou pelo seu próprio salário, ou por empréstimos, ou por uma combinação destes. E isto é importante porque retira disponibilidade aos estudantes de participarem na vida política académica.

Para além disto há a implementação de Bolonha e a perda de um ano na maior parte das licenciaturas. Apesar de constituir um decréscimo de qualidade, não parece determinante para explicar a falta de mobilização dos estudantes do ESP*. Assim como os cortes na participação dos estudantes nos órgãos de gestão das instituições do ESP*, visto que já anteriormente esta participação era, na prática, nula ou com boa vontade, insuficiente.

A pedra de toque reside justamente em quem nos representa no movimento associativo estudantil. Sim, porque representam-nos e sim, são eleitos “democraticamente”. Se são representativos? Não são.

Antes de mais nada há corrupção, listas financiadas quando não diretamente pelas direções cessantes, por empresas ou partidos que orbitam à sua volta.

Existem interesses partidários, pois quando há uma conjugação de fatores que levam há haver uma maioria de Direções de Associações de Estudantes do PSD e o governo for PS há maiores probabilidades de haver contestação e vice-versa. Nada contra os estudantes serem militantes ou afectos aos partidos, mas sim contra tornarem-se correias de transmissão dos mesmos. Aliás, mais valia assumirem-se, como em outros países em que as listas candidatas são maioritariamente afetas a um partido ou a outro. Se é essa a realidade (e é) não vale a pena negarmos.

Portanto antes de mais, torna-se essencial aos estudantes de esquerda unirem-se, abandonarem sectarismos que muitas vezes são recíprocos (em Portugal entre BE e PCP), criarem plataformas abrangentes e investirem em candidaturas sérias e consistentes não apenas para marcar posição, mas para ganharem as direções das AE's e constituírem-se como representantes de pleno direito dos seus colegas. Na defesa do Ensino Superior Público, Gratuito e de Qualidade – um chavão que não vai perder premência nos próximos tempos e condição essencial para constituir alternativas às atuais dificuldades e às próximas que se avizinham.

É essencial agora mais que nunca, haver contestação estudantil contra as políticas que cortam nos serviços públicos e aumentam o fosso entre ricos e pobres, crise para uns e não para outros. É preciso plantar para colher.

* O asterisco justifica-se porque para um serviço ser realmente Público necessita de ser acessível a todos e todas que dele queiram usufruir, algo que em Portugal não é respeitado ao contrário do que está teoricamente garantido na nossa Constituição.
 

A Comuna 33 e 34

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