Uma Europa cadente ou decadente? Versão para impressão
Domingo, 12 Setembro 2010

Acredito num projecto europeu que confira a cadência de uma política de união e partilha entre povos, ao invés de uma Europa imposta e mercantilizada por uma globalização de interesses. Não aceito uma Europa decadente e manipulada por um grupo de governantes apostados no capitalismo de casino, baseada na economia especulativa. Exijo uma Europa democrática, baseada numa economia sustentável e honesta. Uma Europa que aposte na cultura e na defesa do meio ambiente assente nos valores humanos e no apoio social.

Assistimos às medidas de força da Alemanha que faz uso da posição de destaque que lhe é atribuída nos tratados. Estes tratados, como o de Lisboa, têm-se revelado inúteis; quando rebentou a crise o Tratado de Lisboa mostrou-se um fracasso. Os tratados, têm sido autênticos ensaios de hipocrisia e incompetência. Urge, por isso, um projecto europeu sério que passe, sem dúvida, por uma alternativa ao modelo neoliberal da direita instalada na União Europeia. Exige-se um projecto para os europeus que sirva de referência, não para impor a cultura europeia, mas como uma afirmação de uma Europa plural e inclusiva. Esta estratégia passa significativamente pelo modelo económico que condiciona todas as áreas e é aqui que têm estado assentes as várias crises europeias.

Paul Krugman tem alertado para a falácia das medidas contra a crise. O Prémio Nobel da Economia garante que a Europa está a ser destruída pelas políticas que agravam o desemprego. O resultado tem sido uma Europa "asiatizada" em matéria laboral e com crescentes ondas de xenofobia, como assistimos com mais visibilidade na França de Sarkozy. As investidas das agências de rating atingiram sobretudo o coração de Atenas, desencadeando uma onda de protestos. Os Gregos acusam o desespero e a depressão colectiva, provocada pelas medidas draconianas do governo grego, refém das políticas económicas do Euro e do FMI. Enquanto isso, assiste-se ao "assobiar para o lado" e o acompanhamento tímido dos restantes países. A Europa está refém do G2. Os EUA e a China, têm a Europa nas mãos por não termos uma política económica capaz e por estarmos ajoelhados à NATO. A Europa, e em particular Portugal, devia sair da NATO.

Paradoxalmente, mas pela via do populismo, a extrema-direita, semeando o ódio social, tira dividendos e consegue crescer neste cenário crítico. A Europa Social Democrata, com os Partidos (ditos) Socialistas também convertidos, começa a perder o controlo da situação, onde o Tratado de Lisboa não passa de um inútil exercício de ambiguidades.

Nunca foi tão oportuno, nem tão necessário transmitir às populações que o capitalismo gera desigualdades e injustiças, que para sobreviver usa a ganância, a exploração e a sua ferocidade para atingir os fins. Também é importante que as populações percebam, que existem outras alternativas, e que, essas alternativas, por razões óbvias são combatidas com todos os meios de que as elites dispõem. Chamar a atenção para estas realidades políticas, é talvez o maior exercício que se impõe e isso implica um discurso distinto e uma postura pragmática.

É necessário um modelo político que seja entendido como credível e exequível. Dada a conjectura em que nos situamos, os modelos não capitalistas não são tidos em conta como governativos. E o pior, é que a falta de preparação das populações para estas realidades leva a que tudo isto pareça um novelo emaranhado. A direita consegue tirar partido das suas debilidades e consegue convencer as pessoas, através do seu populismo de política barata e demagoga, de que devemos ter uma atitude umbilical.

Estamos perante uma ofensiva de terrorismo social. Este terrorismo atinge cirurgicamente o emprego, e quem detém o poder sabe a importância e o papel que o trabalho representa na sociedade. Ninguém sobrevive sem uma fonte de rendimento ou, no mínimo, apoio social. Em ambos os casos, os governos neoliberais atacam sem piedade semeando o terror social. Desta forma, tem crescido o trabalho precário, permitindo aos patrões "escravizar" os trabalhadores e inibir muitos dos que querem simplesmente lutar pelos seus direitos.

Não foi surpresa nenhuma assistir ao fracasso das medidas de combate à crise. Aqueles que a provocaram estão novamente na ofensiva. Os governos e a União Europeia, subjugados à Banca Internacional cuidaram dos banqueiros sacrificando o dinheiro dos contribuintes. Agora, assistimos ao segundo assalto comandado pelas agências de rating. Estas, considerando as dez mais importantes, lucraram em 2009, 18 mil milhões de euros.

O momento actual é decisivo e temos de confrontar os defensores do capitalismo e responsabilizá-los pelos falhanços económicos e sociais. Então, qual foi o resultado das medidas contra a crise? Tratou-se de mais uma mentira de Obama, Angela Merkel, Barroso, Sócrates e companhia quando garantiam o fim dos paraísos fiscais. Em Portugal, no primeiro semestre de 2010, em fugas de capitais, já escaparam impunemente 1,2 mil milhões de euros para offshore.

Os europeus que estão a ser sacrificados e muito por culpa de não termos uma Comissão Europeia competente. Durão Barroso e a sua equipa continuam a revelar falta de capacidade e o tratado de Lisboa é um rotundo falhanço. O Euro e a própria Europa estão sob ameaça, refém do seu modelo neoliberal.

Agora, são os europeus e os portugueses que devem questionar e decidirem que modelo político querem afinal. Porque será que a OCDE elogiou o PEC português? Porque será que convidaram Victor Constâncio para fazer o que não soube fazer em Portugal? Uma deputada luxemburguesa disse, que é como dar dinamite a um pirómano. Para sermos realistas, a recuperação económica internacional é um embuste e só ganha quem se aproveita da crise para explorar ainda mais.

Os Offshore aí estão intocáveis e os contribuintes mais sobrecarregados, onde é que está a justiça social? Sócrates e Barroso no nacional porreirismo! No discurso do Estado da União, Durão Barroso, continua a ser o porta-voz do surrealismo económico. E sem condenar as atitudes xenófobas da França vai dizendo com a hipocrisia habitual, a Europa respeita as pessoas… Extraordinário foi ouvir ainda o Presidente da C.E. dizer: "se não remarmos no mesmo sentido, acabaremos por nos afundar um a um." A realidade mostra-nos que neste sentido vamos todos ao fundo de uma vez só. Torna-se por isso imperativo, uma política económica que vise a sustentabilidade dos povos e da natureza. Ao contrário a União Europeia quer uma política económica asfixiante e "controleira" ao sabor dos mercados financeiros que espreitam através da especulação e do juro grosseiro. A recente medida de controlo dos orçamentos de estado são o melhor exemplo da manipulação da nova vaga neoliberal.

A Europa, nunca pode ser a Europa de um Barroso que mente ou se cala para agradar aos G2, G8, G20, ou até ao Grupo de Bilderberg – "Nova Ordem". A Europa não pode ser a de Angela Merkel, Silvio Berlusconi, Nicolas Sarkozy ou Durão Barroso. A ganância, a arrogância, a intolerância e a incompetência não podem fazer parte dos valores europeus. Devemos contestar sempre a Europa neoliberal que nos deixou mergulhar na crise e não tem medidas para dela sair. Falha aqui a Europa dos valores e, creio que a resposta está no facto de faltar uma cadência certa e estarmos perante uma Europa decadente.

Paulo Cardoso

 

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