Alberto João Jardim tem passado os anos desde que conseguiu ser presidente do governo regional da Madeira de mãos nos bolsos.Nos bolsos do contribuinte e nos bolsos das suas próprias calças.
Artigo de Mário Tomé
Pouco teve de fazer para além de, apoiando-se na pequena burguesia boçal madeirense, veneradora e obrigada dos colonizadores ingleses, ascender a monteiro- mor dos interesses que se consolidaram ao longo de trinta anos. A nova burguesia formada à sua sombra política instalou-se como lapa colada no rochedo insular como beneficiária sem escrúpulos do assalto sistemático aos cofres do erário público. Tomou o freio nos dentes e AJJ passou a ser o instrumento do populismo que transformou a democracia e a autonomia numa farsa absoluta. O populismo da AJJ e seus mandantes actuais, nasceu e cresceu graças à pusilanimidade da esquerda em geral e à cobardia do PS, do PSD e dos sucessivos presidentes da República. É ver gente que quer passar por digna, como Guilherme Silva e outros deputados madeirenses na Assembleia da República, assistir, em pano de fundo de camisola laranja, com ar comprometido e vendido mas sem vergonha, às imbecilidades, insultos e infâmias desbocadas da AJJ na actual campanha eleitoral. AJJ passou a ser uma referência e um símbolo a quem se tornou politicamente aconselhável prestar homenagem se se queria entrar na Madeira. Em todas as eleições regionais, altas figuras do PS, estivesse ou não no Governo, iam à Madeira fazer campanha pelo seu partido mas nunca se esqueciam de deixar clara a admiração que nutriam pelo bom governo da Madeira sabendo, como não podia deixar de ser, a calamidade que representavam as contas e o défice cuja importância e gravidade eles próprios contribuíam para ocultar Jaime Gama num radicalizar da cretinice parlamentar chegou a chamar-lhe Bokassa. Exactamente na mesma altura em que a RTP dava todas as semanas durante mais de um ano, em 1992, um debate entre Alberto João e Almeida Santos uma figura de referência da social-democracia falida do PS. Almeida Santos serviu de apoio pseudo-ingénuo, na RTP, à mais descarada propaganda de AJJ e à desculpabilização moral e ideológica das suas infâmias. Foi patético assistir à reverente atitude de Almeida Santos perante as tropelias de AJJ só possíveis num ser sem carácter, que tão depressa se dizia fascista como comunista, numa demonstração de desrespeito total pelo seu opositor (?) como pelos espectadores. Tudo e o seu contrário desde que lhe assegurasse manter a tensão populista reaccionária, xenófoba e provocadora. Aqueles debates lembraram-me um a que assisti, pesaroso, entre José Manuel Tengarrinha historiador admirado, lutador anti-fascista, fundador e presidente do MDP-CDE, deputado prestigiado e o pide Rosa Casaco: um democrata a enfrentar um verme sem qualquer responsabilidade social e cívica que podia dar-se ao luxo de dizer tudo o que lhe apetecesse pois não haveria moral ou ética com que se lhe pudesse acenar. AJJ recebeu com o maior descaramento um par de Bothas, os irmãos Botha, o primeiro ministro e o ministro da defesa do Appartheid, um paris sinistro responsável pelo racismo exacerbado e assassino da África do Sul de então. Um regime contra o qual Portugal subscrevera as sanções decretadas pela ONU. Um regime execrado pela comunidade internacional. AJJ recebeu-os em festa, em território nacional, a Madeira, sem um sussurro de reprovação do governo ou do Presidente da República. A esquerda em geral é responsável por AJJ ter tomado as rédeas na Madeira. Atada por complexos pseudo patrióticos, acuada pelas ameaças de independência lançadas contra as transformações democráticas do PREC, à excepção da UDP/Madeira que se lançou ousadamente para o seio do movimento dos caseiros, das bordadeiras, da luta operária e soube uní-la sem complexos à luta pela autonomia, permitiu que o MFA desse espaço de manobra à FLAMA bombista , a AJJ e aos celerados que se tornaram donos da Madeira. A actual situação não pode surpreender ninguém; a única surpresa é que alguém esteja surpreendido, como disse o editor de política da RTP. AJJ está desesperadamente a querer mostrar que ainda tem utilidade para os seus antigos capangas e actuais patrões. Não podemos fazer vaticínios. Mas se esta campanha puder mostrar que AJJ já não tem o apoio do «continente» para continuar a manter milhares de madeirenses presos pela boca, talvez haja novidade. De qualquer forma, acho que é preciso ter claro que qualquer acção contra o status quo madeirense, com ou sem alteração do quadro político, contra os interesses instalados por aquela rede mafiosa, exigirá meios extraordinários de investigação e de acção. As bombas ainda são dos mesmos e eles devem-nas ter guardado.
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