Syriza quer dizer futuro |
Quinta, 10 Maio 2012 | |||
Depois de mil sacrifícios, mil frases de chantagem construídas em torno da salvação nacional, depois de mil planos de austeridade e com mais um na gaveta, o povo grego decidiu escolher a libertação. A votação pulverizada não pode dar aso a interpretações muito diferentes daquelas feitas por Alexis Tsipras: as pessoas não querem mais os partidos da troika e da barbárie, optaram com estrondo pela alternativa, ainda que outros esforçassem tanto a garganta para dizer que não havia alternativa. Mas havia, como há sempre! A Grécia só não tem já um novo governo anti-troika porque um sistema eleitoral absurdo decide dar de bónus 50 deputados ao partido mais votado. Se houvesse democracia no sistema eleitoral, a esquerda anti-troika poderia, previsivelmente, estar já a colocar em marcha o que a população expressou nas urnas como desejo: o fim da austeridade! Mas o revés é apenas parte do caminho e o que o Syriza mostra é que há caminho. Façamo-lo! A coligação de esquerda Syriza resistiu a cisões à sua esquerda e à sua direita. Construiu firmeza, coerência e confiança com a população; não enquistou nas derivas de radicalismo infantil que levam ao isolamento e ao tamanho microscópico da resposta; nem foi nos que a todo o momento tentam seduzir com charneira que os levará a um governo PS para praticar a austeridadezinha soft. Syriza tinha razão e construi-se anti-troika, mas com a resposta de uma onda enorme que quer governar pelas pessoas. As cisões à sua esquerda e à sua direita terão as suas lições a tirar! O mesmo a dizer sobre os Verdes. Ecologia casada com capitalismo parece resultar sempre no divórcio com a população, seja na França, seja na Grécia; estaremos para ver na Alemanha. Agora a luta é com a chantagem. Por um lado, a chantagem aflita da direita grega e do PASOK, a coligação que construiu o abismo onde a Grécia caiu; por outro lado, a chantagem da agiotagem da banca e dos mercados que tanta especulação e dinheiro têm feito à custa da vida dos gregos. Dizem que um governo dessa esquerda radical seria a instabilidade, a confusão e o abismo. Pois não há outra coisa que a Nova Democracia e o PASOK tenham feito na Grécia para além de instabilidade, confusão e abismo! Assim como os PS's e PSD's dessa Europa. Dizem que um governo dessa esquerda radical seria o fim da Grécia na Europa, mas o Syriza é europeísta, ao contrário daqueles que quebraram com a solidariedade entre os países da Europa, que os colocaram à mercê do estrupo financeiro do FMI e que retomam o caminho do confronto de nações em vez do caminho da solidariedade dos povos. A resposta de esquerda é europeia e solidária; a voz da direita é a da humilhação do protetorado, da subjugação à banca. Dizem que o caminho dessa esquerda radical é a bancarrota. Mas a bancarrota é o que a esquerda corajosa do Syriza quer combater começando pelo combate à corrupção e à dívida ilegítima. As pessoas, na Grécia como em Portugal, não viveram acima das suas possibilidades, mas houve quem tivesse vivido acima das possibilidades de todos. A esquerda anti-troika não aceita pagar as faturas dos negócios de promiscuidade política, nem aceita pagar dívida privada, nem aceita pagar as contas da corrupção. E isso assusta, não é? Assusta quem teve responsabilidades nessa bancarrota. Assusta os mercados, casa de especuladores. Assusta o capitalismo que se quer recompor com base no esmagamento do valor do trabalho e com o fim das contratações coletivas ou mesmo do vínculo laboral. Mas liberta a Grécia! Não assusta nem deve assustar a população. Essa terá que ser salva da austeridade. Por isso, o Syriza não aceita cortes nos salários nem nas pensões, não aceita a roda-livre da banca agiota, não aceita a continuação da corrupção e do rentismo proporcionado pelo Estado. Quer a auditoria à dívida ilegítima, exige o fim da austeridade e o início de novas políticas europeias: que sejam sociais e de solidariedade. Isto assusta? Só para quem teme perder o poder. Que o perca já! Até Mário Soares enviou aviso à sua navegação: PS e austeridade resulta em desaparecimento. A Grécia prova mais do que isso: é à esquerda do PS que está a esquerda que conta e que combate. É contra a troika, contra a austeridade e recolheu mais votos e mais força do que um PS grego que não tem feito mais nada do que passar o carimbo para o suicídio do país. Será dificil prever o que acontecerá nos próximos dias, mas uma coisa é certa, se há início, há caminho! Syriza é futuro. É início de um novo caminho. Moisés Ferreira
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A Comuna 33 e 34
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