A LIÇÃO DE SÓCRATES, O GREGO Versão para impressão
Quarta, 16 Maio 2012

socrates4601“Eu não minto, não engano, não ludibrio”... há é “um padrão estranho de desemprego que se deve a elementos de rigidez que estão a dificultar ainda mais o ajustamento do mercado laboral”...e me desacerta as contas -  soletra indignado Vítor Gaspar,  ao ser acusado pela esquerda parlamentar de esconder dos portugueses os números do desemprego.

Artigo de Carlos Vieira e Castro

“Fui mal interpretado. Perder o emprego pode ser uma oportunidade, tal como ter um acidente de automóvel pode ser uma oportunidade... de voar, se não usar cinto de segurança. Por isso mesmo é que estamos a reduzir o subsídio de desemprego,  para favorecer os voos empreendedores” -  esclarece Passos Coelho.

Paulo Portas, com ar de ministro de culto, sossega-nos: “Vêem, Portugal não é a Grécia, nós não hesitamos  a cumprir os mandamentos da Troika. Se fossemos a Grécia eu tinha comprado 4 submarinos à Alemanha, em vez de 2, e o Jacinto Leite Capelo Rego já tinha depositado mais uns donativosinhos na conta do PP”.

Depois de ver a vitória de Hollande, Seguro empolga-se para as câmaras: “Segurem-me, senão vou-me a eles!” E foi. Obrigou os deputados do PS a absterem-se violentamente na votação global do Código Laboral. Nove refractários votaram contra e, a pensar neles, Seguro acusa o governo de “ruptura democrática” e de infidelidade com Merkel. Mário Soares bem apelou a Seguro para romper com a Troika, mas ele resiste e canta “Não me obriguem a ir para a rua gritar/ que agora é tempo do Tratado Orçamental aprovar”.

Merkel, inquieta com as perdas de votos nas eleições estaduais, adia a ratificação alemã do Tratado Orçamental e deixa o pobre Seguro sozinho com Passos, Portas e os dirigentes gregos do bloco central que levaram uma abada nas eleições do passado dia 6.

É o caos na Grécia, dizem os jornais e as TVs. O Bloco lá do sítio, a Esquerda Radical, ficou em segundo e se as eleições fossem hoje, ganhavam. O que vale, dizem, é que o Syriza, por ser coligação, se ganhasse não poderia beneficiar da lei que o PS e o PSD lá do sítio aprovaram para terem sempre maioria, que dá de bandeja 50 deputados a mais para o partido mais votado. Os gregos antigos inventaram a democracia (excluindo  escravos e estrangeiros) mas os gregos modernos reinventaram-na... (excluindo o voto).

Foi contra o caos provocado pela austeridade, contra a ditadura da dívida, contra a “escravatura do regime totalitário dos partidos que têm um poder absolutizado”, nas palavras do filósofo Christos Yannaras (Público, 6.05.2012) que os gregos se rebelaram.  Para não acabarem todos como Dimitris Christoulas, o farmacêutico reformado, de 77 anos, que se suicidou com um tiro na cabeça, porque não queria deixar dívidas ao filho, nem acabar a catar comida no  lixo, por lhe terem cortado a reforma.  Deixou uma mensagem aos jovens gregos para lutarem contra a ocupação do seu país. E os gregos viraram o voto do avesso. Na mitologia grega, no início era o Caos (o Big-Bang?), que criou e possuiu a deusa noite e dela nasceram os homens e os outros deuses, o dia e a luz.

Há 2500 anos, Sócrates, o filósofo afável, simples, amigo dos homens e defensor da igualdade das mulheres, que recusava honrarias e defendia o trabalho manual - que Platão e Aristóteles classificavam como próprio de escravos, o que levaria à morte da experimentação e da ciência que os Jónios desenvolveram 600 anos antes de Cristo, até ao (seu)  Renascimento, mil anos depois – , que tinha por  principal preocupação ensinar os homens a pensar (“Conhece-te a ti mesmo”) , para não se deixarem manipular pelos sofistas, advogados da corrupção,  foi acusado de corromper os jovens e desrespeitar os deuses da cidade. Condenado à morte, numa farsa jurídico-política, preferiu beber a cicuta a beneficiar do desterro a que poderia recorrer, ou da fuga que os amigos prepararam, para não dar sinais de cobardia ou de reconhecimento de culpa. Dizem que aproveitou o tempo até à execução para aprender a tocar flauta. Um radical!
Hoje, acusam o Syriza de ser anti-europeísta e de querer que a Grécia saia do euro. Mas a esquerda socialista e radical não quer a Grécia fora do euro. Só não quer que os gregos sejam os novos escravos da Europa. Os gregos estão radicalmente fartos da austeridade radical e da ditadura radical dos mercados financeiros, tal como os povos de Espanha que gritaram a sua “indignação” em 80 cidades, os italianos que cilindraram o partido de Berlusconi e os franceses que se livraram do xenófobo Zarkozy, o “Ambrósio” de Merkel. E como poderia a Grécia separar-se da Europa se foi Agenor, filho de Posseidon, que gerou a Europa na Fenícia, onde Zeus lhe apareceu na praia como um touro, antes de a amar como um homem?

 

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