Ucrânia: a UE não está a prometer a lua aos manifestantes ... apenas a Grécia Versão para impressão

viktor-yanukovich-ukraine-russia-euNo longo prazo, os países da UE esperam tirar proveito da atual situação débil da Ucrânia a fim de impor o Acordo de Associação que poderá acelerar a desintegração da economia da Ucrânia.

 

Artigo de Gaël De Santis

 

Considerando os enormes problemas económicos do país, vários ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia estão a prometer ajudar a Ucrânia a obter um empréstimo do FMI.

A União Europeia (UE) tem querido aproximar-se dos manifestantes que exigem mudança na Ucrânia. Mas vai cumprir as suas promessas nos próximos meses? A questão é urgente. No dia 21 de novembro, quando o presidente Viktor Yanukovich virou as costas à UE, a fim de juntar-se à união aduaneira da Rússia, ele fez segredo de que sua escolha foi motivada pela situação catastrófica das finanças de seu país. Em 17 de dezembro, a Rússia ofereceu uma tábua de salvação: um empréstimo de 15 mil milhões de dólares e uma redução nos preços do gás. Três mil milhões de dólares foram desembolsados no final de dezembro. Outros dois mil milhões deveriam ter sido entregues em janeiro, mas Moscovo preferiu aguardar um retorno à calma.

Sobre esta matéria, o que Bruxelas propõe? Nada, a não ser que conte os 610 milhões de euros planeados para 2012, se Kiev assinasse um acordo de associação com a UE. Para a emergência, os europeus parecem ter reservado o mesmo destino da Grécia para os ucranianos, convocando o Fundo Monetário Internacional (FMI). No sábado, o secretário dos Negócios Estrangeiros britânico, William Hague, revelou um acordo com o seu homólogo alemão, Frank-Walter Steinmeister para "pressionar para a assistência financeira vital do FMI".

Na sexta-feira, a Standard & Poors baixou a notação da Ucrânia para CCC, uma pontuação perto do default. Kiev deve pagar 13 bilhões de dólares em 2014. Sem a ajuda da Rússia, esta é uma tarefa impossível. Os títulos de curto prazo estão a ser negociados a uma taxa proibitiva de 34,5 por cento, em comparação com 5 por cento há cinco meses. E isso é, sem levar em conta a moeda, a hryvnia, que perdeu 10 por cento do seu valor. As reservas de moeda da Ucrânia vão durar apenas dois meses, de acordo com Thomas Baumann da Associação Alemã das Câmaras de Comércio. Se o FMI oferece a Ucrânia um empréstimo, será ao preço de reformas estruturais liberais.

No longo prazo, os países da UE esperam tirar proveito da atual situação débil da Ucrânia a fim de impor o acordo de associação UE que Yanukovich se recusou a assinar, em novembro. "Eu acredito que, sim, eles vão assinar este acordo," congratulou-se o comissário de Comércio da UE, Karel De Gucht, ontem - enquanto a Lituânia pedia "uma assinatura sem demora".

No entanto, este acordo poderia acelerar a desintegração da Ucrânia. É essencialmente um tratado de livre comércio que empurra Kiev para assumir grandes quantidades de legislação da UE. Assim que a Ucrânia adotar as diretivas europeias, 99 por cento das tarifas alfandegárias cairão. Este modelo teve um efeito catastrófico para países como a Tunísia antes da Primavera Árabe. Para sobreviver, a indústria ucraniana teria de se tornar tão competitiva como a da UE. Isso está longe de ser o caso. Indústria do país está situado em sua maior parte, no leste de língua russa do país e é orientada para Moscovo. Desde 2004, as exportações para a Rússia subiram 58 por cento, observa o economista Jacques Sapri no seu blog. A Ucrânia precisa de orientar-se quer para o Oeste quer para Leste, a fim de desenvolver a sua economia - um facto que os líderes europeus não se devem esquecer, ou então correm o risco de brincar com fogo.

 

Ver também: POLÉMICA UCRÂNIA

 

Artigo de Gaël De Santis

publicado em L'Humanité, 24 de fevereiro de 2014 (francês|inglês)

e traduzido por Bruno Góis para A Comuna

imagem: Carlos Latuff, latuffcartoons.wordpress.com

 

 

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